Inutilidade da força
Pedro J.
Bondaczuk
Os vários grupos terroristas, espalhados pelo mundo, em
especial o chamado de Jihad Islâmica, do Líbano, cujos mentores, provavelmente,
estão em Teerã, a cada dia assumem posturas mais arrogantes ante a impotência
dos governos contra os quais atuam, de neutralizá-los.
Ainda na semana passada, os
extremistas libaneses deram um atrevido ultimato à Casa Branca e ao Champs
Elisèe. Intimaram os governos francês e norte-americano a pressionar o Kuwait
para que liberte 17 de seus asseclas, detidos naquele país do Golfo Pérsico.
Se eles estão presos, é óbvio,
não é porque tenham participado de alguma obra de benemerência, ou porque
tivesses defendido alguma causa nobre. Estão atrás das grades porque explodiram
bombas, vitimando dezenas de inocentes, seqüestraram aviões e pessoas e
cometeram toda a sorte de desatinos, em nome de uma causa.
Com uma arrogância, de causar
calafrios, os terroristas da Jihad ameaçaram os EUA e a França de uma campanha
de terror tão grande, que classificaram de sua maior operação militar, e de
conseqüências simplesmente catastróficas para esses dois países. E,
provavelmente, eles não estão blefando.
Afinal, é atribuído ao grupo um
morticínio de pelo menos 627 pessoas, em apenas nove grandes atentados (não
catalogamos os menores), de 28 de janeiro de 1983 até aqui. A maioria dessas
ações é decorrente da explosão de carros-bombas em pontos estratégicos de
Beirute, Tiro, Sidon e Trípoli.
Quando o mundo chega ao ponto de
uma superpotência ser chantageada por um grupelho que age nas sombras, é para a
gente ficar preocupado. Muito preocupado e até alarmado. Porque, em virtude da
natureza de sua ação, é virtualmente impossível promover represálias eficientes
contra tais extremistas.
No mês de janeiro passado, o
secretário de Estado dos EUA, George Shultz, falando na Sociedade Americana
para a Segurança Industrial, na Virgínia, admitiu que, para haver uma resposta
adequada e eficiente a uma ação terrorista, é necessário se dispor de boas
informações. “Precisamos ter condições de saber quem nos atacou, quer sejam
indivíduos ou instituições”, enfatizou. E é exatamente aí que reside todo o
problema.
Grupo nenhum sai por aí
apregoando quem, ou quando, ou onde vai atacar. Ironicamente, após a ação, os
terroristas não têm escrúpulos em fazer chegar às agências internacionais,
geralmente através de telefonemas anônimos, a informação dando conta de sua
autoria em determinado atentado. Ou seja, colocam a sua macabra assinatura na
obra acabada, que redunda em dezenas, às vezes até em centenas de mortos e de
mutilados, além dos inevitáveis prejuízos materiais.
Como fazer uma represália
eficiente contra eles? Desembarcando os marines? Ameaçando lançar um
Minutemen-II ou um Cruise, com ogiva nuclear? Impondo qualquer espécie de
boicote, mormente o econômico? É lógico que não! E nisso reside,
paradoxalmente, a fragilidade das superpotências: na sua força descomunal.
Acostumadas a usar métodos às
vezes até amorais contra países que se rebelam contra seus interesses, se vêem
enredadas, urrando, impotentes, diante de um adversário tão pequeno e
insignificante, a ponto de nem sequer poder ser atingido. Mas que, como uma
vespa de afiado ferrão, dá suas dolorosas picadas na anca do leão indefeso, que
nada mais pode fazer além de apenas barulho ameaçador. E a simples ameaça, como
se sabe, nunca foi instrumento eficaz de defesa para ninguém. Às vezes,
dependendo de quem a faz, não chega nem ao menos a assustar.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 22
de maio de 1985).
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