Monday, November 16, 2015

Mercado sabe auto-regular-se


Pedro J. Bondaczuk


Os países do Leste europeu, mais especificamente a União Soviética, estão descobrindo, com muito tempo de atraso, aquilo que sempre foi o óbvio no Ocidente: que nenhuma economia é viável se não adotar as inflexíveis leis naturais de mercado. Por isso, o processo de reversão pelo qual terão que passar será penoso e cheio de sobressaltos, produzindo, nos primeiros estágios, surtos inflacionários que terão que ser arcados pela sociedade. A grande dificuldade vai ser (como foi na China, por exemplo, que tentou essa conversão e teve que retroceder, dada a falta de pulso de seus dirigentes) convencer a população da necessidade de cortes de subsídios nos preços dos gêneros essenciais. A onda de descontentamento, com certeza, será enorme. Não adianta ficar se mascarando uma inflação indefinidamente, mediante emissões maciças de moeda que, obviamente, já nasce desvalorizada. O déficit orçamentário de Moscou, em 1989, foi de US$ 192 bilhões.

A União Soviética usou esse expediente durante cerca de 70 anos. Hoje as suas autoridades estão percebendo a insensatez de tal procedimento. Já foram tentadas milhares de fórmulas alternativas para manter preços bem comportados, mas nenhuma funcionou. A conclusão óbvia, de que a lei natural da oferta e da procura é o único mecanismo eficaz, se impõe por si própria. Enquanto os soviéticos aprendem essa dura lição e se preparam para enfrentar as agruras da reversão, na nossa pobre e descontrolada América Latina ainda há políticos que falam seriamente em adotar fórmulas diametralmente opostas. Apregoam a socialização da miséria, com um Estado onipresente e todo-poderoso, perdulário e ineficaz, em detrimento de quem realmente é eficiente e produz.

O estatismo, ao contrário do que se apregoa, ao invés de promover uma distribuição equitativa de renda, gera, na verdade, um enorme concentracionismo. Os apaniguados dos poderosos de plantão têm todas as facilidades, sejam eles produtivos ou não. Isso desestimula a produtividade, o trabalho competente e compenetrado, por falta de uma recompensa para aquele que produz. Basta que se observe, por exemplo, o que acontece na União Soviética atual, cujos produtos são de péssima qualidade.

Chega a ser contraditório o fato desse país ser uma superpotência no plano militar e uma nação subdesenvolvida, com cerca de 60 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, em termos econômicos. Que o presidente Mikhail Gorbachev tem muita coragem, isto já é do conhecimento geral. O que se questiona é se ele conta com "cacife" político suficiente para enfrentar tantas crises ao mesmo tempo. Entre estas, a que se refere ao secessionismo de pelo menos seis de suas Repúblicas e a que certamente virá com a reversão de uma economia planificada e centralizada para a de mercado livre.


(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 11 de abril de 1990) 

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