Sucessão de crises que se
sobrepõem
Pedro J. Bondaczuk
O
Líbano, que andou um tanto afastado dos noticiários nos últimos tempos, está
vivendo nestes dias uma enorme crise política, maior, em suas conseqüências, do
que a própria guerra civil que empolga o país desde 24 de abril de 1975. Aliás,
crítica é a situação em que praticamente todos os setores de sua sociedade se
encontram, onde a economia está em farrapos, as Forças Armadas não passam de
mera ficção diante da existência de uma multiplicidade de exércitos
particulares, a ordem pública é mantida por tropas estrangeiras e o sistema
educacional está emperrado.
A
outrora "Suíça do Oriente Médio" está se decompondo em violência e
falta de perspectiva de um futuro. E para complicar, agora corre o risco de
ficar com um vazio no poder, diante do impasse gerado para a escolha do
sucessor do presidente Amin Gemayel, cujo mandato de seis anos encerrou-se à
meia-noite de ontem.
Por
duas vezes, o Parlamento, encarregado dessa escolha, boicotou o pleito. Não
houve "quorum", nem em 30 de agosto passado, e nem ontem. A nova
controvérsia, que vem se somar às tantas que o país enfrenta, descambou, como
já é de costume nos últimos 13 anos e meio no Líbano, em violência nas ruas.
Assim que o presidente do Legislativo anunciou a falta de parlamentares
suficientes para a escolha do sucessor de Gemayel, os ares de Beirute se
encheram de ruídos de explosões. Mas não pense o leitor que foram rojões
comemorando alguma vitória política de alguma facção. O barulho ensurdecedor
foi muito mais sinistro, por trazer consigo agentes da morte, petardos,
granadas e balas, que já ceifaram 150 mil vidas, 5% da população libanesa, nos
derradeiros 13 anos.
Como
tem acontecido em todo este tempo, não apareceu o responsável pelo início dos
combates. Desta vez, voltou-se à luta original dos cristãos contra os
muçulmanos, numa guerra em que já houve de tudo. Xiitas já combateram xiitas.
Aliados de ontem, repentinamente, tornaram-se adversários. Palestinos brigaram
com palestinos. Tropas estrangeiras entraram em inúmeras ocasiões para apartar
as facções em conflito.
Até
mesmo cristãos maronitas cruzaram armas entre si, quando um dos setores
falangistas firmou um acordo de paz (jamais colocado em prática) à revelia do
outro grupo. Mas os duros anos de conflito não foram suficientes para chamar os
libaneses à razão. Os "hormônios" continuam falando mais alto do que
os "neurônios". Ou seja, briga-se antes, para somente muito tempo
depois se saber a razão de se ter brigado. As várias facções do Líbano precisam
conscientizar-se que suas divergências só elas mesmas é que conseguirão
resolver. Não adianta esperar nenhuma solução miraculosa vinda de fora. É mais
do que hora, portanto, de se depor as armas e de se começar a dialogar.
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 23 de setembro de
1988)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment