Thursday, October 08, 2015

Nosso candidato ao Nobel de Literatura de 2015

Pedro J. Bondaczuk

O candidato brasileiro ao Prêmio Nobel de Literatura de 2015 – que deve ser anunciado entre hoje (7 de outubro) e amanhã (dia 8) – é o professor universitário, cientista político e historiador baiano (nasceu em Salvador, em 30 de dezembro de 1935), Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira. Sua candidatura foi lançada pela União Brasileira de Escritores. Muita gente entende que, pelo fato de residir e atuar na Alemanha (mora, atualmente, na cidade de Heidelberg) suas chances são maiores do que, por exemplo, eram as de Ariano Suassuna, em 2012. Talvez... Com todo o respeito ao ilustre mestre, não creio. Mas... quem sabe?!

A obra de Moniz Bandeira, extensíssima, eclética e erudita, de cerca de 30 livros publicados, entre história, ciência política e poesia, é mais conhecida nos círculos acadêmicos. Conheço alguns de seus livros, pois sua principal especialidade (posto que não a única) é a política exterior do Brasil e suas relações internacionais, principalmente com a Argentina e os Estados Unidos. Como fui, por algumas décadas, editor de política internacional em jornais nos quais atuei, suas pesquisas e lições foram de grande valia em meu trabalho. Todavia, poucos leitores, digamos “comuns” não especializados nas áreas em que atua, o conhecem. Uma pena. Torço para que Moniz Bandeira seja o primeiro brasileiro a conquistar o Nobel de Literatura. Todavia, reitero, não acredito que isso ocorra. Tomara que eu esteja errado.

Entre os vários “desafios” que os leitores me fazem, o mais recorrente, nos últimos dias, depois de iniciar a presente série sobre o mais badalado prêmio literário do mundo, é o seguinte: “Se você (no caso, eu) tivesse a prerrogativa de lançar alguma candidatura brasileira, qual lançaria?” Bem, essa possibilidade teria que me ser facultada por vários anos, pois meus candidatos são muitos. E isso, entre os escritores “vivos”, pois o Nobel não é póstumo. Eu escolheria, até por questão de lógica, os brasileiros ganhadores do Prêmio Camões que ainda estejam entre nós e em atividade. Seriam os casos de: Antônio Cândido de Mello e Souza, Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles, Ferreira Gular e Alberto da Costa e Silva. Entre os poetas (no caso, poetisas), acrescentaria os nomes de Adélia Prado e Flora Figueiredo. O prêmio estaria em ótimas mãos com qualquer desses escritores.

Porém, se me fosse feita a pergunta sobre quais brasileiros considero que tenham sido os mais injustiçados pela Academia Sueca, por nunca terem conquistado um Nobel de Literatura, entre os já falecidos, minha lista seria quilométrica e preencheria algumas páginas com seus nomes. Destacaria, no entanto, os seguintes, contra os quais foi cometida a imperdoável injustiça das injustiças: Machado de Assis, Jorge Amado, João Guimarães Rosa, Érico Veríssimo, Clarice Lispector, Rachel de Queiroz, Autran Dourado, João Ubaldo Ribeiro e Moacyr Scliar. A essa relação acrescentaria os poetas Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Mário Quintana, Manoel de Barros, João Cabral de Mello Neto, Cecília Meirelles, Vinícius de Moraes e Cora Coralina. Premiar esses escritores seria o mínimo que a Academia Sueca deveria ter feito, mas não fez.

Poderia citar outras categorias, mas não o farei, pois minha especialidade é a Literatura. E olhem que há muitos, entre os quais Dom Helder Câmara, que chegou a ser cogitado para o Prêmio Nobel da Paz, mas... Claro, não ganhou. Tomara que a Academia Sueca comece a resgatar sua dívida centenária com o Brasil premiando Moniz Bandeira, que foi preso no período da ditadura militar e destituído de sua cátedra, antes de ser inocentado. Nosso candidato deste ano, além de sólida obra, tem história na luta por um País livre, decente, esclarecido e democrático.

Leio, no site do jornal “O Estado de São Paulo”, a justificativa do presidente da União Brasileira de Escritores, Joaquim Maria Botelho, para bancar esta candidatura. Escreveu, em um comunicado oficial: “Moniz Bandeira é um intelectual que vem repensando o Brasil há mais de 50 anos. Com fundamentação absolutamente consistente, suas narrativas são exercícios da literatura aplicada ao conhecimento dos meandros da política exterior, não só do Brasil, mas de outros países cujas decisões afetam, para o mal ou para o bem, a vida, a nacionalidade e a própria identidade brasileira”. Boa sorte, pois, ao nosso candidato ao Prêmio Nobel de Literatura de 2015.


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