Sunday, November 22, 2015

Arias tem razão para estar entusiasmado

Pedro J. Bondaczuk

O plano de paz para a América Central, elaborado pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias Sanchez, e firmado pelos cinco governantes centro-americanos na Guatemala, em 7 de agosto passado, apesar de enfrentar ainda inúmeros obstáculos, está caminhando a contento. Principalmente no que diz respeito às medidas previstas para serem tomadas pelko governo sandinista da Nicarágua. Ontem, o regime de Manágua deu novo passo rumo ao cumprimento do compromisso que assumiu, anunciando um cessar-fogo unilateral em três províncias do país. O ato complementou providências redemocratizantes anteriores, como a criação de uma comissão de reconciliação nacional, presidida pelo cardeal Miguel Obando y Bravo, e a permissão para que o jornal “La Prensa”, fechado em 26 de junho de 1986, voltasse a funcionar.

Ontem à tarde, o diário cassado retornou às bancas, com uma tiragem de 250 mil exemplares, para gáudio daqueles que entendem que só há democracia de fato naquelas sociedades em que a Imprensa é livre, sem amarras, nem censuras e nem pressões de nenhuma espécie. Afinal, é ela que garante a independência do cidadão diante dos avanços do Estado em seus direitos fundamentais.

Estes atos dos últimos dias explicam a razão do presidente costarriquenho depositar tamanha fé no seu projeto. Na semana passada, Oscar Arias defendeu com paixão e com ardor o processo em andamento na América Central. Isto demonstra que algo de novo pode estar nascendo nesse sofrido continente. Pode significar que os centro-americanos decidiram, afinal, embora com atraso de um século e meio, assumir a condução de seus próprios destinos, sem tutelas e nem imposições alienígenas, venham elas de onde vierem. É, como diz o ditado: “antes tarde, do que nunca”.

É verdade que nem tudo são flores na execução do plano. E nem poderia ocorrer uma normalização completa, num abrir e fechar de olhos, numa região tão convulsionada há pelo menos 150 anos. Se ocorresse, seria caso de despertar suspeitas e deixar a certeza de que tudo não passaria de monumental farsa. Rancores de décadas não são extinguidos com dois ou três diálogos ou com meia dúzia de medidas.

A pacificação demanda tempo e até alguns recuos desanimadores. Arias reconheceu isso na semana passada, na Assembleia Geral da ONU. Mas disse uma frase no Capitólio que ficou marcada, pela convicção com que foi dita: “Combatamos guerra com paz, totalitarismo com o poder da democracia. Devemos dar uma chance à paz”.


(Artigo publicado na Editoria Internacional do Correio Popular, em 2 de outubro de 1987).

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