As
urnas surpreendem
Pedro J. Bondaczuk
O Estado de Nova York, aquele que possui o segundo maior
colégio eleitoral dos Estados Unidos, abaixo, tão somente, da Califórnia,
realizou, ontem, suas eleições primárias. As do Partido Republicano foram
apenas mera formalidade, já que o vice-presidente George Bush não tem mais
nenhum concorrente, após a desistência do senador Robert Dole e do fraquíssimo
desempenho do teimoso ex-evangelista da TV, Pat Robertson, que permaneceu na
disputa apenas “pró-forma”. Ou seja, sem a mínima chance de sequer ganhar mais
manchetes em jornais.
O confronto que atrai as atenções gerais é o dos
democratas. As pesquisas de opinião apontaram, quase todas, que o governador de
Massachusets, Michael Dukakis, deveria ser o vencedor. Apenas as cifras é que
variaram.
Mas um pesquisador alertou para o perfil de Nova York, que
costuma surpreender os desavisados. Ali, as consultas populares não costumam
funcionar. Surpresas são comuns, já que o Estado é uma síntese das contradições
norte-americanas. É o que pode ser usado como teste nacional.
Quem sai bem ali, tem todas as possibilidades de ser
bem-sucedido nacionalmente. E Jesse Jackson não está para brincadeiras nesta
campanha. Empolgou multidões com suas mensagens, simples, mas voltadas para os
discriminados, os pobres, os desempregados, os segregados e os desassistidos.
Embora seus adversários quisessem dar a entender que os
ataques feitos contra este pastor batista, discípulo do saudoso Martin Luther
King, não tivessem caráter pessoal, em muitas oportunidades eles chegaram a ser
maldosos. Não conseguiram esconder um ranço de preconceito, de racismo dos mais
cristalinos que se possa imaginar.
O democrata mais popular da atualidade, Mário Cuomo, que
poderia desequilibrar estas primárias para um ou para outro lado, preferiu
ficar em cima do muro. Com isso, reforçou a impressão de que é mesmo o regra
três do partido, caso não haja acordo na convenção para uma composição entre os
dois aspirantes principais para a formação de uma chapa única (e parece que ela
fica cada vez mais impossível de acontecer).
Se essa circunstância ocorrer (e ela parece cada vez mais
provável), o mandatário novaiorquino pode acabar sendo escolhido o candidato,
sem ter precisado se desgastar em estafantes primárias.
Já o prefeito da cidade de Nova York, Edward Koch, foi uma
decepção. Não por ter apoiado um aspirante sem chances, como o senador Albert
Gore. Ele demonstrou ser vingativo ao atacar Jackson, que teria classificado a
metrópole norte-americana, na campanha de 1984, de “judeulândia”.
Caso o pastor negro vença as primárias, ficará provado que
o prestígio do prefeito já não é tão vasto como era antigamente. Até porque,
ele vem sendo acusado, nos últimos tempos, por lideranças negras, de racismo. E
isto não fica bem para um político que atua numa magnífica concentração urbana
caracterizada justamente pelo seu cosmopolitismo.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 20 de abril de 1988)
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