Duelo Reagan x Mondale
Pedro J. Bondaczuk
O debate a ser travado hoje
à noite, na TV, pelos candidatos à Presidência da República dos EUA, Ronald
Reagan e Walter Mondale, é um dos mais importantes desde que esse tipo de
contato entre os postulantes ao governo e o eleitorado foi criado.
No
confronto realizado no dia 7 passado, abordando temas essencialmente
domésticos, o político democrata confirmou a sua fama de emérito debatedor e
surpreendeu, não só o seu oponente, como vasta parcela da opinião pública, e
inclusive dos observadores internacionais que contavam com uma folgada vitória
do atual presidente norte-americano.
Se
no debate anterior o assunto era francamente favorável a Ronald Reagan, hoje as
situações estarão dramaticamente trocadas. Se Mondale, contudo, antes contava
com a vantagem de poder ficar na ofensiva, deve esperar uma intensa bateria de
acusações por parte do oponente quanto à desastrada condução da política
externa dos EUA por parte de Jimmy Carter, a quem o candidato serviu durante
quatro anos como vice-presidente. Certamente, o político republicano, pelas
indicações dadas nestes últimos quinze dias, vai tentar fazer do ataque sua
melhor arma de defesa.
Entretanto,
a própria evolução dos acontecimentos da semana é francamente contrária a
Ronald Reagan. Apesar do presidente salvadorenho, José Napoleón Duarte, Ter
oferecido na bandeja um inesperado presente ao presidente norte-americano, ao
reunir-se com a guerrilha de El Salvador, segunda-feira, em La Palma, essa
possível vantagem, em termos de campanha, acabou anulada com a derrubada,
ontem, de um avião de espionagem da CIA por parte dos guerrilheiros, causando a
morte de quatro agentes de Tio Sam.
Apesar
do presidente soviético, Konstantin Chernenko, numa visível tentativa de influir
no processo eleitoral da superpotência do Ocidente, ter estranhamente ajudado a
Ronald Reagan, na sua entrevista publicada durante a semana pelo “Washington
Post”, fazendo acenos (embora débeis) de distensão e mostrando sinais de querer
negociar com a Casa Branca, mais uma vez a sua Agência Central de Inteligência
“quebra os ovos, sem fazer a maionese”. Ou seja, distribui aos anti-sandinistas
da Nicarágua um incrível e desastrado manual de guerrilha.
Não
vai faltar, portanto, chumbo grosso ao adversário para tentar aniquilar de vez
com as pretensões do atual presidente de permanecer mais quatro anos no poder.
E pela amostra dada no último dia 7, não tenham dúvidas, Mondale vai usar e
abusar dos argumentos contundentes que tem em mãos contra o seu oponente. E
mais, vai ressaltar os atentados no Líbano, que Reagan poderia ter evitado se
tivesse dado ouvidos às informações prévias de seu serviço secreto, mas não
evitou, por não acreditar na ousadia dos terroristas libaneses.
As
conseqüências, todos conhecem. Três ataques com caminhões carregados de
explosivos, exatamente iguais. Dois deles, inclusive, sobre o mesmíssimo alvo,
ou seja, a embaixada norte-americana em Beirute. O terceiro, o pior de todos,
trouxe um saldo trágico de 241 fuzileiros mortos, a maior quantidade de vítimas
fatais de militares dos EUA desde a guerra do Vietnã.
Até
mesmo a citação do problema dos reféns, de 1979, freqüentemente usada pelos
republicanos para exemplificar o desastre na condução da política externa do
ex-presidente Jimmy Carter, desfavorece, nas atuais circunstâncias, a Ronald
Reagan.
Apesar
de naquela oportunidade os EUA terem sido humilhados com a frustrante ocupação,
por parte de estudantes fundamentalistas iranianos, de sua embaixada em Teerã
pelo inédito prazo de exatos 444 dias, Mondale certamente vai ressaltar que do
incidente não resultou um único norte-americano morto.
Carter
tem a seu favor (e o seu ex-vice-presidente vai explorar o fato, não tenham
dúvidas) de não ter vítimas diplomáticas a lamentar em nenhum país com o qual
Washington mantém relações, apesar do incêndio verificado na sede da diplomacia
ianque em Islamabad, em 1979.
Na
oportunidade, a embaixada norte-americana foi queimada, no Paquistão, por
partidários da política do líder religioso do vizinho Irã, aiatolá Ruhollah
Khomeini. Mas ninguém morreu e os danos foram apenas materiais.
Vai
ser muito difícil, senão impossível, Reagan passar à ofensiva. E Walter Mondale
apenas perderá esse debate se revelar uma contundente ineficiência e uma brutal
incapacidade (o que, se o fizer, justificará plenamente uma certeira derrota no
pleito de 6 de novembro) em explorar tantos e tão fulminantes argumentos que
tem a seu favor.
É
um perigoso e ingrato exercício de futurologia extrapolar possíveis reações de
seres humanos, principalmente quando sob tensão. Ninguém pode dizer com certeza
como vão reagir os candidatos no calor do debate. Entretanto, se der a lógica
(o que nessas circunstâncias nem sempre ocorre), Mondale não deve perder o
confronto de hoje.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de outubro de 1984).
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