Incêndio depende do vento
Pedro J. Bondaczuk
O conflito do Golfo
Pérsico, pelas dimensões que vem assumindo, tende a envolver novos países no
confronto, como aliás aconteceu na Segunda Guerra Mundial, que começou com
poucos oponentes e que no final, se não contou com a totalidade das nações
participando, teve representantes de todos os continentes e regiões em armas.
O
próximo a entrar na luta deve ser a Turquia, pelo fato de estar cedendo bases
às forças aliadas para ataques aéreos ao Iraque. Por serem membros da
Organização do Tratado do Atlântico Norte, os turcos, caso se envolvam,
arrastarão consigo os outros parceiros da aliança atlântica que ainda não se
engajaram no confronto.
O
Japão, ao enviar aviões militares para o Golfo, apesar do seu governo estar
garantindo que eles serão utilizados apenas para a remoção de refugiados da
zona, tecnicamente está entrando na guerra. O governo iraquiano, através de seu
embaixador em Tóquio, comunicou, na quarta-feira, isto às autoridades
japonesas.
O
Irã, por outro lado, pela sua própria posição geográfica, não conseguirá
sustentar por muito tempo sua neutralidade. Esta vem sendo assegurada pelo
presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, um moderado pragmático, com postura se
não simpática, pelo menos não muito hostil ao Ocidente.
Todavia,
os radicais do clero xiita, que são maioria, já apregoam uma “guerra santa” aos
ocidentais, em especial aos Estados Unidos e seus clamores se tornaram mais
intensos depois que circularam notícias sobre ataques a um santuário onde está
o túmulo de Hussein, o mártir da seita, cultuado como uma espécie de santo
padroeiro pelos seus seguidores.
A
despeito de iranianos e iraquianos terem travado uma longa e sangrenta guerra,
de oito anos de duração, que vai deixar ressentimentos por décadas, interesses
comuns tendem mais a aproximar os dois países do que as rixas a os separar.
Caso
o Irã entre no conflito, bem como a Turquia, a União Soviética ficará exposta.
Afinal, a superpotência do Leste tem uma extensíssima, e em geral tensa,
fronteira com essas duas nações. Estaria aí completado o cenário trágico
tendente a pôr em risco toda a humanidade.
Se
esses desdobramentos – mais prováveis do que os políticos e estrategistas
admitem, e eles já fizeram e falaram muita bobagem desde o início da crise –
realmente se verificarem, o mundo estará tecnicamente envolvido na Terceira
Guerra Mundial. O fogo já foi posto no capinzal seco. O tamanho do incêndio
passa a depender agora somente da direção dos ventos.
(Artigo
publicado na página 18, A Guerra no Golfo, do Correio Popular, em 27 de janeiro
de 1991).
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