Tuesday, October 06, 2015

Campanhas retardadas


Pedro J. Bondaczuk


A Copa do Mundo dos Estados Unidos e o lançamento do Real, temas que polarizam as atenções e ocupam a maior parte do espaço na imprensa, fizeram com que as campanhas para as eleições de 3 de outubro próximo esfriassem.

Um cidadão menos informado, ou distraído, poderia até se esquecer que, dentro de dois meses e meio, os eleitores vão acorrer às urnas para eleger um novo presidente, todos os governadores e renovar a Câmara de Deputados, parte do Senado e as Assembléias Legislativas.

Como se vê, o tempo é curto, curtíssimo, principalmente quando se leva em conta o fato de o País ter dimensões continentais.

Alguns podem argumentar que a partir de agosto próximo, os candidatos terão dois meses para dar o seu recado pelo rádio e pela televisão, com o início da propaganda eleitoral gratuita. Para os partidos que vão dispor de bom tempo, a observação é verdadeira. E para os outros, os médios e pequenos, que contam com bancadas reduzidas no Congresso?

É verdade que a opinião unânime do eleitor é a de que as campanhas, da maneira como têm sido desenvolvidas nas últimas eleições, são uma enorme chatice. E a deste ano tende a ser mais chata ainda, com a inexplicável proibição da exibição de cenas externas, de comícios e manifestações. Vai se restringir às fotos dos candidatos e às suas mensagens, que terão de ser apresentadas em alguns ínfimos segundos.

Para um país cujo grande problema é a falta de consciência política e onde o analfabeto tem direito a voto, esse tipo de propaganda é o pior possívele apenas vai contribuir para a escolha de um Congresso tão ruim ou pior do que o atual.

É verdade que para os dois principais cargos em disputa, a Presidência da República e o governo do Estado, as emissoras de televisão, certamente, vão promover debates ao vivo. Contudo, a maior deficiência nas eleições brasileiras têm se manifestado, historicamente, na composição dos legislativos.

O ideal é que o próximo presidente consiga, junto com o mandato --- que será de quatro anos --- condições de governar. Para que isso ocorra, é preciso que conquiste maioria no Congresso, de forma tal que dispense a necessidade de barganha com a oposição para a aprovação dos projetos que fundamentem seu programa de governo.

As limitações das campanhas, iniciadas, no nosso entender, tardiamente, tendem a comprometer a compreensão dessa necessidade por parte do eleitorado.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 2 de julho de 1994).


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