Campanha de doutrinação
Pedro J. Bondaczuk
As
campanhas eleitorais, objetivando as eleições de outubro próximo, começam a se
acelerar, embora estejam com o ritmo reduzido em decorrência da Copa do Mundo,
o que é compreensível. O bom político é aquele que sabe a hora certa de dizer
os fazer as coisas e que possui o senso de oportunidade, sem resvalar para o
que chamamos de "oportunismo".
Todavia,
em comícios, contatos pré-eleitorais e entrevistas pela imprensa, os candidatos
já começam a trocar as primeiras alfinetadas. E é isso o que não pode
acontecer. Ataques de caráter pessoal só podem mesmo nivelar a campanha por
baixo, o que seria lamentável.
O
que o eleitor quer saber não são os detalhes sobre a vida dos postulantes à
Presidência ou ao governo dos Estados, mas quais são as soluções propostas por
eles para os principais e graves problemas que o País enfrenta. A população,
embora não esconda seu desencanto em relação à classe política --- fenômeno que
é universal, frise-se --- está ávida por motivos para voltar a ter esperanças.
No
Brasil, onde a maioria das pessoas não tem consciência de como funcionam os
mecanismos do poder, em virtude da deficiência (quando não da ausência) da
educação, um palanque, quer seja o convencional quer o eletrônico, pode e deve
se transformar numa cátedra. Presume-se que quem se propõe a ser presidente
tenha o mínimo de patriotismo (o ideal é que tivesse o máximo).
Por
essa razão, compete ao homem público a tarefa de doutrinador, no sentido mais
elevado, que transmita e enfatize as virtudes cívicas, que hoje andam tão por
baixo e até chegam a ser ridicularizadas, por causa da onda de desencanto que
se abate sobre os brasileiros.
Os
candidatos, portanto, têm a responsabilidade e o dever de dar exemplos de
ética, de boa conduta, de respeito pelos adversários, o que, aliás, é o
fundamento da democracia que eles se propõem a defender. A expectativa é a de
que as campanhas sejam positivas, afirmativas, de altíssimo nível. Que os
postulantes aos cargos públicos se dirijam aos eleitores dizendo: vote em mim
por tais e tais motivos. Que não se deixem levar pela tentação de repetir as
anteriores, quando as mensagens, implícitas ou explícitas, passadas aos
brasileiros, tinham o seguinte tom: não vote em fulano, sicrano ou beltrano porque
ele fez (ou deixou de fazer) isso, aquilo ou aquilo outro. O verdadeiro líder,
digno de comandar um povo para o seu destino, confia em seu preparo e não tem
por que se preocupar com o despreparo alheio.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de junho de 1994).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment