Wednesday, November 11, 2015

Sucessão de crises que se sobrepõem



Pedro J. Bondaczuk



O Líbano, que andou um tanto afastado dos noticiários nos últimos tempos, está vivendo nestes dias uma enorme crise política, maior, em suas conseqüências, do que a própria guerra civil que empolga o país desde 24 de abril de 1975. Aliás, crítica é a situação em que praticamente todos os setores de sua sociedade se encontram, onde a economia está em farrapos, as Forças Armadas não passam de mera ficção diante da existência de uma multiplicidade de exércitos particulares, a ordem pública é mantida por tropas estrangeiras e o sistema educacional está emperrado.

A outrora "Suíça do Oriente Médio" está se decompondo em violência e falta de perspectiva de um futuro. E para complicar, agora corre o risco de ficar com um vazio no poder, diante do impasse gerado para a escolha do sucessor do presidente Amin Gemayel, cujo mandato de seis anos encerrou-se à meia-noite de ontem.

Por duas vezes, o Parlamento, encarregado dessa escolha, boicotou o pleito. Não houve "quorum", nem em 30 de agosto passado, e nem ontem. A nova controvérsia, que vem se somar às tantas que o país enfrenta, descambou, como já é de costume nos últimos 13 anos e meio no Líbano, em violência nas ruas. Assim que o presidente do Legislativo anunciou a falta de parlamentares suficientes para a escolha do sucessor de Gemayel, os ares de Beirute se encheram de ruídos de explosões. Mas não pense o leitor que foram rojões comemorando alguma vitória política de alguma facção. O barulho ensurdecedor foi muito mais sinistro, por trazer consigo agentes da morte, petardos, granadas e balas, que já ceifaram 150 mil vidas, 5% da população libanesa, nos derradeiros 13 anos.

Como tem acontecido em todo este tempo, não apareceu o responsável pelo início dos combates. Desta vez, voltou-se à luta original dos cristãos contra os muçulmanos, numa guerra em que já houve de tudo. Xiitas já combateram xiitas. Aliados de ontem, repentinamente, tornaram-se adversários. Palestinos brigaram com palestinos. Tropas estrangeiras entraram em inúmeras ocasiões para apartar as facções em conflito.

Até mesmo cristãos maronitas cruzaram armas entre si, quando um dos setores falangistas firmou um acordo de paz (jamais colocado em prática) à revelia do outro grupo. Mas os duros anos de conflito não foram suficientes para chamar os libaneses à razão. Os "hormônios" continuam falando mais alto do que os "neurônios". Ou seja, briga-se antes, para somente muito tempo depois se saber a razão de se ter brigado. As várias facções do Líbano precisam conscientizar-se que suas divergências só elas mesmas é que conseguirão resolver. Não adianta esperar nenhuma solução miraculosa vinda de fora. É mais do que hora, portanto, de se depor as armas e de se começar a dialogar.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 23 de setembro de 1988)


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