Suspeitas
no caso PC
Pedro J. Bondaczuk
As investigações sobre o assassinato do empresário
alagoano Paulo César Farias, em 23 de junho passado, em sua casa na praia da
Guaxuma, em Maceió, e o suposto suicídio de sua namorada, Suzana Marcolino da
Silva, têm mais interrogações – ou praticamente apenas elas – do que respostas
concretas.
A pressa da Polícia Civil de Alagoas de antecipar
que se tratou de um crime passional foi o que lançou suspeitas no ar,
principalmente em se tratando de uma figura tão polêmica, quanto foi na
história recente do País, a vítima. E desde então, todas as atenções se
voltaram e permanecem centralizadas nesse drama shakespeareano, ou
sherlockiano, ou de suspense digno do mestre do gênero, Alfred Hitchcock, como
queiram.
Várias incoerências e contradições foram verificadas
nos laudos da perícia, nos da necropsia e nos muitos depoimentos dos envolvidos
direta ou indiretamente no caso. Houve, além disso, ostensiva tentativa de
desviar a atenção pública para episódios paralelos, que pouco ou nada têm a ver
com a questão básica que é: "Quem matou PC Farias?". A quem interessa
que a verdade fique camuflada?
Parece até enredo de novela, só que agora se trata
de realidade. Em tempos já remotos, o País todo fez a mesma pergunta. Só que perguntava
"quem matou Salomão Ayala" ou "quem matou Odete Reutman",
personagens de ficção. Agora, contudo, trata-se do pivô do maior escândalo de
corrupção da história recente do Brasil ou quiçá de toda ela. É uma situação
obviamente diferente.
Fica difícil de acreditar, mesmo que os fatos
caminhassem nessa direção (embora não caminhem), que um homem que sabia tanto,
capaz de levar muita gente graúda para a cadeia caso resolvesse abrir a boca,
verdadeiro "arquivo ambulante" de negociatas de toda a sorte, com
inquestionáveis ambições políticas (estaria aspirando inclusive o governo do
Alagoas ou, na pior das hipóteses, uma cadeira na Câmara Federal pelo Estado),
viria a morrer por uma simples questão de ciúmes de uma namorada prestes a ser
descartada.
É verdade que tudo é possível. Mas dez em cada dez
brasileiros não aceitam essa hipótese. E quando ela é levantada, em uma roda de
amigos, o sorriso de incredulidade que a responde é bastante enfático. Ninguém
precisa sequer dizer qualquer coisa.
É impossível prever as conclusões da investigação. A
probabilidade maior é que o caso vai permanecer insolúvel. Ou, pior, que aquilo
que vai ser concluído seja tão não convincente quanto a absolvição do astro de
futebol americano, O. J. Simpson, acusado de matar a ex-mulher e o amigo dela,
em 12 de junho de 1994, e cujo julgamento polarizou as atenções nos Estados
Unidos por quase um ano.
(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio
Popular, em 2 de julho de 1996)
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