Saturday, October 31, 2015

Campanha de doutrinação


Pedro J. Bondaczuk


As campanhas eleitorais, objetivando as eleições de outubro próximo, começam a se acelerar, embora estejam com o ritmo reduzido em decorrência da Copa do Mundo, o que é compreensível. O bom político é aquele que sabe a hora certa de dizer os fazer as coisas e que possui o senso de oportunidade, sem resvalar para o que chamamos de "oportunismo".

Todavia, em comícios, contatos pré-eleitorais e entrevistas pela imprensa, os candidatos já começam a trocar as primeiras alfinetadas. E é isso o que não pode acontecer. Ataques de caráter pessoal só podem mesmo nivelar a campanha por baixo, o que seria lamentável.

O que o eleitor quer saber não são os detalhes sobre a vida dos postulantes à Presidência ou ao governo dos Estados, mas quais são as soluções propostas por eles para os principais e graves problemas que o País enfrenta. A população, embora não esconda seu desencanto em relação à classe política --- fenômeno que é universal, frise-se --- está ávida por motivos para voltar a ter esperanças.

No Brasil, onde a maioria das pessoas não tem consciência de como funcionam os mecanismos do poder, em virtude da deficiência (quando não da ausência) da educação, um palanque, quer seja o convencional quer o eletrônico, pode e deve se transformar numa cátedra. Presume-se que quem se propõe a ser presidente tenha o mínimo de patriotismo (o ideal é que tivesse o máximo).

Por essa razão, compete ao homem público a tarefa de doutrinador, no sentido mais elevado, que transmita e enfatize as virtudes cívicas, que hoje andam tão por baixo e até chegam a ser ridicularizadas, por causa da onda de desencanto que se abate sobre os brasileiros.

Os candidatos, portanto, têm a responsabilidade e o dever de dar exemplos de ética, de boa conduta, de respeito pelos adversários, o que, aliás, é o fundamento da democracia que eles se propõem a defender. A expectativa é a de que as campanhas sejam positivas, afirmativas, de altíssimo nível. Que os postulantes aos cargos públicos se dirijam aos eleitores dizendo: vote em mim por tais e tais motivos. Que não se deixem levar pela tentação de repetir as anteriores, quando as mensagens, implícitas ou explícitas, passadas aos brasileiros, tinham o seguinte tom: não vote em fulano, sicrano ou beltrano porque ele fez (ou deixou de fazer) isso, aquilo ou aquilo outro. O verdadeiro líder, digno de comandar um povo para o seu destino, confia em seu preparo e não tem por que se preocupar com o despreparo alheio.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de junho de 1994).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk               

No comments: