Política confusa de Reagan
Pedro J.
Bondaczuk
A política norte-americana em relação ao Golfo Pérsico
continua confusa e contraditória, abrindo brechas para a penetração, cada vez
maior, da União Soviética na região. A estratégia da Casa Branca consiste em
impedir que Irã ou Iraque saiam vencedores na guerra que travam há sete anos.
Os EUA temem que uma vitória
iraniana, por exemplo, deixe as monarquias árabes moderadas da área (que são
uma garantia de estabilidade ali, bem na chamada jugular do petróleo do mundo
ocidental) em maus lençóis, com insurreições, de suas populações xiitas,
insufladas pelo carisma do aiatolá Ruhollah Khomeini.
O sucesso iraquiano, por outro
lado, abriria brecha ainda maior para a penetração soviética no Golfo, deixando
a superpotência do Leste com rara, e inesperada, vantagem tática. Para Ronald
Reagan, o ideal seria que os dois países em conflito aceitassem uma espécie de
empate. Ou que ambos saíssem tão arrasados da guerra, que não representassem
nenhum perigo pra os vizinhos.
Mas a política é um jogo que tem
que ser jogado com a realidade, e não com meros desejos ou fantasias. A
despeito da grande eficiência da sua Força Aérea, é perceptível, para qualquer
observador mais atento, mesmo que inexperiente, que Bagdá cede terreno ao
adversário a cada dia que passa. A questão é: até quando vai conseguir
resistir?
Desde meados de 1981 que o
general Saddam Hussein se deu conta do erro tático que cometeu, ao iniciar uma
guerra que não tinha forças para concluir. Superestimou dois fatores: o apoio
financeiro que receberia do mundo árabe e a ajuda de Moscou para o seu esforço
militar.
A comunidade árabe, no entanto,
revelou à opinião pública que, de fato, jamais foi tão unida como deu a entender que era. Fosse o
adversário do Iraque um país que professasse outro credo religioso, que não o
muçulmano, talvez o confronto armado já estivesse até decidido em favor do
Iraque.
Mas os fiéis xiitas, nas
monarquias do Golfo Pérsico, são em número bastante expressivo e jamais
aceitariam agir contra o homem que consideram estar, na escala hierárquica,
somente abaixo do profeta Maomé. A União Soviética, por seu turno, sempre
demonstrou uma posição dúbia face ao conflito.
É bom que não se perca de conta
que a superpotência marxista tem mais de dois mil quilômetros de fronteiras com
a República Islâmica. E que nessas regiões fronteiriças está a sua população
que professa a fé muçulmana (embora tenha que praticar a religião com muita
reserva).
Se o Irã, em algum instante,
estivesse em risco rel de ser derrotado, e invadido, Moscou, certamente,
temeria pela reação desses seus cidadãos, que têm o rótulo de “soviéticos”, mas
cujo coração está dividido entre a ideologia e a fé.
Por isso, o melhor que Reagan
poderia fazer, gora, antes que seja muito tarde, seria repensar sua estratégia,
levando em conta a possibilidade, cada vez mis iminente, de uma vitória
iraniana. Afinal, como disse o escritor norte-americano Arnold H.Glasow: “um
dos testes da liderança é a habilidade de reconhecer um problema antes que ele
se torne uma emergência”.
(Artigo publicado na página 20, Internacional, do Correio Popular, em 1º
de novembro de 1987)
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