Tuesday, October 06, 2015

Brasil: reconhecimento zero!

Pedro J. Bondaczuk

O brasileiro (se é que se possa generalizar) “parece” dar pouca (ou nenhuma) importância ao Prêmio Nobel, em todas as suas várias categorias. Nesse caso, cabe, a caráter, o dito popular de que “as aparências enganam”. E como enganam! A impressão que tenho, em relação a essa prestigiosa, posto que polêmica premiação é que a fábula de La Fontaine, “A raposa e as uvas”, simboliza á perfeição nossa atitude a propósito. Após tentarmos, tentarmos e tentarmos alcançar os cobiçados cachos da fruta, em vão, dizemos, desdenhosamente, como se estivéssemos sendo sinceros: “Não os queria mesmo: estão verdes”. Em relação ao Nobel, desabafamos, com inquestionável despeito: “é marmelada! E o prêmio não tem nenhuma importância”. Será que não tem?

Qual brasileiro – não importa se médico, físico, químico, biólogo, economista ou escritor, ou mesmo emérito pacificador – que nunca cogitou, mesmo que em delirante sonho, desses tão secretos que não admitimos nem para nos mesmos (embora os tenhamos) que nunca ambicionou conquistar um Nobel? E não somente pelo prestígio que esse prêmio confere ao nosso currículo, mas até pelo dinheiro, cuja quantia, convenhamos, não é nada desprezível. Da minha parte, confesso (e não importa o juízo que façam de mim) que isso já me passou pela cabeça pelo menos uma vez, mesmo sabendo (não sou burro) que se trata de remotíssima possibilidade, cuja probabilidade, sejamos realistas,é virtualmente, “quase” zero. Todavia... a vida é tão surpreendente, em seus altos e baixos, que... nunca se sabe.

Debatemos, há décadas, qual a razão de nenhum brasileiro ter conquistado, jamais, nos 115 anos de existência do Nobel, o prêmio em nenhuma das suas categorias. Minha opinião (e respeito quem pense diferente) é que isso se deve, basicamente, a três fatores principais (posto que não únicos e não necessariamente nesta ordem): desconhecimento sobre o Brasil e seus intelectuais e cientistas, certa incompetência da parte das pessoas e entidades nacionais que têm a prerrogativa de lançar candidaturas e... preconceito em relação a nós, brasileiros. Ainda hoje, em boa parte do mundo, milhões de pessoas, entre as quais muitos ditos intelectuais, não sabem nada do nosso país, a despeito da internet onde se pode encontrar informações literalmente sobre tudo e todos quase que instantaneamente.

Ainda há quem não saiba que o Brasil é o quarto maior território da Terra, que tem a quinta população e que, bem ou mal, é a sétima economia mundial. Ainda há quem ache que nossa capital é Buenos Aires. Ainda há europeus, norte-americanos e asiáticos que supõem que feras selvagens, além de cobras e jacarés, perambulem pelas ruas de nossas cidades, que eles imaginam que se trate de meros aldeamentos de índios. Duvidam? Não deveriam! E isso mesmo após uma Copa do Mundo exibida para um público estimado em dois bilhões de espectadores e às vésperas de uma Olimpíada que atrairá para cá os melhores esportistas do Planeta. Se um país, com asx características do nosso, não tem relevância internacional, não sei quem possa ter.

No que se refere à nossa cultura, então, a desinformação e a ignorância são calamitosas. Os poucos que sabem algo a nosso respeito ainda acham que só temos duas manifestações culturais: carnaval e futebol e nada mais. Ora, ora, ora... Não lhes passa nem remotamente pela cabeça que temos uma literatura vibrante, inteligente e criativa, que contamos com artistas excepcionais em todas as artes e que nossos cientistas não ficam nada a dever aos de parte alguma. Li, recentemente, um artigo, comentando, exatamente, o fato de nenhum brasileiro haver ganhado um mísero Nobel, em nenhuma das diversas categorias desse prêmio, de autoria do colunista do jornal “A Gazeta”, Alfredo da Mota Menezes. À certa altura do seu texto, o articulista observa: “Em universidades norte-americanas falam que os latino-americanos quase não contribuem para a evolução da humanidade. Que não se encontra nada que a região tenha feito ou produzido que ajudou a melhorar a qualidade da vida no mundo. Se olharmos pelo prisma do prêmio Nobel parece que têm razão”. Pois é, “parece”. Mas... as aparências enganam.

Se essa gente pensa isso dos latino-americanos em geral, imaginem sua opinião especificamente sobre o Brasil!!! O chato é que muitos brasileiros, os tantos que têm o tal complexo de vira-latas, não só não se revoltam e nem contestam essa opinião, como aplaudem-na e se divertem com ela.  Vários países das Américas do Norte (México), Central (Guatemala e Costa Rica) e do Sul (Argentina, Chile, Peru e Colômbia) já receberam o polêmico prêmio. E não só de Literatura (embora seja na maioria), como os chilenos Gabriela Mistral e Pablo Neruda; o guatemalteco Miguel Angel Asturias, o mexicano Octávio Paz, o colombiano Gabriel Garcia Marquez e o peruano Mário Vargas Llosa.

Os prêmios para a América Latina foram quinze, ou seja, irrisórios 3% do total. Além dos escritores premiados que citei, os químicos Federico Leloir (argentino) e Mário Molina (mexicano) foram galardoados. Na área da Medicina, a Argentina conquistou mais dois prêmios (Cesar Milstein e Alberto houssay), e a Venezuela um, com Baruj Benasseraf.  O Nobel da Paz foi dado ao argentino Adolfo Perez Esquivel, ao costarriquenho Oscar Arias Sanchez e à guatemalteca Rigoberta Manchu. E o Brasil, quantos ganhou? Todos estão cansados de saber: nenhum!!! Mas nenhum brasileiro mesmo foi jamais premiado. Maldito preconceito!!! Voltarei, certamente, ao assunto.


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