Friday, November 20, 2015

Série difícil de concluir

Pedro J. Bondaczuk

O tema, referente a personagens femininas inesquecíveis na literatura de ficção, que me foi proposto, há já algum tempo, por um leitor, é, simultaneamente, dos mais fascinantes e dos mais frustrantes. O fascínio é óbvio. É o ditado pela observação de como os grandes escritores (romancistas, contistas, novelistas etc.) “enxergaram” a mulher e a retrataram em suas criações. Quando lemos livros de ficção raramente atentamos para esse pormenor. Concentramo-nos, salvo exceções, nos enredos, ansiosos por chegarmos à última página para conhecermos o desfecho. Já a frustração está no fato de ter que restringir a quantidade de obras abordadas. Quando iniciei esta série, a idéia era a de tratar de, no máximo, trinta histórias, destacando as respectivas protagonistas, com as devidas justificações (e as mais resumidas possíveis) do porque as considero “inesquecíveis”. Todavia, a cifra já se aproxima do dobro do que foi planejado e percebo que tenho várias e várias e várias outras personagens a abordar.

Sempre que o assunto vem à baila, na roda de amigos (e ele, invariavelmente vem, à minha revelia), alguém observa: “Como você esqueceu de Fulana?”. Ao que respondo: “Calma, a série ainda não acabou”. E lá vou eu tratar da personagem citada, relendo trechos dos romances ou contos em que ela aparece, para refrescar a memória. Quando penso: “Agora já posso mudar de assunto”, outro “alguém” me questiona: “E Sicrana? Você não a considera inesquecível?!”. E eu repito todo o processo outra vez. Já me citaram, sem exagero, dezenas de protagonistas femininas, cujos perfis, a seguir, tracei e algumas pautei para os próximos dias. Nunca me passou pela cabeça que o assunto renderia tanto. Talvez... renda ainda muito mais, a menos que surjam temas inadiáveis, referentes a livros e seus autores, que me obriguem a interromper a série.

Não posso avaliar a aceitação das minhas tão resumidas análises na internet, pois o retorno, por este meio, é relativamente baixo. Mas, no meu círculo de amigos, a repercussão é muito maior do que a que eu esperava. A depender deles... seguirei tratando do tema “per omnia saecula saeculorum”. Não que isso me desagrade, longe disso. Temo que desagrade, isso sim, meus pacientes e fieis leitores, que talvez esperem de mim outras novidades e coisas mais inteligentes. Por mim, seguirei tratando do tema por tempo indeterminado, com uma ou outra interrupção. Afinal, estou no meu ambiente, fazendo o que mais gosto, que é ler e reler (quando o caso) meus livros favoritos e opinar a propósito.

Pesquisando na internet, dei de cara com anúncio de uma palestra, que já aconteceu (em 25 de fevereiro de 2014) e que gostaria de ter assistido. E como gostaria!!! O tema? “Personagens femininas na literatura”. Estou seguro que o teor dela acrescentaria muito ao meu conhecimento sobre o assunto. Ela foi realizada no campus Santa Mônica da Universidade Federal de Uberlândia. A palestrante foi das mais qualificadas. Foi a professora Lyslei Nascimento, da Universidade Federal de Minas Gerais. De acordo com o anúncio, o tema foi mais restrito do que este que venho abordando. A ilustre doutora em Letras Comparadas, que além de se doutorar pela UFMG, fez pós-doutorado pela Universidade de Buenos Aires, centrou sua palestra num assunto específico: “Mulheres que matam em busca de justiça”. E restringiu ainda mais. Abordou, especificamente, duas personagens femininas, ambas, sem dúvida alguma, inesquecíveis: a figura bíblica de Judite (também personagem de um conto da escritora portuguesa Deana Barroqueiro”) e... Emma Zunz. Esta última fez-me lamentar à enésima potência por não ter ouvido a tal palestra. Por que? Porque se trata de personagem de um conto, do mesmo nome, deste que considero meu “guru” literário, Jorge Luís Borges.

E lá vou eu dar sequência à minha interminável série, abordando (mas não hoje) estas duas emblemáticas figuras femininas da literatura. Deana Barroqueiro, para quem não a conhece, é uma escritora portuguesa da minha faixa etária (é dois anos mais nova que eu, pois tem 70 anos). Embora nascida nos Estados Unidos, tem dupla nacionalidade e reside, desde os dois anos, em Lisboa. É considerada uma das mais destacadas ficcionistas de língua portuguesa do século XXI. Trata de Judite em seu conto “Langores de Holofernes”. Quanto a Borges... bem, pretendo dar-lhe, como seria de se esperar, tratamento especial. Abordarei não somente Emma Zunz, mas também as personagens femininas (todas inesquecíveis) dos seus contos “Ulrica”, “O Aleph”, “O Zahir” e “A intrusa”. Só não garanto que sejam as últimas protagonistas a serem tratadas nesta já tão extensa série, embora esta seja minha intenção.


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