Solução
em erro
Pedro J. Bondaczuk
O agravamento da crise dos reféns estrangeiros, em
especial norte-americanos, no Líbano, paradoxalmente, pode conduzir à sua
solução em definitivo. O quadro político se alterou muito, no mundo, em relação
ao período em que esses seqüestros ocorreram.
O Irã, por exemplo, que vinha sendo, pelo menos
indiretamente, o mentor das capturas de pessoas, com finalidades políticas, em
1985, hoje é dirigido por um homem extremamente pragmático, que não mistura uma
retórica aparentemente radical (para consumo interno) com atos efetivos.
Os Estados Unidos, igualmente, têm na presidência
alguém cuja principal virtude é a prudência, que vem conquistando respeito e
credibilidade por essas características. Se os extremistas libaneses, portanto,
pensaram em tirar vantagens de possíveis precipitações do governante mais
poderoso do mundo, com a morte do coronel William Higgins, segunda-feira, se
equivocaram redondamente.
Israel, por sua parte, após ter levado um puxão de
orelhas dos Estados Unidos, por ter colocado em risco a vida dos reféns
norte-americanos no Líbano, está agindo de maneira bastante realista na
seqüência da crise. Está disposto a libertar vários prisioneiros árabes,
inclusive dos territórios ocupados, juntamente com o xeque xiita Abdul Karim
Obeid, que um comando judeu seqüestrou no dia 28 de julho passado, deflagrando
a crise, em troca da liberdade de todos os estrangeiros em mãos de extremistas
muçulmanos.
A oferta, nas circunstâncias atuais, não é para ser
desprezada. Dificilmente os seqüestradores terão pela frente um negócio melhor.
Até porque, o aiatolá Ruhollah Khomeini, que sonhava com a exportação da
Revolução Islâmica, morreu, e seu sucessor, Ali Khamenei, está de olho na
reconstrução (física e moral) da sociedade iraniana, após duríssimos oito anos
de guerra com o Iraque, no Golfo Pérsico e não quer mais entrar em aventuras.
Sem poder contar com o apoio do Irã (a não ser,
talvez, por palavras), sem o respaldo de Khadafy, que anda retraído depois do
vexame líbio em seu confronto com o Chade, e sem levar vantagem alguma
provocando os Estados Unidos, já que quem preside esse país agora é um homem
muito ponderado (Bush mostrou isso sobejamente no correr desta semana), os
reféns de nada irão servir para os radicais xiitas. Serão, isto sim, um peso a
mais, bocas para alimentar, sem que esse dispêndio redunde em benefício para
quem quer que seja.
Por isso, a operação israelense, no mínimo
imprudente, pode acabar resultando num inesperado sucesso, por causa das
circunstâncias, vindo a significar a solução definitiva para um problema que
aparentava ser insolúvel quando ocorreram os primeiros seqüestros, em março de
1985.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do
Correio Popular, em 5 de agosto de 1989)
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