Cidadão
comum não vê necessidade de guerra
Pedro J. Bondaczuk
A proximidade de uma guerra, que vai começar,
oficialmente – embora não necessariamente num campo de batalha nessa data – a
partir do primeiro minuto da quarta-feira, caso o presidente iraquiano, Saddam
Hussein, não retire, total e incondicionalmente, suas tropas do Kuwait, está
forçando as pessoas, em várias partes do mundo, a saírem da sua rotina para
meditar sobre a necessidade e as implicações desse conflito.
Os apologistas do recurso militar para a solução de
pendências estão tendo cada vez mais dificuldades para convencer os cidadãos da
eficiência e da moralidade desse meio. É evidente, até para as mentes broncas,
que matar nunca foi um ato nobre.
O homem, deste fim de milênio, a despeito da
aparência de alienado que possui, tem muito maior consciência sobre asa
questões mundiais e o jogo do poder, disputado na arena internacional, do que
os seus predecessores do início do século. Ele sabe no que resultaram duas
guerras mundiais.
Vivemos em plena era da comunicação. E a despeito
dos instrumentos da informação poderem ser usados para manipular a opinião,
especialmente das massas – Hitler já dizia que estas são “virgens histéricas,
loucas para serem estupradas” –, o advento da televisão via satélite torna esse
exercício cada vez mais difícil.
Um expert em propaganda política, como o nazista
Goebbels, não teria muita chance, hoje em dia, diante do espírito crítico mais
aguçado que existe, em especial entre as pessoas mais jovens. Muito do que se
diz, ou do que se escreve, sobre a crise do Golfo Pérsico, traz a marca sutil –
e às vezes ostensiva – dos interesses antagônicos em jogo.
A imprensa ocidental, por exemplo, pinta George Bush
e as forças multinacionais estacionadas na Arábia Saudita como autênticos
campeões da liberdade. Em contraposição, o iraquiano Saddam Hussein é descrito
como um ditador sanguinário e cruel, terrível agressor, que, virtualmente,
estuprou a nação kuwaitiana, matando cidadãos indiscriminadamente, pilhando a
economia do emirado e ameaçando repetir a dose com a Arábia Saudita.
O interessante é que, há somente quatro anos, o
presidente do Iraque era pintado, por esses mesmos meios de comunicação, como
um político pragmático, um estrategista hábil e um homem elegante, que prestava
um favor ao mundo ao conter o fanatismo dos sombrios aiatolás iranianos.
Sua invasão ao Kuwait foi, de fato, abominável. Por
mais que tente, nunca conseguirá justificar este ato estúpido. Mas seria o
homem contemporâneo tão burro a ponto de não conhecer outro meio de conter um
estadista delinqüente, a não ser mediante uma guerra das proporções que se
planeja no Golfo Pérsico?
Estariam os grandes “business men”, os artistas, os
ecologistas, os idealistas e os que ainda crêem na sensatez humana dispostos a
enterrar suas causas e ideais nas areias do deserto saudita?
(Artigo publicado na página 17, Internacional, do
Correio Popular, em 13 de janeiro de 1991)
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