Progresso paga tantos riscos?
Pedro J.
Bondaczuk
A energia nuclear,
tida e havida como inesgotável manancial de progresso e de poder para quem a
detém, para a geração de eletricidade, ou para uso pacífico (e mesmo militar)
apresenta uma série de problemas de difícil solução que parece estar sendo
desprezada, em vez de resolvida.
O da destinação dos dejetos não
é, entre eles, o de menores proporções. Os diversos países que utilizam,
intensivamente, essa fonte energética, como os Estados Unidos, a Grã-Bretanha,
a França, a Alemanha Ocidental e a União Soviética, entre outros, não sabem o
que fazer com esse lixo tão peculiar.
A maioria costuma guardar os
resíduos em minas de sal abandonadas. Há quem os coloque em cavernas, que são,
posteriormente, hermeticamente lacradas para impedir a radiação. Alguns, ainda,
colocam o plutônio, o cobalto, o amerício e sabe-se mais o quê, resultante das
diversas reações nucleares, em tambores de chumbo, vedados com grossas camadas
de concreto, que são jogados no fundo dos oceanos.
A grande dificuldade apresentada
por esses dejetos é o período de sua atividade e, portanto, periculosidade.
Alguns têm sobrevida ativa de 500 anos, ou seja, meio milênio. E à medida em
que os reatores atômicos para a geração de eletricidade aumentam no mundo (na
França, a energia gerada por usinas desse tipo já representa 63% do total),
mais lixo é produzido. E maior fica sendo o problema do que fazer com ele.
A eliminação, pura e simples,
como se faz com outros produtos inúteis, é impossível. Ademais, o número de
minas de sal abandonadas, ou de cavernas subterrâneas inacessíveis, não é tão
grande ao ponto de poder comportar uma acumulação indefinida dos resíduos.
Eis, portanto, a verdadeira
“Caixa de Pandora”, aberta pelos homens no começo deste século, que tem causado
mais problemas do que vantagens para a humanidade (além daqueles fartamente
conhecidos, representados pelas armas nucleares).
A imprudência com que os produtos
radioativos são manipulados, por outro lado, é um risco potencial permanente
para a ocorrência de outros desastres, como o de Goiânia, para não mencionar o
de Chernobyll, pelo mundo afora.
Muitos já devem ter acontecido e ter ficado escondidos,
sob um criminoso manto de sigilo. Sabe-se que os dejetos nucleares, localizados
agora na Alemanha Ocidental, procedentes da Bélgica e levados para o território
alemão ocidental ilegalmente, procedem de algum acidente desse tipo, que teria
sido escondido da opinião pública.
Como se vê, não foram apenas os
soviéticos, com o caso ocorrido na Ucrânia, que entenderam que o silêncio era o
melhor remédio para esconder suas mazelas. Há, ao que parece, muito mais gente
agindo assim. Será que o tão apregoado progresso vale tantos riscos?
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 29
de dezembro de 1987).
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