Seqüestros, atentados e batalhas: é o Líbano
Pedro J.
Bondaczuk
O Líbano, indiretamente, foi palco de três seqüestros de
aviões nesta semana, além de combates e atentados em Beirute e em Trípoli. Em
todos esses casos, de alguma forma ou de outra, muçulmanos xiitas estiveram
envolvidos.
O primeiro, acontecido na
terça-feira, dia 11, quando um Boeing 727 da Royal Jordanian Airlines foi
seqüestrado por sete extremistas armados de submetralhadoras, ocorreu na
capital libanesa. Os piratas aéreos, após passearem pela região do Mediterrâneo
(foram para Larnaca, no Chipre; Tunis, na Tunísia; Palermo, na Sicília e
voltaram a Beirute), depois de muita negociação, explodiram o caríssimo
aparelho e escaparam, espetacularmente, num carro que os esperava num local prévio.
Não sem antes levar oito guardas jordanianos como garantia, libertados horas
mais tarde num lugar ermo da cidade. E os seqüestradores eram todos xiitas.
No dia seguinte, um palestino
quis vingar o seqüestro anterior, que havia sido feito para exigir a saída de
mil palestinos de Beirute. E, por muito pouco, o professor norte-americano,
Landrey Slade, reitor-adjunto da Universidade Americana da capital libanesa, e
seu filho, William, de 18 anos, deixaram de passar pelo dissabor de serem
reféns novamente.
Pouco após eles desembarcarem em
Chipre, depois de serem soltos pelos xiitas do Boeing que foi explodido em
Beirute, o avião da Middle East Airlines que os levou para lá foi ocupado à
força. Entretanto, o autor do seqüestro, o solitário e barbudo palestino,
acabou facilmente dominado pelas autoridades cipriotas, sem maiores
conseqüências.
Anteontem, finalmente, ocorreu a
terceira (e mais séria) ocorrência desse tipo, quando um Boeing 727 da empresa
Trans World Airlines, dos EUA, foi tomada `a força por dois xiitas, quando
realizava um vôo entre Atenas e Roma, transportando turistas norte-americanos
de regresso de Jerusalém.
A capital do Líbano foi palco dos
incidentes mais sérios verificados neste caso: o frio assassinato de um jovem
fuzileiro de 20 anos, dos EUA. E a falta de segurança, verificada em seu
aeroporto, revelou-se tamanha, que os soldados do exército regular libanês
resolveram, mesmo, abandonar aquele local. Agora, ele é controlado,
virtualmente, pelos xiitas. Isto é, pela facção dos seqüestradores.
De todas as principais milícias
que combatem, atualmente, na guerra civil libanesa, a xiita Amal revelou-se,
portanto, a mais ativa. É claro que os episódios de pirataria aérea não podem
ser atribuídos ao grupo do ministro Nabih Berri.
Eles são obras, provavelmente, da
Jihad Islâmica, composta de fanáticos cujo objetivo principal é desestabilizar
ainda mais a já instável situação nacional. E, na sua fúria cega, essa
guerrilha, que se supõe inspirada e orientada pelo aiatolá Khomeini, não se
importa, nem um pouco, com a vida e a propriedade alheias.
No próprio nome, o grupo já traz
a marca indefectível da intolerância. “Jihad”, em árabe, significa “guerra
santa”, como se algum conflito, por qualquer razão que seja, possa se revestir
de alguma eventual aura de santidade.
Esses acontecimentos, somados aos
tiroteios entre xiitas e palestinos, pela posse dos acampamentos de refugiados
do Sul de Beirute, entre milicianos da Amal e os drusos, sunitas e cristãos,
refletem, com fidelidade, o caos em que o Líbano se transformou.
Onde estão a ONU, os EUA, a União
Soviética ou qualquer entidade ou país para tomar alguma atitude prática,
visando acabar com essa situação? O que pode resultar de tudo isso é tão
terrível, que sequer nos atrevemos a prever.
(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 16
de junho de 1985).
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