Arias tem razão para
estar entusiasmado
Pedro
J. Bondaczuk
O plano de paz para a
América Central, elaborado pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias Sanchez,
e firmado pelos cinco governantes centro-americanos na Guatemala, em 7 de
agosto passado, apesar de enfrentar ainda inúmeros obstáculos, está caminhando
a contento. Principalmente no que diz respeito às medidas previstas para serem
tomadas pelko governo sandinista da Nicarágua. Ontem, o regime de Manágua deu
novo passo rumo ao cumprimento do compromisso que assumiu, anunciando um
cessar-fogo unilateral em três províncias do país. O ato complementou
providências redemocratizantes anteriores, como a criação de uma comissão de
reconciliação nacional, presidida pelo cardeal Miguel Obando y Bravo, e a
permissão para que o jornal “La Prensa”, fechado em 26 de junho de 1986,
voltasse a funcionar.
Ontem à tarde, o diário
cassado retornou às bancas, com uma tiragem de 250 mil exemplares, para gáudio
daqueles que entendem que só há democracia de fato naquelas sociedades em que a
Imprensa é livre, sem amarras, nem censuras e nem pressões de nenhuma espécie.
Afinal, é ela que garante a independência do cidadão diante dos avanços do
Estado em seus direitos fundamentais.
Estes atos dos últimos
dias explicam a razão do presidente costarriquenho depositar tamanha fé no seu
projeto. Na semana passada, Oscar Arias defendeu com paixão e com ardor o
processo em andamento na América Central. Isto demonstra que algo de novo pode
estar nascendo nesse sofrido continente. Pode significar que os
centro-americanos decidiram, afinal, embora com atraso de um século e meio,
assumir a condução de seus próprios destinos, sem tutelas e nem imposições
alienígenas, venham elas de onde vierem. É, como diz o ditado: “antes tarde, do
que nunca”.
É verdade que nem tudo
são flores na execução do plano. E nem poderia ocorrer uma normalização
completa, num abrir e fechar de olhos, numa região tão convulsionada há pelo
menos 150 anos. Se ocorresse, seria caso de despertar suspeitas e deixar a
certeza de que tudo não passaria de monumental farsa. Rancores de décadas não
são extinguidos com dois ou três diálogos ou com meia dúzia de medidas.
A pacificação demanda
tempo e até alguns recuos desanimadores. Arias reconheceu isso na semana
passada, na Assembleia Geral da ONU. Mas disse uma frase no Capitólio que ficou
marcada, pela convicção com que foi dita: “Combatamos guerra com paz,
totalitarismo com o poder da democracia. Devemos dar uma chance à paz”.
(Artigo publicado na
Editoria Internacional do Correio Popular, em 2 de outubro de 1987).
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