Tuesday, November 03, 2015

Seqüestros, atentados e batalhas: é o Líbano


Pedro J. Bondaczuk


O Líbano, indiretamente, foi palco de três seqüestros de aviões nesta semana, além de combates e atentados em Beirute e em Trípoli. Em todos esses casos, de alguma forma ou de outra, muçulmanos xiitas estiveram envolvidos.

O primeiro, acontecido na terça-feira, dia 11, quando um Boeing 727 da Royal Jordanian Airlines foi seqüestrado por sete extremistas armados de submetralhadoras, ocorreu na capital libanesa. Os piratas aéreos, após passearem pela região do Mediterrâneo (foram para Larnaca, no Chipre; Tunis, na Tunísia; Palermo, na Sicília e voltaram a Beirute), depois de muita negociação, explodiram o caríssimo aparelho e escaparam, espetacularmente, num carro que os esperava num local prévio. Não sem antes levar oito guardas jordanianos como garantia, libertados horas mais tarde num lugar ermo da cidade. E os seqüestradores eram todos xiitas.

No dia seguinte, um palestino quis vingar o seqüestro anterior, que havia sido feito para exigir a saída de mil palestinos de Beirute. E, por muito pouco, o professor norte-americano, Landrey Slade, reitor-adjunto da Universidade Americana da capital libanesa, e seu filho, William, de 18 anos, deixaram de passar pelo dissabor de serem reféns novamente.

Pouco após eles desembarcarem em Chipre, depois de serem soltos pelos xiitas do Boeing que foi explodido em Beirute, o avião da Middle East Airlines que os levou para lá foi ocupado à força. Entretanto, o autor do seqüestro, o solitário e barbudo palestino, acabou facilmente dominado pelas autoridades cipriotas, sem maiores conseqüências.

Anteontem, finalmente, ocorreu a terceira (e mais séria) ocorrência desse tipo, quando um Boeing 727 da empresa Trans World Airlines, dos EUA, foi tomada `a força por dois xiitas, quando realizava um vôo entre Atenas e Roma, transportando turistas norte-americanos de regresso de Jerusalém.

A capital do Líbano foi palco dos incidentes mais sérios verificados neste caso: o frio assassinato de um jovem fuzileiro de 20 anos, dos EUA. E a falta de segurança, verificada em seu aeroporto, revelou-se tamanha, que os soldados do exército regular libanês resolveram, mesmo, abandonar aquele local. Agora, ele é controlado, virtualmente, pelos xiitas. Isto é, pela facção dos seqüestradores.

De todas as principais milícias que combatem, atualmente, na guerra civil libanesa, a xiita Amal revelou-se, portanto, a mais ativa. É claro que os episódios de pirataria aérea não podem ser atribuídos ao grupo do ministro Nabih Berri.

Eles são obras, provavelmente, da Jihad Islâmica, composta de fanáticos cujo objetivo principal é desestabilizar ainda mais a já instável situação nacional. E, na sua fúria cega, essa guerrilha, que se supõe inspirada e orientada pelo aiatolá Khomeini, não se importa, nem um pouco, com a vida e a propriedade alheias.

No próprio nome, o grupo já traz a marca indefectível da intolerância. “Jihad”, em árabe, significa “guerra santa”, como se algum conflito, por qualquer razão que seja, possa se revestir de alguma eventual aura de santidade.

Esses acontecimentos, somados aos tiroteios entre xiitas e palestinos, pela posse dos acampamentos de refugiados do Sul de Beirute, entre milicianos da Amal e os drusos, sunitas e cristãos, refletem, com fidelidade, o caos em que o Líbano se transformou.

Onde estão a ONU, os EUA, a União Soviética ou qualquer entidade ou país para tomar alguma atitude prática, visando acabar com essa situação? O que pode resultar de tudo isso é tão terrível, que sequer nos atrevemos a prever.

(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 16 de junho de 1985).


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