Enquete pode ter
inclusões, mas não exclusões
Pedro
J. Bondaczuk
A enquete feita pelo
site “Homo Literatus” sobre “catorze personagens femininas inesquecíveis”, que
reproduzi (e comentei) nas últimas semanas, é elogiável, sob todos os aspectos.
Houve, porém, quem confundisse as coisas (sempre há pessoas desse tipo,
inquietas, ou ranzinzas, ou tudo isso junto, enfim, chatas), contestando, com
vigor até além da medida, os nomes apontados. Haja paciência!!! Tais
contestadores argumentam que há mulheres mais relevantes na literatura mundial
e que não integram a relação. Concordo. De fato, há.
Mas, ponderemos. A
proposta dos organizadores dessa consulta informal não foi a de determinar
quais personagens femininas são “mais” importantes do que outras. O fato dos
convidados optarem pelas protagonistas que optaram não quer dizer que as
consideraram “superiores” às milhares e milhares e milhares (quiçá, sem
exagero, milhões) que foram omitidas. Longe disso. Não foi esta a proposta da
enquete. Nem poderia ser. Trata-se, portanto, de um processo de “inclusão” e
não de “exclusão”.
Tudo bem que a enquete
poderia envolver mais nomes, que não somente os catorze que envolveu, conforme
observaram (aí sim, com certa pertinência) alguns leitores. Mas quantos? Vinte,
para arredondar a cifra? Cinquenta? Cem? Mil? Ouso dizer que as personagens
femininas inesquecíveis ascendem a muitíssimo mais do que isso. Todavia,
ampliar essa quantidade inviabilizaria a enquete, levando em conta o espaço de
um site. Ela teria que se estender por anos e, ainda assim, muitas, muitíssimas
heroínas (e vilãs) ficariam de fora.
Da minha parte, faço
questão de frisar que não contesto e não faço a menor restrição a nenhum dos
catorze nomes escolhidos. Claro que, como qualquer leitor, acrescentaria uma
quantidade imensa (nem sei de quanto) de personagens femininas não citadas,
caso essas citações fossem “tecnicamente” viáveis. Mas... não são. De qualquer
forma, proponho-me a trazer à baila, nos próximos dias, com as respectivas
justificativas e comentários pertinentes, várias das protagonistas notáveis não
citadas, excluindo, logicamente, as catorze do site “Homo Literatus”, para não
ser repetitivo, pois fica implícito que elas também integram minha escolha.
Recapitulemos quais
foram as escolhidas na enquete do “Homo Literatus”. O nome dos especialistas em
Literatura que optaram pelas catorze “eleitas vai entre parêntesis. Elas foram
as seguintes, pela ordem:
Daenerys Targaryen, de
George R.R. Martin em: “Crônicas de gelo e fogo” (Gabriel Gaspar); Tereza, de
Milan Kundera em “A Insustentável Leveza do Ser” (Marcela Güther); Nastácia
Filíppovna, de Fiódor Dostoiévski, em “O Idiota” (Márcio Ahimsa); Molly Bloom,
de James Joyce em “Ulysses” (Walter Alfredo Voigt Bach); Daisy Buchanan, de F.
Scot Fitzgerald em “O Grande Gatsby” (Cecilia Garcia); Nina, de Lúcio Cardoso
em “Crônica da Casa Assassinada” (Marcelo Gabriel Delfino);Tristessa, de Jack
Kerouac em “Tristessa” (Vilto Reis); Capitu, de Machado de Assis em “Dom
Casmurro” (Sofia Alves); Emma Bovary, de Gustave Flaubert em “Madame Bovary”
(Nicole Ayres);Hermione, de J.K. Rowling em “Harry Potter” (Maik Anderson
Barbara); Macabéa, de Clarice Lispector em “A hora da estrela” (Sté Spengler);
Nástienka, de Fiodor Dostoiévski em “Noites Brancas” (Marcelo Vinicius);
Fraülein Elza, de Mário de Andrade em “Amar, Verbo Intransitivo” (Márwio
Câmara) e Úrsula Iguarán, de Gabriel Garcia Márquez em “Cem anos de solidão”
(Ygor Speranza).
Como se vê, é um elenco
dos mais respeitáveis. Há personagens para todos os gostos e todos os estilos.
E todas, convenhamos, são muito bem construídas por seus ilustres e criativos
criadores (com o perdão da redundância) e, sem dúvida, inesquecíveis. Se são
mais, ou se são menos das tantas, e tantas, e tantas que poderiam ser citadas, mas
não foram, são outros quinhentos. Mas que a relação é das mais felizes e
oportunas, disso não tenho a menor dúvida. E o leitor tem? Creio que não! Há,
por exemplo, personagens consensuais, que qualquer pessoa, com um mínimo de
familiaridade com literatura de ficção, escolheria. Respondam com honestidade:
quem, em sã consciência, deixaria de fora uma Capitu, em qualquer enquete do
tipo? Ou Emma Bovary? Ou Molly Bloom? Ou Nina? Ou Macabea? Ou Fraülein Elza? Ou
Ursula Iguarán? Ou mesmo Hermione, que contribuiu para que J. K. Rowling se
tornasse a primeira pessoa do mundo a se tornar bilionária às custas,
exclusivamente, da Literatura?
Apenas a título de
provocação, proponho-lhes o seguinte raciocínio. Suponha que algum bibliófilo,
desses fanáticos por livros e com fartura de dinheiro para adquiri-los, tenha
reunido, ao longo da vida, uma biblioteca de vinte mil volumes e que, por
questão de preferência, sejam todos eles de ficção. Essa imensidão de obras
literárias, todavia, seria mera gota de água no oceano comparada, apenas, com
todos os romances, contos, novelas e peças teatrais de sucesso já escritos e
publicados. Ainda assim, seu feliz proprietário (gostaria de ser ele)
conseguiria ler uma quantidade ínfima desse acervo. Pensem bem: se lesse um
livro por dia, sem falhar nenhum, sem nunca ficar doente, entediado e sem
exercer nenhuma atividade a não ser a leitura e se não perdesse tempo com
nenhuma diversão, sabe quanto tempo levaria para ler todos os vinte mil volumes
de sua biblioteca? Façam as contas. Se não errei no cálculo, despenderia 54
anos e alguns quebrados para isso!!!!
Supondo que começasse a
empreitada aos oito anos de idade (o que é sumamente improvável) concluiria a
jornada de leitura aos... 62 anos!!!!! Por mais que alguma pessoa goste de ler,
convenhamos, pode-se dizer que a tarefa, se não é impossível, é totalmente
improvável. Improbabilíssima! Se alguém conseguisse a façanha, seria notícia no
mundo todo, nos jornais, revistas, rádio, televisão e internet. O registro no
“Guiness”, badalado livro de recordes, seria pouco para ela. E quantas
personagens femininas inesquecíveis não há nesses vinte mil romances, contos,
novelas e peças teatrais? Sim, quantas? Dá para sequer estimar? Ora, ora,
ora...
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment