Destino humano nas asas
das abelhas?
Pedro
J. Bondaczuk
As abelhas estão
desaparecendo. Não me refiro ao seu desaparecimento do meu quintal, nem da
minha cidade, do meu Estado, do Brasil enfim. Estão morrendo, minguando, se
extinguindo. Estão desaparecendo do mundo todo. A continuar esse ritmo de
extinção, em no máximo uma década, esse inseto tão útil, produtivo e até
exemplar, no que diz respeito à sua “organização social” não passará de
lembrança. Aliás, nem disso. Seu desaparecimento implicará, fatalmente, quase
que de imediato, num intervalo estimado em quatro anos, também no nosso. Não
haverá, pois, quem possa lembrar que as abelhas um dia existiram. Creiam-me,
não é nenhum exagero, como pode parecer. Não se trata de delírio de algum
tresloucado catastrofista (o que não sou), longe disso. O destino da humanidade,
por estranho que pareça, está diretamente vinculado a esse frágil, laborioso e
útil (na verdade, indispensável) inseto. Está em suas asas.
Pelo menos 80% das
verduras e das frutas que nos alimentam – e aos demais animais herbívoros,
destaque-se – dependem exclusivamente da ação polinizadora das abelhas. Sem sua
atuação, não conseguem se reproduzir. Em resumo, sua extinção implicará no fim
de importantes fontes de alimentos para o homem. E, sem comida... Há uns dez
anos (pouco mais ou pouco menos), eu havia lido matéria a esse propósito, em
determinado site da internet. Na ocasião, preocupei-me, sim, com a notícia, mas
não muito. A reportagem estava incompleta. Carecia de dados que comprovassem a
extinção em marcha e entrevistas com especialistas no assunto. Em suma, era o
tipo de matéria que se passa por cima, por ser mal escrita e mal apurada.
Voltei a pensar no
tema, todavia, neste 31 de outubro de 2015, ao ouvir o programa “Você é
curioso”, na Rádio Bandeirantes de São Paulo, comandado pela dupla Marcelo
Duarte e Silvânia Alves. Claro que a informação deles não veio detalhada. Mas
foi apresentada corretamente, de forma tal a despertar-me a atenção. Resolvi
conferir o quanto havia de verdade nisso tudo e pesquisar a respeito. E...
encontrei uma infinidade de dados, detalhados e convincentes, a propósito.
Minha conclusão é que a coisa está muito mais feia do que se possa imaginar!!!
Feíssima!!!
Por exemplo, nos
Estados Unidos – que são a segunda maior potência em termos de apicultura,
abaixo, apenas, da China – cerca de 70% das populações de abelhas (de todas as
espécies, incluindo marimbondos e assemelhados) já se extinguiram. Essa
extinção em massa é tão séria, que o Congresso norte-americano teve de aprovar
um plano de emergência, como faz em tempos de guerra ou de crise econômica. A
situação na Europa não é nada melhor. Na Itália, Bélgica, Alemanha, França
etc.etc.etc. metade das abelhas já desapareceu! Na Espanha, de acordo com
boletim do Ministério da Agricultura, só entre 2004 e 2007, 3,5 bilhões de
insetos morreram.
No Brasil, a coisa não
é melhor. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) está investigando as causas da extinção e formas de
combatê-las. O fato é que nossas abelhas, inclusive as que foram “africanizadas”,
estão se extinguindo. Só no Estado de São Paulo, estima-se que em torno de 5
mil colméias do tipo ser extinguiram só neste ano. As causas da extinção são as mais diversas,
mas todas (ou quase todas) têm a ver com a ação do homem. O aquecimento global,
por exemplo, é tido como um dos maiores vilões (posto que não o único). Sabe-se
que as altas temperaturas afetam, entre outras coisas, o senso de direção das
abelhas, impedindo-as de retornem às suas colméias. Os agrotóxicos são outra
das causas. Além disso, a “varroose”, doença considerada a “Aids” desses
insetos, causada por um ácaro (o “varrooa”), vem dizimando milhões e milhões de
espécimes mundo afora.
Acresça-se a isso tudo
a ação de um pequeno e voraz escarvelho, proveniente da África do Sul, que tem
causado estragos imensos nas colméias. Originalmente, em seu habitat natural,
ele se alimentava, preferencialmente, de frutas muito maduras. Não ameaçava,
pois, as abelhas. Ao ser levado aos Estados Unidos, acidentalmente, em móveis e
artefatos de madeira, no entanto, tornou-se um desastre para a apicultura. O
presidente da União Nacional de Apicultores da Rússia, Arnold Butov, alertou:
“Este escaravelho come não só as abelhas, mas também todo o conteúdo da colmeia
– as células, os favos de mel, o mel e tudo mais. O pior é que ele pode ser
transportado não só com produtos de apicultura ou as próprias abelhas, mas
também com móveis e artigos de madeira”.
Os polinizadores são
tão importantes que 80% da alimentação humana dependem, direta ou indiretamente,
de plantas polinizadas ou beneficiadas pela polinização. Sem eles, os vegetais
dependentes não se reproduzem. Por conseqüência, as populações que deles
necessitam declinam. E a abelha produtora de mel (Apismellifera) é, disparado,
o polinizador de importância agrícola mais utilizado no mundo. É imprescindível
para a Agricultura e produção de alimentos! Como se vê, a humanidade tem,
diante de si, outro imenso perigo, outro indigesto pepino a descascar, mas... a
maioria esmagadora das pessoas sequer se dá conta. Alguns, quando informados,
não só não acreditam, como ainda ironizam, como se fosse mera anedota, o que,
óbvio, não é. Antes fosse!
Hoje de manhã, por
exemplo, ao ouvir a informação, no programa “Você é curioso”, comentei o fato
com alguém, que prefiro não identificar. Sabem o que ele me disse? “E eu com
isso! Detesto mel!!!”. Maldita ignorância!!! Albert Einstein, questionado a
respeito, no início da década de 50 do século passado, quando a extinção desses
utilíssimos insetos não passava de remotíssima e improvável hipótese, alertou:
"Quando as abelhas desaparecerem da face da Terra, o homem tem apenas
quatro anos de vida". Exagero? Tomara que sim!! Eu, todavia, não apostaria
nisso. Quem diria que nosso destino, e mais, nossa sobrevivência podem estar
nas asas da frágil e operosa abelhinha!!!! Sim, quem diria!!!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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