Monday, October 12, 2015

Apesar de tudo, vida ainda está ganhando


Pedro J. Bondaczuk


Os instintos da vida, “erótico”, e da morte, “tânico”, em permanente conflito dentro do ser humano, manifestam-se, igualmente, em suas obras. Como, por exemplo, nas sociedades nacionais que ele criou. A despeito de duas grandes guerras mundiais que, juntas, causaram a extinção, de forma violenta, de pelo menos 40 milhões de indivíduos; apesar da violência  urbana crescente, que redunda em muitas mortes, diariamente; mesmo com os conflitos regionais, cada vez mais sangrentos (e eles já foram mais de 200 desde 1945), este dom maravilhoso e inexplicável está prevalecendo.

A população mundial está somente crescendo, assustando os pessimistas e os egoístas, os de visão estreita, que não cogitam de novas formas para acomodar tantos seres humanos e pensam somente em expedientes mortais.

Quando a missão Apolo desceu homens na Lua, que exploraram parte de nosso satélite, na década de 70, foram despertadas esperanças grandiosas em toda a humanidade, de dias gloriosos para a espécie. No entanto, a corrida armamentista passou a falar mais alto e as verbas destinadas (ou que deveriam ter este destino) à exploração espacial, acabaram sendo desviadas para a pesquisa e construção de engenhos destrutivos cada vez mais demoníacos e devastadores.

Dessa vez, portanto, o instinto “tânico” ganhou mais alguns pontos sobre o “erótico”. Outros conquistados por ele têm sido a insensata destruição da natureza, o egoísmo crescente que condena milhões de indivíduos à miséria, à fome, ao desespero e a um hedonismo estúpido, na base do “aqui e agora”, que tira das pessoas a visão de grandeza, o sonho da aventura, a coragem de aceitar desafios.

Apesar de todas estas coisas, no entanto, a vida prevalece. Na China, todos os programas de controle da natalidade falharam e o país, que contava chegar ao ano 2000 com 1,1 bilhão de habitantes, atingiu (estatisticamente) ontem essa cifra.

Para muitos, o explosivo aumento populacional é sinônimo de miséria, de dificuldades, de aperto. No terreno prático, com as coisas postas como estão atualmente, quando ninguém quer dividir nada com ninguém, às vezes nem com os próprios filhos, é isto realmente o que nos espera. Mas se o homem usar o seu imenso potencial de inteligência de forma ousada; se permitir que o instinto erótico fale mais alto e se conseguir sufocar o tânico; se der rédeas à imaginação e se dispuser a concretizar o seu sonho, poderá operar maravilhas.

Terá condições de viajar para outros sistemas planetários, descobrir outros mundos e povoá-los. Se não fizer isso, o que o espera é a destruição irremediável. Através da violência, pela fome ou sufocado pelos maus odores do lixo, da poluição e dos esgotos das centenas de cidades, que ele próprio produz.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 15 de abril de 1989).


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