Friday, October 30, 2015

Solução em erro



Pedro J. Bondaczuk


O agravamento da crise dos reféns estrangeiros, em especial norte-americanos, no Líbano, paradoxalmente, pode conduzir à sua solução em definitivo. O quadro político se alterou muito, no mundo, em relação ao período em que esses seqüestros ocorreram.

O Irã, por exemplo, que vinha sendo, pelo menos indiretamente, o mentor das capturas de pessoas, com finalidades políticas, em 1985, hoje é dirigido por um homem extremamente pragmático, que não mistura uma retórica aparentemente radical (para consumo interno) com atos efetivos.

Os Estados Unidos, igualmente, têm na presidência alguém cuja principal virtude é a prudência, que vem conquistando respeito e credibilidade por essas características. Se os extremistas libaneses, portanto, pensaram em tirar vantagens de possíveis precipitações do governante mais poderoso do mundo, com a morte do coronel William Higgins, segunda-feira, se equivocaram redondamente.

Israel, por sua parte, após ter levado um puxão de orelhas dos Estados Unidos, por ter colocado em risco a vida dos reféns norte-americanos no Líbano, está agindo de maneira bastante realista na seqüência da crise. Está disposto a libertar vários prisioneiros árabes, inclusive dos territórios ocupados, juntamente com o xeque xiita Abdul Karim Obeid, que um comando judeu seqüestrou no dia 28 de julho passado, deflagrando a crise, em troca da liberdade de todos os estrangeiros em mãos de extremistas muçulmanos.

A oferta, nas circunstâncias atuais, não é para ser desprezada. Dificilmente os seqüestradores terão pela frente um negócio melhor. Até porque, o aiatolá Ruhollah Khomeini, que sonhava com a exportação da Revolução Islâmica, morreu, e seu sucessor, Ali Khamenei, está de olho na reconstrução (física e moral) da sociedade iraniana, após duríssimos oito anos de guerra com o Iraque, no Golfo Pérsico e não quer mais entrar em aventuras.

Sem poder contar com o apoio do Irã (a não ser, talvez, por palavras), sem o respaldo de Khadafy, que anda retraído depois do vexame líbio em seu confronto com o Chade, e sem levar vantagem alguma provocando os Estados Unidos, já que quem preside esse país agora é um homem muito ponderado (Bush mostrou isso sobejamente no correr desta semana), os reféns de nada irão servir para os radicais xiitas. Serão, isto sim, um peso a mais, bocas para alimentar, sem que esse dispêndio redunde em benefício para quem quer que seja.

Por isso, a operação israelense, no mínimo imprudente, pode acabar resultando num inesperado sucesso, por causa das circunstâncias, vindo a significar a solução definitiva para um problema que aparentava ser insolúvel quando ocorreram os primeiros seqüestros, em março de 1985.     

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 5 de agosto de 1989)


 Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk      

No comments: