Dia
da Consciência Negra
Pedro J. Bondaczuk
“O papel do escritor na sociedade
é pouco compreendido, inclusive pela imensa maioria (se não a totalidade) dos
que se dedicam a essa nobre tarefa. Dado seu incomparável talento para
descrever idéias, fatos, sensações e emoções, quando não gerá-los, ele é uma
espécie de consciência coletiva do bicho homem”. Foi dessa forma que iniciei
uma das tantas reflexões que partilho diariamente com vocês, escrita, se não me
falha a memória, em 2011. A data da redação não importa. Afinal, são tantos os
textos que escrevo e imensa é a minha desorganização, que seria uma façanha
digna de nota se eu lembrasse com exatidão quando escrevi isto..
Na sequência desse texto,
observei, também, a título de justificativa da minha tese: “ (O escritor) é,
pois, como aquele personagem do italiano Carlo Colodi, o Grilo Falante. É isso
mesmo. A comparação procede. O tal bichinho, na famosa história infantil, fazia
as vezes de consciência do boneco de madeira Pinocchio, que tinha como grande
aspiração se tornar humano (coitado, se soubesse!). Por isso que o escritor, ao
mesmo tempo em que fascina, incomoda os poderosos de plantão. Através dos seus
livros, detecta e revela as esperanças, sonhos e ilusões da humanidade. Mas
também traz a lume seus medos, perigos, dores (físicas e emocionais) etc.”.
Faltou acrescentar que detecta, também, suas taras, egoísmo, deficiências
morais e.... preconceitos.
Ninguém, pois, é mais habilitado
a ser o arauto das reivindicações sociais dos povos do que o escritor que tenha
consciência do seu papel. Trago à baila, hoje, esse texto (e essa questão) a
propósito do “Dia da Consciência Negra” comemorado em cerca de mil municípios,
dos quase seis mil que o País tem, e nos Estados inteiros de Alagoas, Amazonas,
Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro, em cumprimento a decretos estaduais. Só
não entendo porque a data não é guardada em todo o território nacional. Afinal,
ela se destina a promover reflexão sobre a inserção do negro na sociedade
brasileira. O dia foi escolhido por marcar a ocasião da morte de Zumbi dos
Palmares, ocorrida em 1695, que pegou em armas em defesa do bem mais precioso
para o ser humano: sua liberdade.
A pergunta que se faz é: as
pessoas refletem, de fato, sobre a necessidade de inserção dessa que é a maior
parcela dos habitantes deste país-continente, no pleno convívio social, em
rigoroso pé de igualdade com a minoria, como é de direito? Afinal, o Brasil
conta com uma das maiores populações negras do Planeta, ao lado da Nigéria. Não se deve generalizar, é verdade, mas não é
preciso ser nenhum gênio para constatar que a imensa maioria dos brasileiros
sequer atina sobre o motivo da existência desse feriado. Uma pena! Justo o
Brasil, onde o preconceito racial ainda é dolorosa, vergonhosa e contundente
realidade, para decepção dos que pensam e que têm consciência do imenso mal que
esse comportamento absurdo causa, em pleno século XXI, com tantas e tamanhas
facilidades para as pessoas se informarem.
O preconceito, ou seja, o juízo
preconcebido sobre algo ou alguém, sem que seja fruto do pleno conhecimento de
causa, não é somente o racial, é verdade, mas este é o mais comum e o que mais
desgraças e violências trouxe (e ainda traz) à humanidade no curso da sangrenta
e nada louvável História da nossa espécie. Ele também se manifesta em relação,
por exemplo, ao gênero, à religião, à
opção sexual etc.etc.etc. e até a deficiências físicas e/ou mentais, como se
quem é seu portador tenha culpa de ser marcado pela natureza ou pelas
circunstâncias. O preconceituoso, claro, nega enfaticamente que pense ou que se
comporte dessa maneira. O brasileiro se considera um povo “cordial”. Mas é?!
Ora, ora, ora. Para que um dia seja é que, justamente, foi criado este “Dia da
Consciência Negra”. Oxalá em futuro não muito distante, se possível amanhã, se
torne, de fato.
Encerro estas reflexões de hoje
com os seguintes trechos do texto com que as abri, por julgá-los pertinentes e
apropriados para a data:
“Nós, escritores, temos a
obrigação de “sacudir” as populações adormecidas, ou entorpecidas, ou
anestesiadas, para que acordem, e se não quisermos fazer isso por nobreza,
façamo-lo por egoísmo. Afinal, de que valerão nosso talento, nossa cultura,
nossa facilidade de comunicação, enfim, nossa escrita, se a humanidade retroagir
à barbárie? Se isso acontecer, não haverá indústria de tipo algum, muito menos
a gráfica. Não haverá editoras para publicar nossos livros. E pior, não haverá
leitores, pois cada qual estará empenhado em conquistar sua porção diária de
comida (que será escassíssima, quase nenhuma) e de água potável (muito mais
escassa ainda) para sobreviver. Ler, nessas circunstâncias, será, certamente, a
última coisa que as pessoas irão pensar em fazer. E escrever, convenhamos, não será nenhuma
prioridade para nós. Sem leitores... a existência da nossa função será
rigorosamente supérflua”. Pensem nisso.
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