Sunday, October 04, 2015

A discriminada literatura de língua portuguesa

Pedro J. Bondaczuk

A Literatura em língua portuguesa é inferior à exercitada por escritores que se utilizam de outros idiomas, como o inglês, francês, alemão, sueco, russo, e vai por aí afora? Claro que não! Quem ousaria dizer tamanho disparate?! Então gostaria que alguém me explicasse, mas com argumentos sólidos, qual a razão de um único e solitário escritor que se utiliza desse belíssimo e rico idioma haver sido reconhecido até aqui com o Prêmio Nobel de Literatura. Refiro-me, claro, a José Saramago, premiado em 1998, 97 anos após essa premiação haver sido instituída.

Brasil, Portugal e demais países que adotam nosso idioma, como Angola, Moçambique, Cabo Verde, entre outros, contam com homens de letras excepcionais, que nada ficam a dever aos de nenhuma outra parte do mundo em termos de competência, criatividade, originalidade e tudo o mais que caracterize uma obra literária digna de permanência. Por que, então, não são reconhecidos pela Academia Sueca? Seria por desinformação? Seria preconceito? Ou as entidades responsáveis por propor as respectivas candidaturas não são tão atuantes como deveriam ser? Creio que se trate, um pouco, de todos esses fatores reunidos.

Deixando os brasileiros de lado – que são tantos os que já mereceram ganhar um Nobel de Literatura que é preciso fazer um comentário á parte, o que farei oportunamente – os escritores de Portugal e de suas ex-colônias ascendem às centenas. É possível encher várias páginas com os nomes dos “injustiçados” e, ainda assim, muitos seriam omitidos, por esquecimento ou desinformação do comentarista. E, creiam-me, não exagero.

Recorrendo, somente, à lista dos ganhadores do Prêmio Camões – instituído muito recentemente, em 1989 – e deixando de lado os brasileiros que, reitero, serão abordados em comentários á parte, cito os seguintes escritores: Miguel Torga (1989), o moçambicano José Craveirinha (1991), Vergílio Ferreira (1992), o próprio José Saramago (1995, exceção por ser o único reconhecido pela Academia Sueca), Eduardo Lourenço (1996), o angolano Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, conhecido como “Pepetela” (1997), Sophia de Melo Breyner (1999), Eugênio de Andrade (2001), Maria Velho da Costa (2002), Agustina Bessa-Luís (2004), José Luandino Vieira (2006), o caboverdense Armênio Vieira (2009), Manuel Antonio Pina (2011) e o moçambicano Mia Couto (2014)..

Nenhum desses mestres do texto literário mereceu, ou merece o Prêmio Nobel?!!! Ora, ora, ora... Ouso dizer que todos mereceram (e os ainda vivos merecem), embora fosse impossível, pela natureza da premiação, fazer justiça a todos. O que acho inconcebível é o fato de somente UM dos integrantes dessa seletíssima relação, no caso José Saramago, ter sido premiado. Entre os portugueses que, pela qualidade de sua obra, mereceriam o cobiçado prêmio, e não ganharam – citando apenas os que estavam em atividade quando o Nobel de Literatura já existia, ou seja, a partir de 1901 já que a premiação não é de caráter póstumo – posso citar, por exemplo: Guerra Junqueiro, Raul Brandão, Fernando Pessoa (como o criador dos heterônimos não foi premiado?!!!), Mário de Sá Carneiro, Almada Negreiros e Florbela Espanca. E olhem que muitos e muitos nomes ficaram de fora dessa relação.

Dos escritores portugueses nascidos após 1900, merecem menção: Agostinho da Silva, Adolfo Casais Monteiro, Joaquim Paços D’Arcos, Jorge de Sena, Fernando Namora, Eugênio de Andrade, Alexandre O’Neil, Casemiro de Brito, Antonio Torrado, Vasco Graça Moura, Miguel Esteves Cardoso, Antonio Pocinho, Paulo Teixeira etc.etc.etc. Com tantas opções – e olhem que omiti os brasileiros que citarei oportunamente – a Academia Sueca SÓ premiou José Saramago, como único escritor de língua portuguesa!!!! Está mais do que na hora dos ilustres jurados olharem com mais atenção para a riquíssima literatura produzida no Brasil, em Portugal e em suas ex-colônias. Ou estou exagerando?? Quem sabe o moçambicano Mia Couto – que nas casas de apostas da Ladbrokes está cotado a 50 por 1 – surpreenda o mundo literário, a mídia internacional e os apostadores e, dessa forma, torne milionários os raros que apostaram nele. Quem sabe...


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