Sunday, November 15, 2015

No limiar da catástrofe



Pedro J. Bondaczuk


"O mundo, certamente, jamais será o mesmo depois deste 11 de setembro de 2001", enfatizou, profeticamente, um repórter de TV, durante a cobertura dos maiores atentados terroristas da história, ocorridos quase que simultaneamente em Nova York e em Washington, que redundaram na destruição de dois dos maiores símbolos da única superpotência do Planeta: as torres gêmeas, de 110 andares cada, do World Trade Center, o coração financeiro do mundo globalizado, e o prédio do Pentágono, ícone do maior e mais avançado sistema militar da Terra.

Quem viu, incrédulo, aquelas imagens, por mais insensível, desinformado ou alienado que seja, jamais vai conseguir esquecer as cenas de horror e insânia, testemunhadas por bilhões de pessoas através da televisão. E tudo leva a crer, infelizmente, que se trata apenas do início de uma era de turbulências internacionais, de conseqüências imprevisíveis, em que a emoção tende a prevalecer sobre a razão.

Teme-se, agora, e com razão, a extensão, a intensidade e o alcance das prometidas e apregoadas retaliações norte-americanas, tão insensatas em sua essência quanto os atentados, mas que certamente virão. Retaliar quem? O Afeganistão, por dar abrigo ao principal suspeito, o milionário Osama Bin Laden? O Iraque, de Saddam Hussein? A Líbia, de Muammar Khadafy?  Qual a certeza que se tem, além de meras e talvez infundadas suspeitas, quanto à autoria intelectual e material na carnificina? Certamente nenhuma! Meras hipóteses e conjecturas.

O terrorismo, assim, atinge proporções paroxísticas. Se esses atos de ousadia (de loucura, seria mais apropriado dizer) fossem mostrados nas cenas de qualquer filme de catástrofe, dos tantos que há por aí e que passam na televisão, é provável que o telespectador até mesmo desligasse, irritado, o seu aparelho receptor e murmurasse, incrédulo, com seus botões: "É marmelada! Isso é impossível de acontecer!"

Pois bem, aconteceu. E a realidade, como sempre, acabou superando, em muito, a ficção. O que falta agora, para esses malucos fanáticos, que vêem na morte de pessoas inocentes justificativa para seus delírios paranóicos ou megalomaníacos e que não relutam em sacrificar a própria vida por uma causa tão absurda e irreal, baseada unicamente na violência e na destruição? Um atentado com armas químicas ou biológicas? Uma explosão nuclear? Não seria mais surpresa para ninguém, principalmente para aqueles que se interessam por questões de segurança, se amanhã ou depois circulasse a informação que alguma facção se apossou, espetacularmente, de uma bomba atômica, mesmo que de baixa potência e a detonou em Washington, Paris ou Londres. Principalmente depois que a União Soviética se esfacelou. Deus que nos livre de tamanha calamidade!

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do jornal Campinas Hoje, em 19 de setembro de 2001).
  


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