Apesar de tudo, vida ainda está ganhando
Os instintos da vida, “erótico”, e da morte, “tânico”, em
permanente conflito dentro do ser humano, manifestam-se, igualmente, em suas
obras. Como, por exemplo, nas sociedades nacionais que ele criou. A despeito de
duas grandes guerras mundiais que, juntas, causaram a extinção, de forma
violenta, de pelo menos 40 milhões de indivíduos; apesar da violência urbana crescente, que redunda em muitas
mortes, diariamente; mesmo com os conflitos regionais, cada vez mais sangrentos
(e eles já foram mais de 200 desde 1945), este dom maravilhoso e inexplicável
está prevalecendo.
A população mundial está somente
crescendo, assustando os pessimistas e os egoístas, os de visão estreita, que
não cogitam de novas formas para acomodar tantos seres humanos e pensam somente
em expedientes mortais.
Quando a missão Apolo desceu
homens na Lua, que exploraram parte de nosso satélite, na década de 70, foram
despertadas esperanças grandiosas em toda a humanidade, de dias gloriosos para
a espécie. No entanto, a corrida armamentista passou a falar mais alto e as
verbas destinadas (ou que deveriam ter este destino) à exploração espacial,
acabaram sendo desviadas para a pesquisa e construção de engenhos destrutivos
cada vez mais demoníacos e devastadores.
Dessa vez, portanto, o instinto
“tânico” ganhou mais alguns pontos sobre o “erótico”. Outros conquistados por
ele têm sido a insensata destruição da natureza, o egoísmo crescente que
condena milhões de indivíduos à miséria, à fome, ao desespero e a um hedonismo
estúpido, na base do “aqui e agora”, que tira das pessoas a visão de grandeza,
o sonho da aventura, a coragem de aceitar desafios.
Apesar de todas estas coisas, no
entanto, a vida prevalece. Na China, todos os programas de controle da
natalidade falharam e o país, que contava chegar ao ano 2000 com 1,1 bilhão de
habitantes, atingiu (estatisticamente) ontem essa cifra.
Para muitos, o explosivo aumento
populacional é sinônimo de miséria, de dificuldades, de aperto. No terreno
prático, com as coisas postas como estão atualmente, quando ninguém quer
dividir nada com ninguém, às vezes nem com os próprios filhos, é isto realmente
o que nos espera. Mas se o homem usar o seu imenso potencial de inteligência de
forma ousada; se permitir que o instinto erótico fale mais alto e se conseguir
sufocar o tânico; se der rédeas à imaginação e se dispuser a concretizar o seu
sonho, poderá operar maravilhas.
Terá condições de viajar para
outros sistemas planetários, descobrir outros mundos e povoá-los. Se não fizer
isso, o que o espera é a destruição irremediável. Através da violência, pela
fome ou sufocado pelos maus odores do lixo, da poluição e dos esgotos das
centenas de cidades, que ele próprio produz.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 15
de abril de 1989).
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