Saturday, November 07, 2015

Melhores perspectivas para os devedores



Pedro J. Bondaczuk


O panorama para os países endividados do Terceiro Mundo, em especial os da América Latina, no que diz respeito à dívida externa (já chamada de “eterna”) começa a clarear. Há vários sinais positivos no ar, que deixam entrever um ainda débil raio de luz no fim do túnel.

Depois do sistema financeiro internacional ter concordado, não sem certa relutância, com a tese brasileira, de que a única forma dos débitos serem pagos um dia seria através do crescimento econômico (posição hoje já incorporada, e absorvida, pelo ultraconservador Fundo Monetário Internacional), novos mecanismos começam a ser propostos e alguns, até, estão em vias de implementação.

Um deles é o que transforma parte da dívida em investimentos. Com o tempo, quem sabe, isso poderá acabar sendo feito com a totalidade do débito. A solução, embora não seja nova (há tempos vem sendo pregada por economistas sérios dos Estados Unidos), pode vir a ser histórica para a América Latina e, em especial, para seus três maiores devedores: Brasil, México e Argentina.

Em primeiro lugar, a medida tende a estimular a privatização, pois o Estado lucrará duplamente com ela. Deixará de sustentar empresas ineficientes e deficitárias, que em mãos da iniciativa privada, certamente, serão saneadas e se tornarão lucrativas. E, de quebra, se livrará de um penoso compromisso externo. Ou seja, ficará devendo bem menos do que deve.

Outro ponto positivo será a vitalização do mercado de capitais, carreando recursos para setores realmente produtivos da economia, multiplicadores de empregos e de riquezas. As ações ficarão cada vez mais atrativas para os investidores, tirando recursos da mera especulação e trazendo, com isso, os juros para patamares suportáveis.

Terá, portanto, o efeito de uma bola de neve descendo uma montanha. O importante é que, a médio prazo, o principal da nossa dívida externa ficará menor. Conseqüentemente, o serviço desse endividamento será mais suave e mais suportável.

O superávit da nossa balança comercial servirá, então, para outros fins, além do cumprimento desse hoje insuportável compromisso. O País vai dispor de crescentes reservas de moeda forte para as emergências e, quem sabe, até para investir.

Será contida, portanto, a sangria desatada de capitais que o Terceiro Mundo vem sofrendo, em especial desde 1982. Oxalá na prática tudo isso funcione tão bem. Em tese, esta pode ser a nossa grande saída da armadilha em que nos metemos quando os dólares no sistema financeiro internacional eram fartos e os juros tentadores.   
  
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 14 de agosto de 1987)


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