Fracasso como motor do
sucesso
Pedro
J. Bondaczuk
O escritor francês
Honoré de Balzac foi um sujeito do tipo em que as circunstâncias da sua vida
rivalizam, em interesse, com a obra que produziu. E olhem que esta foi
assombrosa, tanto em quantidade, quanto em qualidade. Foi gênio das letras e
isso ninguém discute. Basta ver a quantidade de escritores que influenciou, a
maioria hoje clássicos da Literatura mundial, entre os quais inclui-se o nosso
Machado de Assis. O sujeito foi um fenômeno! Entre outras coisas, devemos-lhe a
criação do Realismo nas letras mundiais. Notabilizou-se por suas agudas
observações psicológicas, sobretudo das mulheres (mas não somente delas), que
compreendia como poucos. Não por acaso, virou “adjetivo” das figuras femininas
de determinada idade.
Quem nunca ouviu a
expressão “balzaquiana”? Ela é utilizada, há muito tempo e o tempo todo, para
caracterizar mulheres cuja idade seja igual ou próxima ou mesmo um tantinho
superior aos trinta anos. Sua vasta obra mostra que as conhecia como poucos.
Ousaria dizer, até, que como ninguém. Era um “expert” no universo feminino.
Captou, e descreveu, gostos, temores, pensamentos, sentimentos etc. etc.etc.
das fêmeas de diversas idades e condições econômicas e sociais, variando,
apenas, em intensidade. A origem desse adjetivo é o primoroso romance de Balzac
“A mulher dos trinta anos”, obra-prima sem igual. Nem precisava dizer.
Afinal...
O que choca o estudioso
de Literatura é a constatação que sua genialidade literária, sua incrível
criatividade, seu incomparável poder de observação eram proporcionais à sua
incompetência quando se tratava de fazer negócios. O sujeito era um rotundo,
completo e absoluto fracasso quando o assunto era ganhar dinheiro. Metia-se em
transações absurdas. Perdia fortunas num piscar de olhos. Era um verdadeiro
“pato”, desses que uma criança de seis anos embrulharia com a maior facilidade,
sem fazer qualquer esforço. Vivia, pois, endividado, atolado em contas a pagar
sem quase nada a receber, com a corda no
pescoço, premido (ou espremido?) por credores, que não lhe davam trégua.
Curiosamente, esses desastres financeiros, constantes, onipresentes e
repetitivos transformaram-se em principal combustível para exercitar sua
genialidade. Foi um homem que feza do fracasso (como negociante) o motor de seu
sucesso (como escritor).
Tinha que escrever,
escrever e escrever, incansável e doidamente, e publicar de imediato o que
escrevia, para conseguir algum dinheiro para pagar dívidas, posto que seus
ganhos fossem sempre insuficientes. Para sorte dele, tinha um talento absurdo,
que talvez nem ele soubesse que fosse tanto e que, portanto, não valorizasse.
Para que o leitor tenha uma idéia, a coleção de romances, novelas e contos que
escreveu, intitulada “A comédia humana”, consiste de 95 livros, nos quais
Balzac retratou todos os níveis da sociedade francesa do seu tempo. Porém,
sabem o que mais? O escritor achou que não havia esgotado o assunto. Diga-se de
passagem que nunca foi repetitivo. Todos esses livros são rigorosamente
originais, geniais, únicos. Pois não é que Balzac ainda não estava
satisfeito?!!! Seu plano era o de escrever mais, muito mais, pelo menos o mesmo tanto de livros que já havia escrito,
o que só não fez porque a morte não deixou. Morreu relativamente jovem (até
para aquele tempo, a primeira metade do século XIX), em 18 de agosto de 1850,
aos 51 anos de idade. Pudera! Nem mesmo máquinas, feitas de aço, resistem a
tanta atividade.
Todavia, Balzac não se
limitou, apenas, a escrever romances, novelas e contos. “A comédia humana”, por
si só fenômeno de produtividade e criatividade, está longe, muito longe de se
constituir em seu único legado às letras mundiais. Escreveu, também,
"estudos filosóficos" (como “A Procura do Absoluto”, 1834) e estudos
analíticos (como a “Fisiologia do Casamento”, que causou escândalo ao ser publicado
em 1829). Foi “só” (como se isso fosse pouco)?!!! Longe disso! Escreveu “Du
Droit d'aînesse” (1824), “Histoire impartiale des Jésuites” (1824), “Code des
gens honnêtes” (1826), etc,etc.etc. E muitos eteceteras! É verdade que não fez
fortuna com sua obra. Ao contrário, morreu devendo para Deus e o mundo. Porém
conquistou algo que para qualquer escritor é o mais importante: o
reconhecimento da posteridade. Influenciou romancistas, também geniais, como
Eça de Queiroz, Gustave Flaubert, Marcel Proust, Henry James, etc.etc.etc.
Segue influenciando milhares e milhares de escritores, mundo e tempo afora,
mesmo que não reconheçam essa influência e sequer a identifiquem. Que sujeito
mais estranho foi esse tal de Balzac!!!!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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