Wednesday, October 28, 2015

Duelo Reagan x Mondale


Pedro J. Bondaczuk


O debate a ser travado hoje à noite, na TV, pelos candidatos à Presidência da República dos EUA, Ronald Reagan e Walter Mondale, é um dos mais importantes desde que esse tipo de contato entre os postulantes ao governo e o eleitorado foi criado.

No confronto realizado no dia 7 passado, abordando temas essencialmente domésticos, o político democrata confirmou a sua fama de emérito debatedor e surpreendeu, não só o seu oponente, como vasta parcela da opinião pública, e inclusive dos observadores internacionais que contavam com uma folgada vitória do atual presidente norte-americano.

Se no debate anterior o assunto era francamente favorável a Ronald Reagan, hoje as situações estarão dramaticamente trocadas. Se Mondale, contudo, antes contava com a vantagem de poder ficar na ofensiva, deve esperar uma intensa bateria de acusações por parte do oponente quanto à desastrada condução da política externa dos EUA por parte de Jimmy Carter, a quem o candidato serviu durante quatro anos como vice-presidente. Certamente, o político republicano, pelas indicações dadas nestes últimos quinze dias, vai tentar fazer do ataque sua melhor arma de defesa.

Entretanto, a própria evolução dos acontecimentos da semana é francamente contrária a Ronald Reagan. Apesar do presidente salvadorenho, José Napoleón Duarte, Ter oferecido na bandeja um inesperado presente ao presidente norte-americano, ao reunir-se com a guerrilha de El Salvador, segunda-feira, em La Palma, essa possível vantagem, em termos de campanha, acabou anulada com a derrubada, ontem, de um avião de espionagem da CIA por parte dos guerrilheiros, causando a morte de quatro agentes de Tio Sam.

Apesar do presidente soviético, Konstantin Chernenko, numa visível tentativa de influir no processo eleitoral da superpotência do Ocidente, ter estranhamente ajudado a Ronald Reagan, na sua entrevista publicada durante a semana pelo “Washington Post”, fazendo acenos (embora débeis) de distensão e mostrando sinais de querer negociar com a Casa Branca, mais uma vez a sua Agência Central de Inteligência “quebra os ovos, sem fazer a maionese”. Ou seja, distribui aos anti-sandinistas da Nicarágua um incrível e desastrado manual de guerrilha.  

Não vai faltar, portanto, chumbo grosso ao adversário para tentar aniquilar de vez com as pretensões do atual presidente de permanecer mais quatro anos no poder. E pela amostra dada no último dia 7, não tenham dúvidas, Mondale vai usar e abusar dos argumentos contundentes que tem em mãos contra o seu oponente. E mais, vai ressaltar os atentados no Líbano, que Reagan poderia ter evitado se tivesse dado ouvidos às informações prévias de seu serviço secreto, mas não evitou, por não acreditar na ousadia dos terroristas libaneses.

As conseqüências, todos conhecem. Três ataques com caminhões carregados de explosivos, exatamente iguais. Dois deles, inclusive, sobre o mesmíssimo alvo, ou seja, a embaixada norte-americana em Beirute. O terceiro, o pior de todos, trouxe um saldo trágico de 241 fuzileiros mortos, a maior quantidade de vítimas fatais de militares dos EUA desde a guerra do Vietnã.

Até mesmo a citação do problema dos reféns, de 1979, freqüentemente usada pelos republicanos para exemplificar o desastre na condução da política externa do ex-presidente Jimmy Carter, desfavorece, nas atuais circunstâncias, a Ronald Reagan.

Apesar de naquela oportunidade os EUA terem sido humilhados com a frustrante ocupação, por parte de estudantes fundamentalistas iranianos, de sua embaixada em Teerã pelo inédito prazo de exatos 444 dias, Mondale certamente vai ressaltar que do incidente não resultou um único norte-americano morto.

Carter tem a seu favor (e o seu ex-vice-presidente vai explorar o fato, não tenham dúvidas) de não ter vítimas diplomáticas a lamentar em nenhum país com o qual Washington mantém relações, apesar do incêndio verificado na sede da diplomacia ianque em Islamabad, em 1979.

Na oportunidade, a embaixada norte-americana foi queimada, no Paquistão, por partidários da política do líder religioso do vizinho Irã, aiatolá Ruhollah Khomeini. Mas ninguém morreu e os danos foram apenas materiais.

Vai ser muito difícil, senão impossível, Reagan passar à ofensiva. E Walter Mondale apenas perderá esse debate se revelar uma contundente ineficiência e uma brutal incapacidade (o que, se o fizer, justificará plenamente uma certeira derrota no pleito de 6 de novembro) em explorar tantos e tão fulminantes argumentos que tem a seu favor.

É um perigoso e ingrato exercício de futurologia extrapolar possíveis reações de seres humanos, principalmente quando sob tensão. Ninguém pode dizer com certeza como vão reagir os candidatos no calor do debate. Entretanto, se der a lógica (o que nessas circunstâncias nem sempre ocorre), Mondale não deve perder o confronto de hoje.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de outubro de 1984).


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