Melhores
perspectivas para os devedores
Pedro J. Bondaczuk
O panorama para os países endividados do Terceiro
Mundo, em especial os da América Latina, no que diz respeito à dívida externa
(já chamada de “eterna”) começa a clarear. Há vários sinais positivos no ar,
que deixam entrever um ainda débil raio de luz no fim do túnel.
Depois do sistema financeiro internacional ter
concordado, não sem certa relutância, com a tese brasileira, de que a única
forma dos débitos serem pagos um dia seria através do crescimento econômico
(posição hoje já incorporada, e absorvida, pelo ultraconservador Fundo
Monetário Internacional), novos mecanismos começam a ser propostos e alguns,
até, estão em vias de implementação.
Um deles é o que transforma parte da dívida em investimentos.
Com o tempo, quem sabe, isso poderá acabar sendo feito com a totalidade do
débito. A solução, embora não seja nova (há tempos vem sendo pregada por
economistas sérios dos Estados Unidos), pode vir a ser histórica para a América
Latina e, em especial, para seus três maiores devedores: Brasil, México e
Argentina.
Em primeiro lugar, a medida tende a estimular a
privatização, pois o Estado lucrará duplamente com ela. Deixará de sustentar
empresas ineficientes e deficitárias, que em mãos da iniciativa privada,
certamente, serão saneadas e se tornarão lucrativas. E, de quebra, se livrará
de um penoso compromisso externo. Ou seja, ficará devendo bem menos do que
deve.
Outro ponto positivo será a vitalização do mercado
de capitais, carreando recursos para setores realmente produtivos da economia,
multiplicadores de empregos e de riquezas. As ações ficarão cada vez mais
atrativas para os investidores, tirando recursos da mera especulação e
trazendo, com isso, os juros para patamares suportáveis.
Terá, portanto, o efeito de uma bola de neve
descendo uma montanha. O importante é que, a médio prazo, o principal da nossa
dívida externa ficará menor. Conseqüentemente, o serviço desse endividamento
será mais suave e mais suportável.
O superávit da nossa balança comercial servirá,
então, para outros fins, além do cumprimento desse hoje insuportável
compromisso. O País vai dispor de crescentes reservas de moeda forte para as
emergências e, quem sabe, até para investir.
Será contida, portanto, a sangria desatada de capitais
que o Terceiro Mundo vem sofrendo, em especial desde 1982. Oxalá na prática
tudo isso funcione tão bem. Em tese, esta pode ser a nossa grande saída da
armadilha em que nos metemos quando os dólares no sistema financeiro
internacional eram fartos e os juros tentadores.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 14 de agosto de 1987)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment