Talento dos Pampas
Pedro
J. Bondaczuk
O livro é primoroso,
obra-prima do gênero romance histórico, tão pouco explorado no Brasil. A autora
é pouco citada, e, portanto, não muito conhecida (pelo menos não como merece).
Entre os que a citam, muitos tratam esse raro talento dos Pampas como “marinheira
de primeira viagem”, o que ela não é, pois aos 43 anos de idade (completados em
4 de junho de 2015), ostenta considerável obra literária, com dezoito livros
publicados, quatro dos quais voltados ao público infanto-juvenil. Talvez seu
sobrenome, de origem polonesa, atrapalhe melhor divulgação. Talvez... Se for,
não deveria ser. Refiro-me à escritora gaúcha, nascida em Porto Alegre, Letícia
Wierzchowski.
O romance histórico que
citei, e que, reitero, é obra-prima do gênero, é “A casa das sete mulheres”
(espécie de biografia romanceada do herói farroupilha Bento Gonçalves). Ou,
mais especificamente, brilhante relato de episódios de um evento que passou
para a História do Brasil como “A guerra dos Farrapos”. Ou, mais
especificamente ainda, como o próprio título do livro indica, retrospecto
ficcional das peripécias das sete mulheres da família do líder gaúcho e da
“heroína de dois continentes”, Anita Garibaldi, que aparece, apenas,
incidentalmente na trama, mas que foi tão importante no contexto narrado, que
pode e deve ser considerada protagonista, de fato e de direito, dessa obra.
Este é daqueles
assuntos que não podem ser tratados de forma resumida, em meia dúzia de
comentários apressados – por maior que seja meu poder de síntese – sob pena de
arruiná-lo, de perder várias informações relevantes (provavelmente as melhores)
que o envolvem. Por isso, tratarei do livro, e da autora, em mais de um texto.
Quantos? Não sei! Vai depender da minha capacidade de observação, percepção e
exposição que, a rigor, confesso, desconheço.. Espero ser cuidadoso (e
competente) o suficiente para não desperdiçar um tema tão rico e desafiador
como este.
Letícia tardou para,
não digo descobrir, mas para exercitar seu imenso talento literário. Como o
pai, polonês, era (não sei se ainda é, mas presumo que sim) construtor (como o
meu também foi), pensou em cursar arquitetura. Até iniciou o curso, porém não o
completou. Sua vocação era arquitetar, sim, mas não casas ou edifícios oui
pontes ou viadutos etc.etc.etc., mas enredos. Todavia, até então, não sabia,
embora talvez (certamente?) desconfiasse. Mas tinha que se definir na escolha
de uma profissão. Afinal, como diria Cazuza, “o tempo não para”. Tentou, pois,
a atividade de empresária, abrindo microempresa de confecção de roupas. Não era
este ainda, no entanto, seu caminho. Passou, então, a trabalhar no escritório
da construtora do pai. Nas horas vagas, começou a escrever ficção. E... bingo!!
Descobriu, afinal, seu caminho. Felizmente (para nós, leitores). Não sei se
felizmente para ela também, já que Literatura, no Brasil, salvo raríssimas
exceções, está longe de ser atividade rentável, e por isso, atrativa. Aliás,
muito pelo contrário.
Não tardou para Letícia
lançar seu primeiro romance, “O anjo e o resto de nós”, o que fez em 1998. O
livro fez relativo sucesso, tanto que foi relançado três anos depois, em 2001.
O enredo trouxe à baila a saga da família Flores. A história é ambientada no
interior gaúcho nos primeiros anos do século XX. No ano seguinte, em 1999,
viria o segundo livro de Letícia: “Prata do tempo”. Já o terceiro tem uma
história que não deixa de ser pitoresca. Para narrá-la, peço licença para
reproduzir, na íntegra, a versão exata que consta na enciclopédia eletrônica
Wikipédia:
“A escritora gaúcha
Martha Medeiros sugeriu a leitura do primeiro romance de Letícia a um amigo
paulistano de naturalidade gaúcha e descendente, como Letícia, de poloneses. O
publicitário Marcelo Pires gostou tanto do livro que enviou, em dezembro de
1998, um e-mail à autora e ambos passaram a se corresponder regularmente pela
rede. Menos de um ano após a primeira mensagem, em 17 de setembro de 1999,
Letícia e Marcelo casaram-se. Na cerimônia de casamento, o casal distribuiu aos
convidados um pequeno livro com algumas das mensagens trocadas por eles. Um dos
participantes da festa, o editor Ivan Pinheiro Machado, da LP&M, acreditou
que o livro poderia fazer sucesso e lançou uma edição comercial. Nascia assim,
em 1999, o livro “Eu@teamo.com.br,” que teve suas duas edições rapidamente
esgotadas”.
Como se vê, não exagero
ao exaltar o talento literário de Letícia. Temo, isto sim, estar sendo até
parcimonioso ao apontar seus méritos. O grande sucesso dessa escritora tão
competente é, justamente, seu quarto romance, “A casa das sete mulheres”,
datado de 2002. Sua adaptação para a
televisão contribuiu e ao mesmo tempo atrapalhou a trajetória de seu livro.
“Como assim?!”, perguntará o leitor, desconfiado do meu julgamento. Explico.
A escritora Maria
Adelaide Amaral fez uma adaptação tão perfeita do enredo, que até hoje muita
gente acha que ela é a autora dessa história, e não Letícia. O livro ensejou a
produção de uma das mais memoráveis e perfeitas minisséries já produzidas em
televisão e não apenas no Brasil, mas, sem exagero, no mundo. Essa produção da
Rede Globo, este épico capaz de causar inveja a Hollywood, foi exibida pela
emissora entre 7 de janeiro e 8 de abril de 2003, no horário das 23 horas. Foi
soberbo!
Todavia, Letícia
Wierzchowski não se acomodou com o sucesso, como muita gente faria (e tantos
fizeram e fazem) e não parou no tempo. Publicou, depois de “A casa das sete
mulheres”, outros catorze livros, dos quais dez romances e quatro obras
voltadas ao público infanto-juvenil! Quando isso foi divulgado? Onde? Por quem?
Responda com franqueza, esclarecido leitor, você sabia desses detalhes? É ou
não é complicado sequer se cogitar de viver de Literatura no Brasil?!!! Ora,
ora, ora...
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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