Tuesday, October 20, 2015

Progresso paga tantos riscos?


Pedro J. Bondaczuk


 A energia nuclear, tida e havida como inesgotável manancial de progresso e de poder para quem a detém, para a geração de eletricidade, ou para uso pacífico (e mesmo militar) apresenta uma série de problemas de difícil solução que parece estar sendo desprezada, em vez de resolvida.

O da destinação dos dejetos não é, entre eles, o de menores proporções. Os diversos países que utilizam, intensivamente, essa fonte energética, como os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a França, a Alemanha Ocidental e a União Soviética, entre outros, não sabem o que fazer com esse lixo tão peculiar.

A maioria costuma guardar os resíduos em minas de sal abandonadas. Há quem os coloque em cavernas, que são, posteriormente, hermeticamente lacradas para impedir a radiação. Alguns, ainda, colocam o plutônio, o cobalto, o amerício e sabe-se mais o quê, resultante das diversas reações nucleares, em tambores de chumbo, vedados com grossas camadas de concreto, que são jogados no fundo dos oceanos.

A grande dificuldade apresentada por esses dejetos é o período de sua atividade e, portanto, periculosidade. Alguns têm sobrevida ativa de 500 anos, ou seja, meio milênio. E à medida em que os reatores atômicos para a geração de eletricidade aumentam no mundo (na França, a energia gerada por usinas desse tipo já representa 63% do total), mais lixo é produzido. E maior fica sendo o problema do que fazer com ele.

A eliminação, pura e simples, como se faz com outros produtos inúteis, é impossível. Ademais, o número de minas de sal abandonadas, ou de cavernas subterrâneas inacessíveis, não é tão grande ao ponto de poder comportar uma acumulação indefinida dos resíduos.

Eis, portanto, a verdadeira “Caixa de Pandora”, aberta pelos homens no começo deste século, que tem causado mais problemas do que vantagens para a humanidade (além daqueles fartamente conhecidos, representados pelas armas nucleares).

A imprudência com que os produtos radioativos são manipulados, por outro lado, é um risco potencial permanente para a ocorrência de outros desastres, como o de Goiânia, para não mencionar o de Chernobyll, pelo mundo afora.

Muitos já devem ter acontecido e ter ficado escondidos, sob um criminoso manto de sigilo. Sabe-se que os dejetos nucleares, localizados agora na Alemanha Ocidental, procedentes da Bélgica e levados para o território alemão ocidental ilegalmente, procedem de algum acidente desse tipo, que teria sido escondido da opinião pública.

Como se vê, não foram apenas os soviéticos, com o caso ocorrido na Ucrânia, que entenderam que o silêncio era o melhor remédio para esconder suas mazelas. Há, ao que parece, muito mais gente agindo assim. Será que o tão apregoado progresso vale tantos riscos?

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 29 de dezembro de 1987).


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