Disparada de preços
Pedro J.
Bondaczuk
Os preços de alguns produtos, sem razões aparentes,
continuam enlouquecidos, dando saltos fantásticos de um dia para o outro. Não
se trata de aumento de demanda – que bom seria se o poder aquisitivo permitisse
isso! –, de queda na oferta e sequer de estouro na base monetária, as causas
clássicas de aumento da inflação e, por conseqüência, do custo de vida.
Desde o anúncio da criação da Unidade Real de Valor, em 28
de fevereiro passado, alguns produtos tiveram altas exorbitantes, numa única
semana, superiores a 100%. O pretexto é sempre o mesmo: medo de um
congelamento, mesmo tendo ficado claro que este não virá.
O que fazer? O governo acena com punições que nunca
surtiram efeito. E nem se sabe se o ideal é punir ou conquistar a adesão dos
setores que exageram nas remarcações para que se aliem nessa cruzada contra a
inflação. Ingenuidade? Ingênuo, também, é o procedimento adotado durante o
Plano Cruzado, de caça às bruxas. Irreal é achar que a liberação das importações
vai deter a fúria remarcadora. Como diz o sábio caboclo interiorano: “é melhor
um mau acordo do que uma boa briga”.
Levantamento do “Jornal do Brasil”, feito em supermercados
e farmácias do Rio de Janeiro, mostra que desde 28 de fevereiro o quilo do feijão
preto na cidade aumentou 138,46%; a massa de macarrão com ovos, 53,33%; o
açúcar, 36,84%; o sabão em pó, 108,16% e os medicamentos, 39%, em média.
A URV, no mesmo período, teve elevação de somente 9,5%.
Esse panorama no Rio não é muito diferente em outras cidades, inclusive em
Campinas. A população vive, portanto, outra vez o drama de fazer o dinheiro
esticar ao máximo para comprar o mínimo.
Aliás, a melhor estratégia para fazer os preços baixarem é
utilizar as regras de mercado. Reduzir as compras ao estritamente necessário,
adotar uma economia de guerra para fazer os especuladores sentirem no bolso (o
deles) os efeitos de sua “esperteza”.
Na hora em que precisarem repor estoque, pagar as
duplicatas, cobrir a folha de pagamento e não tiverem o suficiente no caixa,
certamente cairão em si. Essa história de ameaçar com Sunab, de reduzir
alíquotas de importação, de falar em devassa, de brandir publicamente a lei
delegada número quatro, não funciona. Trata-se de um filme a que já assistimos
muitas vezes.
(Artigo publicado
na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 9 de março de 1994).
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