Mercado sabe auto-regular-se
Pedro J. Bondaczuk
Os
países do Leste europeu, mais especificamente a União Soviética, estão
descobrindo, com muito tempo de atraso, aquilo que sempre foi o óbvio no
Ocidente: que nenhuma economia é viável se não adotar as inflexíveis leis
naturais de mercado. Por isso, o processo de reversão pelo qual terão que
passar será penoso e cheio de sobressaltos, produzindo, nos primeiros estágios,
surtos inflacionários que terão que ser arcados pela sociedade. A grande dificuldade
vai ser (como foi na China, por exemplo, que tentou essa conversão e teve que
retroceder, dada a falta de pulso de seus dirigentes) convencer a população da
necessidade de cortes de subsídios nos preços dos gêneros essenciais. A onda de
descontentamento, com certeza, será enorme. Não adianta ficar se mascarando uma
inflação indefinidamente, mediante emissões maciças de moeda que, obviamente,
já nasce desvalorizada. O déficit orçamentário de Moscou, em 1989, foi de US$
192 bilhões.
A
União Soviética usou esse expediente durante cerca de 70 anos. Hoje as suas
autoridades estão percebendo a insensatez de tal procedimento. Já foram
tentadas milhares de fórmulas alternativas para manter preços bem comportados,
mas nenhuma funcionou. A conclusão óbvia, de que a lei natural da oferta e da
procura é o único mecanismo eficaz, se impõe por si própria. Enquanto os
soviéticos aprendem essa dura lição e se preparam para enfrentar as agruras da
reversão, na nossa pobre e descontrolada América Latina ainda há políticos que
falam seriamente em adotar fórmulas diametralmente opostas. Apregoam a
socialização da miséria, com um Estado onipresente e todo-poderoso, perdulário
e ineficaz, em detrimento de quem realmente é eficiente e produz.
O
estatismo, ao contrário do que se apregoa, ao invés de promover uma
distribuição equitativa de renda, gera, na verdade, um enorme
concentracionismo. Os apaniguados dos poderosos de plantão têm todas as
facilidades, sejam eles produtivos ou não. Isso desestimula a produtividade, o
trabalho competente e compenetrado, por falta de uma recompensa para aquele que
produz. Basta que se observe, por exemplo, o que acontece na União Soviética
atual, cujos produtos são de péssima qualidade.
Chega
a ser contraditório o fato desse país ser uma superpotência no plano militar e
uma nação subdesenvolvida, com cerca de 60 milhões de pessoas abaixo da linha
da pobreza, em termos econômicos. Que o presidente Mikhail Gorbachev tem muita
coragem, isto já é do conhecimento geral. O que se questiona é se ele conta com
"cacife" político suficiente para enfrentar tantas crises ao mesmo
tempo. Entre estas, a que se refere ao secessionismo de pelo menos seis de suas
Repúblicas e a que certamente virá com a reversão de uma economia planificada e
centralizada para a de mercado livre.
(Artigo
publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 11 de abril de
1990)
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