Favoritos dos
apostadores para o Nobel de Literatura
Pedro
J. Bondaczuk
A escritora e
jornalista bielo-russa Svetlana Alexandrovna Alexijevich (cujo nome também é
grafado como Svetlana Alexandrovna Alexievich), de 67 anos, lidera a
preferência dos apostadores europeus para conquistar o Prêmio Nobel de
Literatura de 2015. Pelo menos liderava até minha última consulta ao site da
principal, maior e mais antiga casa de apostas da Europa, a Ladbrokes, com sede
em Londres, na Inglaterra, com mais de 2.700 lojas espalhadas pela Inglaterra,
Irlanda, Bélgica e Espanha.
Esse favoritismo não
deve ter mudado muito (talvez tenha até crescido), levando em conta o que
ocorreu nos dois anos anteriores. Em 2013 e 2014, Svetlana foi a terceira mais
apostada (no ano passado, empatada com o argelino Assia Djebar e com o albanês
Ismail Kadaré). Palpite ou não, os apostadores têm convicção, ou intuição, ou
seja lá o que for que, em algum momento, ou mais especificamente neste ano, ela
será a premiada. Será? Talvez sim, talvez não. Quem o sabe? Bem, pessoalmente,
eu não creio. Mas... Se for, quem apostou nela receberá cinco vezes a
importância apostada.
O favorito do ano
passado na Ladbrokes (que “perdeu” para o francês Patrick Modiano, praticamente
ignorado pelos apostadores), o queniano Ngugi Wa Thiog'o, neste ano ocupa o
terceiro lugar. A segunda colocação está com o japonês Haruki Murakami, que
repete a mesma posição do ano passado. Quem cresceu de cotação entre os
apostadores foi o eterno candidato ao Nobel de Literatura, o norte-americano
Philip Roth, que há pelo menos uma década vem sendo cotado ao prêmio, mas...
Óbvio, nunca ganhou.
Para o leitor que não
conhece (creio que a imensa maioria desconheça), apresento, resumidamente, a
Ladbrokes. Ela atua no ramo desde 1896. Oferece o sportsbook, cassino e cassino
ao vivo, jogos virtuais, loterias e apostas financeiras. Dá emprego a pelo
menos 16.000 pessoas nos países em que tem lojas. E nelas, os apostadores podem
fazer sua “fezinha” em praticamente tudo. A maioria aposta nos vários
campeonatos europeus de futebol, sobretudo no inglês (em suas várias divisões),
no espanhol, no francês, no alemão etc.etc.etc., além de na Copa dos Campeões
da Europa. Em termos de esportes, estão incluídas competições de basquete,
vôlei, tênis etc.etc.etc. Em suma, praticamente tudo o que você possa pensar é
motivo de apostas na Ladbrokes (e em outras tantas casas, posto que não tão
famosas, ou poderosas). O Prêmio Nobel de Literatura está entre esses seus
tantos temas.
Confesso que, à exceção
de Philip Roth e de Ismail Kadaré, cujos livros já tive o privilégio de ler, os
demais escritores, entre os mais apostados, eram, até muito recentemente,
ilustríssimos desconhecidos para mim. E olhem que sou obcecado por Literatura
e, claro, por seus agentes, procurando me manter bem informado sobre todos os
escritores a que tenha acesso e cujo idioma esteja entre aqueles que consigo
ler. Ao saber da cotação dos favoritos dos apostadores da Ladbrokes, arregacei
as mangas e parti para a pesquisa, para saber quem são essas personalidades
literárias e por que tiveram candidaturas ao Nobel de Literatura lançadas.
Parto do princípio, mesmo sem nunca ter lido nenhuma de suas obras, que sejam
todos escritores de excepcional qualidade, caso contrário não seriam indicados
a tão importante prêmio.
Svetlana Alexijevich,
por exemplo, embora concorra pela Belarus (a antiga Bielo Rússia), é ucraniana
de nascimento. Nasceu em Ivano Frankivst, em 21 de maio de 1948. Adotou,
todavia, a nacionalidade bielo-russa. Mudou-se para Belarus quando muito
criança, onde cresceu e foi educada. Embora escreva desde a adolescência, tendo
se iniciado na poesia, destacou-se, mesmo, como jornalista. Seus livros podem
ser classificados na categoria de jornalismo literário. Sua obra é conhecida em
praticamente toda a Europa, além dos Estados Unidos, China, Vietnã e Índia.
Seus livros mais famosos são os que abordam, respectivamente, o desastre da
usina nuclear de Chernobyll, na Ucrânia, e o drama do Afeganistão, com suas
várias guerras, a partir da intervenção militar da extinta União Soviética,
drama complementado pela ação das tropas dos Estados Unidos, a pretexto de
caçarem o líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden.
O queniano Ngugi Wa
Thiog'o, de 77 anos, também começou no jornalismo. Além de escrever novelas,
ensaios e contos, atuou como jornalista do “The Nation” e fundou o jornal
“Mutiri”. Abordou, entre outros temas, a tensão entre brancos e negros no
Quênia. Permaneceu preso por um ano e, quando libertado, partiu para o exílio.
Voltou ao Quênia 22 anos depois, quando ele e a esposa foram atacados em casa.
Ela foi estuprada pelos agressores e ele sofreu graves queimaduras no rosto,
que lhe deixaram marcas irremovíveis. Seus principais livros são: "The
Black Hermit", 1963 (teatro); "Weep Not, Child", 1964; "The
River Between", 1965; "Mother, sing for me", 1986,
"Something Torn and New: An African Renaissance", 2009 e "Dreams in a Time of War: a Childhood
Memoir", 2010.
O argelino Assia Djebar
tem 79 anos. Estudou em Argel e na França. Em Paris, escreveu sua primeira
novela, "La soif" (“A sede”). Colaborou com a revista da principal
guerrilha argelina, a Frente de Libertação Nacional. Atuou como cineasta e
ganhou, entre outros, o Prêmio Internacional Pablo Neruda. Alguns críticos
consideram que sua principal obra é “Quarteto argelino”, que mescla a história
do seu país com a sua própria. Assia
Djebar é membro da Academia Francesa.
Haruki Murakami é mais
jovem do que os outros três escritores que apresentei: está com 66 anos. É um
dos mais famosos homens de letras do Japão e da atualidade. É candidato quase
que permanente ao Nobel de Literatura há pelo menos uma década. Já li várias
referências à sua obra, mas não tive o privilégio de ler nenhuma delas. Escreveu,
entre muitos outros livros, "Tóquio blues", "Baila, baila,
baila" e "Do que falo quando falo de correr".
Qual desses quatro tem
chances reais de conquistar o Nobel de Literatura? Em princípio, todos eles –
claro, mas se estiverem entre os cinco selecionados pela Academia Sueca no mês
de maio. Svetlana Alexijevich confirmará seu favoritismo, pelo menos entre os
apostadores da Ladbrokes? Ngugi Wa Thiog'o, Assia Djebar ou Haruki Murakami
irão surpreender na reta final? Ou nenhum deles será o premiado, para
frustração dos que apostaram neles? Tenho intuição que esta última alternativa
vai prevalecer. Saber, mas saber mesmo, saberemos, no máximo, em uma semana,
quando a Academia Sueca anunciar, oficialmente, o sucessor de Patrick Modiano.
Até lá... as especulações serão livres, irão pipocar e correrão à solta.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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