A incontrolável marcha
do tempo
Pedro
J. Bondaczuk
“
(...) O tempo é algo que não volta atrás.
Por
isso plante seu jardim e decore sua alma,
Ao
invés de esperar que alguém lhe traga flores (...)”.
Esta constatação,
seguida de sábia e prudentíssima recomendação, foi feita por ninguém menos do
que William Shakespeare. São versos de um de seus tantos sonetos (não me
recordo qual, mas pouco importa), não rimados na tradução, posto que sejam no
original. A conclusão do genial bardo inglês é tão lógica, e óbvia, que chega a
ser redundante. Qualquer criança, que mal tenha aprendido a falar e até o mais
boçal dos boçais têm essa compreensão. Alguns escritores, todavia, deram (e
dão) asas à imaginação e tentaram (e tentam) até provar, como na demonstração de
um teorema, que esse princípio pode ser violado. Que seria possível não apenas
recuar no tempo, mas também avançar nele, e não apenas dias, mas séculos,
milênios, milhares deles. Ora, ora, ora...
Que ficcionistas
levantem essa possibilidade, é até compreensível. Afinal, a imaginação, uma das
ferramentas que mais utilizam em sua atividade, não tem limites. Mas que
sisudos cientistas pelo menos desconfiem que isso seja possível é contradizer a
praticidade e seriedade da ciência. Há,
no entanto, vários deles que, com base na Teoria da Relatividade de Albert
Einstein e em complicadas equações matemáticas, perdem um tempo imenso (que
jamais conseguirão recuperar) tentando demonstrar que dá para fazer isso. Vão
mais longe: até projetam máquinas que lhes permitam essas “viagens temporais”,
e não com o único recurso em que isso é possível, o do pensamento, mas
fisicamente, de corpo e alma. Mais uma vez, só posso me expressar com irônico
ora, ora, ora.
O leitor arguto já
percebeu o motivo de eu trazer esse assunto à baila. É que hoje (e registro,
como referência a quem eventualmente vier a ler estes comentários, digamos, em
dez, vinte, cinqüenta, cem ou mais anos, que o escrevo em 21 de outubro de
2015) é o dia exato em que o personagem do filme “De volta para o futuro 3” deu
o seu salto no tempo para tentar consertar uma trapalhada do seu passado. É o
assunto do momento.; Praticamente todos os meios de comunicação (rádio,
televisão, jornais, redes sociais, sites e blogs da internet) estão tratando
dele, sob os mais variados enfoques. O meu, como não poderia deixar de ser, é o
literário. Por maior que seja meu poder de síntese, será impossível tratar do
tema em único texto. É possível, pois, (posto que não provável), que me valha
de vários outros, posto que não, óbvio, em 21 de outubro de 2015.
A construção de uma
“máquina do tempo” é sonho muito antigo de nossos remotíssimos antepassados.
Quantos deles não sonharam em voltar ao passado para consertar alguma bobagem,
para socorrer algum ente querido, para evitar a falência de um relacionamento
amoroso ou por tantos e tantos e tantos outros motivos? É impossível de
quantificar. Em Literatura, porém – e, claro, de ficção científica – (só
poderia ser) a primazia coube ao criativo escritor inglês Herbert George Wells
(que assinava sua produção abreviando os dois primeiros nomes para H. G.). Foi
em 1895, com o romance “A máquina do tempo”. Se houve outro que eventualmente o
antecedeu (o que é sumamente improvável) ninguém descobriu tal hipotético
livro. A partir de Wells, essa fantasia se disseminou, “contaminando”, até
mesmo, cientistas, supostamente céticos, sisudos e sérios.
Não tardou para o
cinema apropriar-se dessa fantasia, que fascinava (e fascina cada vez mais) a
massa ignara e inculta, excitando sua imaginação ao paroxismo. Pouco depois, a
televisão entrou nessa onda, com a exibição de vários seriados nessa linha. A
enciclopédia eletrônica Wikipédia lista os seguintes filmes sobre inviáveis
máquinas do tempo e, por conseqüência, sobre fantasiosamente delirantes viagens
ao passado e/ou ao futuro:
“A Máquina do Tempo”
(1960), “Em algum lugar do passado” (1980), “O Exterminador do Futuro”
(1984),Trilogia “De Volta para o Futuro” (1985, 1989, 1990), “Timecop” (1994),
“Os 12 Macacos” (1995), “Perdidos no Espaço” (1998), “Donnie Darko” (2001), “A
Máquina do Tempo” (2002), “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban” (2004),
“Efeito Borboleta” (2004), “O Som do Trovão” (2005), “A Casa do Lago” (2006),
“Perguntas Frequentes sobre Viagem no Tempo” (2009), “Jornada nas Estrelas” (2009),
“A Mulher do Viajante no Tempo” (2009), “O Homem do Futuro” (2011) e “O
Predestinado” (2014). Já os seriados de televisão foram estes: “O Túnel do
Tempo” (1966-1967), “Doctor Who” (1963, 1986, 2005), “Journeyman” (2007),
“Contratempos” (1989-1993) e “Lost” (2004 - 2010).
H. G. Wells é o autor
do romance “Guerra dos mundos” que, dramatizado por Orson Welles e levado ao ar
em 30 de outubro de 1938 pela rede de rádio Columbia Broadcastig System (CBS),
causou pânico nos Estados Unidos, pois a dramatização foi tão realista que a
população acreditou que os Estados Unidos estavam sendo, de fato, invadidos
pelos marcianos, conforme o enredo. Como se vê, os bons ficcionistas são
capazes de fazer multidões acreditarem no impossível e, portanto, no incrível.
No que diz respeito a absurdas viagens ao passado e/ou ao futuro, fico com a
sábia colocação de Shakespeare e com a não menos sensata recomendação do mítico
cantor e compositor jamaicano de reggae, Bob Marley, que declarou, certa feita:
“Ninguém pode voltar no tempo e fazer um novo começo. Mas podemos começar agora
e fazer um novo fim!”. E ele não tem razão?!?!?!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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