Brasil: reconhecimento
zero!
Pedro
J. Bondaczuk
O brasileiro (se é que
se possa generalizar) “parece” dar pouca (ou nenhuma) importância ao Prêmio
Nobel, em todas as suas várias categorias. Nesse caso, cabe, a caráter, o dito
popular de que “as aparências enganam”. E como enganam! A impressão que tenho,
em relação a essa prestigiosa, posto que polêmica premiação é que a fábula de
La Fontaine, “A raposa e as uvas”, simboliza á perfeição nossa atitude a
propósito. Após tentarmos, tentarmos e tentarmos alcançar os cobiçados cachos
da fruta, em vão, dizemos, desdenhosamente, como se estivéssemos sendo
sinceros: “Não os queria mesmo: estão verdes”. Em relação ao Nobel,
desabafamos, com inquestionável despeito: “é marmelada! E o prêmio não tem
nenhuma importância”. Será que não tem?
Qual brasileiro – não
importa se médico, físico, químico, biólogo, economista ou escritor, ou mesmo
emérito pacificador – que nunca cogitou, mesmo que em delirante sonho, desses
tão secretos que não admitimos nem para nos mesmos (embora os tenhamos) que
nunca ambicionou conquistar um Nobel? E não somente pelo prestígio que esse
prêmio confere ao nosso currículo, mas até pelo dinheiro, cuja quantia,
convenhamos, não é nada desprezível. Da minha parte, confesso (e não importa o
juízo que façam de mim) que isso já me passou pela cabeça pelo menos uma vez,
mesmo sabendo (não sou burro) que se trata de remotíssima possibilidade, cuja
probabilidade, sejamos realistas,é virtualmente, “quase” zero. Todavia... a
vida é tão surpreendente, em seus altos e baixos, que... nunca se sabe.
Debatemos, há décadas,
qual a razão de nenhum brasileiro ter conquistado, jamais, nos 115 anos de
existência do Nobel, o prêmio em nenhuma das suas categorias. Minha opinião (e
respeito quem pense diferente) é que isso se deve, basicamente, a três fatores
principais (posto que não únicos e não necessariamente nesta ordem):
desconhecimento sobre o Brasil e seus intelectuais e cientistas, certa
incompetência da parte das pessoas e entidades nacionais que têm a prerrogativa
de lançar candidaturas e... preconceito em relação a nós, brasileiros. Ainda
hoje, em boa parte do mundo, milhões de pessoas, entre as quais muitos ditos
intelectuais, não sabem nada do nosso país, a despeito da internet onde se pode
encontrar informações literalmente sobre tudo e todos quase que instantaneamente.
Ainda há quem não saiba
que o Brasil é o quarto maior território da Terra, que tem a quinta população e
que, bem ou mal, é a sétima economia mundial. Ainda há quem ache que nossa
capital é Buenos Aires. Ainda há europeus, norte-americanos e asiáticos que
supõem que feras selvagens, além de cobras e jacarés, perambulem pelas ruas de
nossas cidades, que eles imaginam que se trate de meros aldeamentos de índios.
Duvidam? Não deveriam! E isso mesmo após uma Copa do Mundo exibida para um
público estimado em dois bilhões de espectadores e às vésperas de uma Olimpíada
que atrairá para cá os melhores esportistas do Planeta. Se um país, com asx
características do nosso, não tem relevância internacional, não sei quem possa
ter.
No que se refere à nossa
cultura, então, a desinformação e a ignorância são calamitosas. Os poucos que
sabem algo a nosso respeito ainda acham que só temos duas manifestações
culturais: carnaval e futebol e nada mais. Ora, ora, ora... Não lhes passa nem
remotamente pela cabeça que temos uma literatura vibrante, inteligente e
criativa, que contamos com artistas excepcionais em todas as artes e que nossos
cientistas não ficam nada a dever aos de parte alguma. Li, recentemente, um
artigo, comentando, exatamente, o fato de nenhum brasileiro haver ganhado um
mísero Nobel, em nenhuma das diversas categorias desse prêmio, de autoria do
colunista do jornal “A Gazeta”, Alfredo da Mota Menezes. À certa altura do seu
texto, o articulista observa: “Em universidades norte-americanas falam que os
latino-americanos quase não contribuem para a evolução da humanidade. Que não
se encontra nada que a região tenha feito ou produzido que ajudou a melhorar a
qualidade da vida no mundo. Se olharmos pelo prisma do prêmio Nobel parece que
têm razão”. Pois é, “parece”. Mas... as aparências enganam.
Se essa gente pensa
isso dos latino-americanos em geral, imaginem sua opinião especificamente sobre
o Brasil!!! O chato é que muitos brasileiros, os tantos que têm o tal complexo
de vira-latas, não só não se revoltam e nem contestam essa opinião, como
aplaudem-na e se divertem com ela.
Vários países das Américas do Norte (México), Central (Guatemala e Costa
Rica) e do Sul (Argentina, Chile, Peru e Colômbia) já receberam o polêmico
prêmio. E não só de Literatura (embora seja na maioria), como os chilenos
Gabriela Mistral e Pablo Neruda; o guatemalteco Miguel Angel Asturias, o
mexicano Octávio Paz, o colombiano Gabriel Garcia Marquez e o peruano Mário
Vargas Llosa.
Os prêmios para a
América Latina foram quinze, ou seja, irrisórios 3% do total. Além dos
escritores premiados que citei, os químicos Federico Leloir (argentino) e Mário
Molina (mexicano) foram galardoados. Na área da Medicina, a Argentina
conquistou mais dois prêmios (Cesar Milstein e Alberto houssay), e a Venezuela
um, com Baruj Benasseraf. O Nobel da Paz
foi dado ao argentino Adolfo Perez Esquivel, ao costarriquenho Oscar Arias
Sanchez e à guatemalteca Rigoberta Manchu. E o Brasil, quantos ganhou? Todos
estão cansados de saber: nenhum!!! Mas nenhum brasileiro mesmo foi jamais
premiado. Maldito preconceito!!! Voltarei, certamente, ao assunto.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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