Série difícil de
concluir
Pedro
J. Bondaczuk
O tema, referente a
personagens femininas inesquecíveis na literatura de ficção, que me foi
proposto, há já algum tempo, por um leitor, é, simultaneamente, dos mais
fascinantes e dos mais frustrantes. O fascínio é óbvio. É o ditado pela
observação de como os grandes escritores (romancistas, contistas, novelistas
etc.) “enxergaram” a mulher e a retrataram em suas criações. Quando lemos
livros de ficção raramente atentamos para esse pormenor. Concentramo-nos, salvo
exceções, nos enredos, ansiosos por chegarmos à última página para conhecermos
o desfecho. Já a frustração está no fato de ter que restringir a quantidade de
obras abordadas. Quando iniciei esta série, a idéia era a de tratar de, no
máximo, trinta histórias, destacando as respectivas protagonistas, com as
devidas justificações (e as mais resumidas possíveis) do porque as considero
“inesquecíveis”. Todavia, a cifra já se aproxima do dobro do que foi planejado
e percebo que tenho várias e várias e várias outras personagens a abordar.
Sempre que o assunto
vem à baila, na roda de amigos (e ele, invariavelmente vem, à minha revelia),
alguém observa: “Como você esqueceu de Fulana?”. Ao que respondo: “Calma, a
série ainda não acabou”. E lá vou eu tratar da personagem citada, relendo
trechos dos romances ou contos em que ela aparece, para refrescar a memória.
Quando penso: “Agora já posso mudar de assunto”, outro “alguém” me questiona:
“E Sicrana? Você não a considera inesquecível?!”. E eu repito todo o processo
outra vez. Já me citaram, sem exagero, dezenas de protagonistas femininas,
cujos perfis, a seguir, tracei e algumas pautei para os próximos dias. Nunca me
passou pela cabeça que o assunto renderia tanto. Talvez... renda ainda muito
mais, a menos que surjam temas inadiáveis, referentes a livros e seus autores,
que me obriguem a interromper a série.
Não posso avaliar a
aceitação das minhas tão resumidas análises na internet, pois o retorno, por
este meio, é relativamente baixo. Mas, no meu círculo de amigos, a repercussão
é muito maior do que a que eu esperava. A depender deles... seguirei tratando
do tema “per omnia saecula saeculorum”. Não que isso me desagrade, longe disso.
Temo que desagrade, isso sim, meus pacientes e fieis leitores, que talvez esperem
de mim outras novidades e coisas mais inteligentes. Por mim, seguirei tratando
do tema por tempo indeterminado, com uma ou outra interrupção. Afinal, estou no
meu ambiente, fazendo o que mais gosto, que é ler e reler (quando o caso) meus
livros favoritos e opinar a propósito.
Pesquisando na
internet, dei de cara com anúncio de uma palestra, que já aconteceu (em 25 de
fevereiro de 2014) e que gostaria de ter assistido. E como gostaria!!! O tema?
“Personagens femininas na literatura”. Estou seguro que o teor dela
acrescentaria muito ao meu conhecimento sobre o assunto. Ela foi realizada no
campus Santa Mônica da Universidade Federal de Uberlândia. A palestrante foi
das mais qualificadas. Foi a professora Lyslei Nascimento, da Universidade
Federal de Minas Gerais. De acordo com o anúncio, o tema foi mais restrito do
que este que venho abordando. A ilustre doutora em Letras Comparadas, que além
de se doutorar pela UFMG, fez pós-doutorado pela Universidade de Buenos Aires,
centrou sua palestra num assunto específico: “Mulheres que matam em busca de
justiça”. E restringiu ainda mais. Abordou, especificamente, duas personagens
femininas, ambas, sem dúvida alguma, inesquecíveis: a figura bíblica de Judite
(também personagem de um conto da escritora portuguesa Deana Barroqueiro”) e...
Emma Zunz. Esta última fez-me lamentar à enésima potência por não ter ouvido a
tal palestra. Por que? Porque se trata de personagem de um conto, do mesmo
nome, deste que considero meu “guru” literário, Jorge Luís Borges.
E lá vou eu dar
sequência à minha interminável série, abordando (mas não hoje) estas duas
emblemáticas figuras femininas da literatura. Deana Barroqueiro, para quem não
a conhece, é uma escritora portuguesa da minha faixa etária (é dois anos mais
nova que eu, pois tem 70 anos). Embora nascida nos Estados Unidos, tem dupla
nacionalidade e reside, desde os dois anos, em Lisboa. É considerada uma das
mais destacadas ficcionistas de língua portuguesa do século XXI. Trata de
Judite em seu conto “Langores de Holofernes”. Quanto a Borges... bem, pretendo
dar-lhe, como seria de se esperar, tratamento especial. Abordarei não somente
Emma Zunz, mas também as personagens femininas (todas inesquecíveis) dos seus
contos “Ulrica”, “O Aleph”, “O Zahir” e “A intrusa”. Só não garanto que sejam
as últimas protagonistas a serem tratadas nesta já tão extensa série, embora
esta seja minha intenção.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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