Os pássaros e os
sonhadores precisam de liberdade
Pedro
J. Bondaczuk
O que seria do mundo
sem os sonhadores? Não haveria artes, ciências e nem qualquer espécie de
empreendimento e o homem, com toda certeza, ainda estaria vivendo nas cavernas,
como fera bronca e selvagem, sem nenhum propósito para a sua existência que não
fosse o de vegetar. O jovem piloto alemão ocidental Mathias Rust, que no dia 28
de maio passado realizou uma das mais formidáveis peripécias dos últimos
tempos, ao driblar toda a extraordinária vigilância aérea soviética e pousar um
frágil monomotor Cessna 172-B em pleno coração do poder russo, na Praça
Vermelha de Moscou, bem junto às muralhas do Cremlin, demonstrou ser um
sonhador.
Um tanto inconseqüente,
é verdade, no verdor dos seus 19 anos de idade. Mas revelou-se, sobretudo, idealista
que, se bem orientado, poderia realizar grandes coisas no futuro. Seu
depoimento de 5 horas, ontem, no Supremo Tribunal da União Soviética, no início
do seu julgamento, foi uma peça extraordinária de inocência e candura. Foi
comovente atestado de que a juventude (ou parte considerável dela) ainda
acredita num amanhã radioso para o Planeta, a despeito de todas as evidências
contrárias existentes para inviabilizar essa crença.
Mathias Rust admitiu
ter violado as leis, ou seja, o delito de que está sendo acusado. Mas explicou
que fez seu histórico vôo para poder conversar com o líder Mikhail Gorbachev,
para propor ao dirigente da superpotência do Leste um plano que faria as nações
a viverem em paz. Que tremenda ingenuidade, que imensa candura, que idealismo
esse moço demonstrou!!! É verdade que alguns podem considerar sua atitude
sintoma de paranóia. Outros estão atribuindo propósitos inconfessáveis à
aventura do rapaz, que estaria “!mancomunado” com terríveis forças do mal para
prejudicar os soviéticos. Bobagem. Todas estas hipóteses são tolas demais para
serem levadas a sério.
Apesar das
consequências que podem advir para o fogoso adolescente, não acreditamos que os
soviéticos venham lançá-lo no cárcere. Certamente Rust será condenado e
sentenciado pelos sisudos juízes que apreciam sua temerária ação. Mas depois
desse “susto” que as autoridades vão pregar no piloto, vão arranjar um jeito de
deixá-lo livre, possivelmente apelando para sua expulsão do país. Uma criança
sonhadora, cândida como um passarinho, não deve, como a ave, ser engaiolada.
Deve voar, livre e ligeira, nas asas do seu sonho de paz, que talvez contamine
(quem sabe) os circunspectos e mal-humorados senhores que conduzem os destinos
dos homens.
(Artigo publicado na
editoria Internacional do Correio Popular em 3 de setembro de 1987)
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