Friday, October 09, 2015

Inutilidade da força


Pedro J. Bondaczuk


Os vários grupos terroristas, espalhados pelo mundo, em especial o chamado de Jihad Islâmica, do Líbano, cujos mentores, provavelmente, estão em Teerã, a cada dia assumem posturas mais arrogantes ante a impotência dos governos contra os quais atuam, de neutralizá-los.

Ainda na semana passada, os extremistas libaneses deram um atrevido ultimato à Casa Branca e ao Champs Elisèe. Intimaram os governos francês e norte-americano a pressionar o Kuwait para que liberte 17 de seus asseclas, detidos naquele país do Golfo Pérsico.

Se eles estão presos, é óbvio, não é porque tenham participado de alguma obra de benemerência, ou porque tivesses defendido alguma causa nobre. Estão atrás das grades porque explodiram bombas, vitimando dezenas de inocentes, seqüestraram aviões e pessoas e cometeram toda a sorte de desatinos, em nome de uma causa.

Com uma arrogância, de causar calafrios, os terroristas da Jihad ameaçaram os EUA e a França de uma campanha de terror tão grande, que classificaram de sua maior operação militar, e de conseqüências simplesmente catastróficas para esses dois países. E, provavelmente, eles não estão blefando.

Afinal, é atribuído ao grupo um morticínio de pelo menos 627 pessoas, em apenas nove grandes atentados (não catalogamos os menores), de 28 de janeiro de 1983 até aqui. A maioria dessas ações é decorrente da explosão de carros-bombas em pontos estratégicos de Beirute, Tiro, Sidon e Trípoli.

Quando o mundo chega ao ponto de uma superpotência ser chantageada por um grupelho que age nas sombras, é para a gente ficar preocupado. Muito preocupado e até alarmado. Porque, em virtude da natureza de sua ação, é virtualmente impossível promover represálias eficientes contra tais extremistas.

No mês de janeiro passado, o secretário de Estado dos EUA, George Shultz, falando na Sociedade Americana para a Segurança Industrial, na Virgínia, admitiu que, para haver uma resposta adequada e eficiente a uma ação terrorista, é necessário se dispor de boas informações. “Precisamos ter condições de saber quem nos atacou, quer sejam indivíduos ou instituições”, enfatizou. E é exatamente aí que reside todo o problema.

Grupo nenhum sai por aí apregoando quem, ou quando, ou onde vai atacar. Ironicamente, após a ação, os terroristas não têm escrúpulos em fazer chegar às agências internacionais, geralmente através de telefonemas anônimos, a informação dando conta de sua autoria em determinado atentado. Ou seja, colocam a sua macabra assinatura na obra acabada, que redunda em dezenas, às vezes até em centenas de mortos e de mutilados, além dos inevitáveis prejuízos materiais.

Como fazer uma represália eficiente contra eles? Desembarcando os marines? Ameaçando lançar um Minutemen-II ou um Cruise, com ogiva nuclear? Impondo qualquer espécie de boicote, mormente o econômico? É lógico que não! E nisso reside, paradoxalmente, a fragilidade das superpotências: na sua força descomunal.

Acostumadas a usar métodos às vezes até amorais contra países que se rebelam contra seus interesses, se vêem enredadas, urrando, impotentes, diante de um adversário tão pequeno e insignificante, a ponto de nem sequer poder ser atingido. Mas que, como uma vespa de afiado ferrão, dá suas dolorosas picadas na anca do leão indefeso, que nada mais pode fazer além de apenas barulho ameaçador. E a simples ameaça, como se sabe, nunca foi instrumento eficaz de defesa para ninguém. Às vezes, dependendo de quem a faz, não chega nem ao menos a assustar.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 22 de maio de 1985).


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