Saturday, October 24, 2015

Suspeitas no caso PC

  
Pedro J. Bondaczuk


As investigações sobre o assassinato do empresário alagoano Paulo César Farias, em 23 de junho passado, em sua casa na praia da Guaxuma, em Maceió, e o suposto suicídio de sua namorada, Suzana Marcolino da Silva, têm mais interrogações – ou praticamente apenas elas – do que respostas concretas.

A pressa da Polícia Civil de Alagoas de antecipar que se tratou de um crime passional foi o que lançou suspeitas no ar, principalmente em se tratando de uma figura tão polêmica, quanto foi na história recente do País, a vítima. E desde então, todas as atenções se voltaram e permanecem centralizadas nesse drama shakespeareano, ou sherlockiano, ou de suspense digno do mestre do gênero, Alfred Hitchcock, como queiram.

Várias incoerências e contradições foram verificadas nos laudos da perícia, nos da necropsia e nos muitos depoimentos dos envolvidos direta ou indiretamente no caso. Houve, além disso, ostensiva tentativa de desviar a atenção pública para episódios paralelos, que pouco ou nada têm a ver com a questão básica que é: "Quem matou PC Farias?". A quem interessa que a verdade fique camuflada?

Parece até enredo de novela, só que agora se trata de realidade. Em tempos já remotos, o País todo fez a mesma pergunta. Só que perguntava "quem matou Salomão Ayala" ou "quem matou Odete Reutman", personagens de ficção. Agora, contudo, trata-se do pivô do maior escândalo de corrupção da história recente do Brasil ou quiçá de toda ela. É uma situação obviamente diferente.

Fica difícil de acreditar, mesmo que os fatos caminhassem nessa direção (embora não caminhem), que um homem que sabia tanto, capaz de levar muita gente graúda para a cadeia caso resolvesse abrir a boca, verdadeiro "arquivo ambulante" de negociatas de toda a sorte, com inquestionáveis ambições políticas (estaria aspirando inclusive o governo do Alagoas ou, na pior das hipóteses, uma cadeira na Câmara Federal pelo Estado), viria a morrer por uma simples questão de ciúmes de uma namorada prestes a ser descartada.

É verdade que tudo é possível. Mas dez em cada dez brasileiros não aceitam essa hipótese. E quando ela é levantada, em uma roda de amigos, o sorriso de incredulidade que a responde é bastante enfático. Ninguém precisa sequer dizer qualquer coisa.

É impossível prever as conclusões da investigação. A probabilidade maior é que o caso vai permanecer insolúvel. Ou, pior, que aquilo que vai ser concluído seja tão não convincente quanto a absolvição do astro de futebol americano, O. J. Simpson, acusado de matar a ex-mulher e o amigo dela, em 12 de junho de 1994, e cujo julgamento polarizou as atenções nos Estados Unidos por quase um ano.

(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 2 de julho de 1996)



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