O mal explicado 7 a 1
do Mineirão
Pedro
J. Bondaczuk
A goleada que a Seleção
Brasileira sofreu, diante da Alemanha, na Copa do Mundo de 2014, promovida pelo
nosso País, para mim permanece sendo um mistério. Que aqueles 7 a 1 do Mineirão
foram o maior vexame da história do nosso futebol é ponto pacífico para muitos.
Não, todavia, para todos. Para mim, pelo menos não é. Precisamos colocar as
coisas no devido contexto. O placar foi elástico demais, não há dúvidas. O
goleado foi o País sede, o que também jamais havia acontecido. Porém, a derrota
ocorreu em uma semifinal de Copa e não em fases preliminares. Embora não pelo
mesmo placar, a Seleção Brasileira perdeu, nessa mesma etapa da competição, em
outras ocasiões.
Pior, na minha
avaliação, foi a eliminação brasileira na Copa de 1966, no Mundial da
Inglaterra, quando não passou sequer para a fase de mata-mata. Nesse aspecto,
portanto, abstraindo o placar, o 7 a 1 não foi o maior vexame do futebol
brasileiro, como os derrotistas, com
complexo de viralatas, apregoam aos quatro ventos, com indisfarçável
satisfação. Chegam a babar de prazer quando falam a respeito. Não sei se tenho
raiva ou pena dessa gente. As copas do mundo refletem a qualidade do futebol
que se pratica nos países participantes? De jeito nenhum!!! Refletiriam caso a
forma de disputa fosse outra, por pontos corridos, com todos jogando contra
todos, em turno e returno, onde a regularidade prevalecesse. Por motivos de
custo, isso é inviável. Não se trata, pois, de um campeonato, mas de uma copa.
Por isso, há que se
relativizar tanto as cinco conquistas brasileiras, quanto seus quinze
fracassos. E a Seleção fracassou não só uma, mas duas vezes como promotora do
evento e tendo o País como sede. Nem nesse aspecto, porém, é a maior perdedora
da história. O México também promoveu duas copas e não ganhou nenhuma delas.
Não chegou nem à final e nem à semifinal, como o Brasil. Aliás, jamais
conquistou um mundial. O que me deixa abismado são as conclusões dos
comentaristas esportivos (todos sem nenhuma exceção), de televisão, rádio,
jornais e internet, sobre os 7 a 1 do Mineirão. O torcedor comum, que não
dispõe de câmeras, microfones e espaços nos veículos impressos ao seu dispor,
pode cometer os maiores disparates sobre o que quer que seja, sem problema
algum. O máximo que lhes pode acontecer é caírem em ridículo e eles nem mesmo
se importarão com isso.
Todavia profissionais,
que ganham a vida emitindo opiniões, não têm o direito de serem afoitos,
parciais e desatentos. Está em jogo o que mais deveriam prezar em suas
carreiras: a credibilidade. E o que tenho ouvido e lido, desses comentaristas,
permitem-me que duvide de sua competência. Uma das tantas bobagens que essas
figuras (algumas sumamente arrogantes, que se acham infalíveis e donas da
verdade), apregoam, desde o histórico (e histérico) 7 a 1, é que o futebol
brasileiro tem um único jogador que pode ser chamado de craque: Neymar. Não
nego, óbvio, a capacidade desse atleta, mas discordo dessa conclusão. Os
comentaristas dizem que nenhum jogador brasileiro é protagonista nos clubes do
exterior que defendem. Têm certeza disso? Wilian, por exemplo, é mero
coadjuvante no Chelsea? Quem lhes disse? A direção do clube inglês está
supervalorizando o atleta ao pretender antecipar a renovação do seu contrato
por mais cinco anos? As diretorias dos grandes clubes são integradas por tolos,
que nada entendem de futebol e gostam de queimar dinheiro? Ora, ora, ora.
Querem outro caso de
protagonismo? Hulk, no Zenit de São Petersburgo. Antes, já havia brilhado no
Porto. Digam para os torcedores russos que ele é “cabeça de bagre” como vocês
insinuam. Douglas Costa não é protagonista no Bayern? Thiago Silva e David Luís
não são no PSG? Douglas Coutinho não é no Liverpool? Se nossos jogadores são
tão ruins, por que potências futebolísticas, como Espanha, Itália e Alemanha,
por exemplo, empenham-se tanto na naturalização de vários deles para que
defendam suas respectivas seleções? Bem que o saudoso compositor Antonio Carlos
Jobim tinha razão quando dizia que fazer sucesso, no Brasil, é considerado
grave “delito”.
Citei, apenas, estes
nomes, a título de exemplo. Há inúmeros outros, sem dúvida que poderiam ser
mencionados, aliás, dezenas deles. Há “brazucas” brilhando em todos os lugares
(até na Austrália, Malásia, Vietnã etc.etc.etc.). O Brasil continua sendo se
não o maior, um dos maiores exportadores de atletas, e não apenas para os
centros mais desenvolvidos, sobretudo em termos futebolísticos, mas também para
os emergentes, como o Leste europeu, Turquia, Grécia, China, países árabes e
agora a Índia. Isso é coisa de país futebolisticamente decadente? E só por
causa do 7 a 1, vexatório pelo placar e circunstâncias, mas meramente
acidental? A Alemanha pode jogar com nossa Seleção mil vezes que seja e jamais
conseguirá outra goleada sequer próxima da que aplicou no Mineirão.
Gostaria que a
Literatura esportiva explicasse o que de fato aconteceu e que determinou tão
rotundo fracasso. Alguma coisa, que a imprensa não detectou, ocorreu às
vésperas desse jogo: alguma briga, algum complô dos atletas ou sabe-se lá o
quê. Não se trata de nenhuma teoria da conspiração. Que aquela Seleção estava
mal preparada, física, técnica e animicamente, é para lá de óbvio. Estava mal
treinada. Mas não era para tanto, para um vexame tão grande. Alguma coisa fora
do normal ocorreu nos bastidores (além das ausências de Neymar e de Thiago
Silva). Mas, o quê? Se algum especialista descobrir precisará, claro, de um
livro inteiro para explicar. Não ficarei nada surpreso se isso vier à tona
dentro de alguns anos. Tudo bem que a Copa das Confederações não é parâmetro
para avaliar estágio técnico de qualquer grupo. Mas não é possível que uma
seleção, que a tenha conquistado com brilhantismo técnico só um ano antes,
tenha mostrado tamanha falta de competitividade e competência, como a equipe
canarinho mostrou nos 7 a 1 do Mineirão.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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