Empréstimo compulsório
Pedro J. Bondaczuk
O
decreto que instituiu o empréstimo compulsório sobre os preços dos
combustíveis, carros novos, semi-novos (com entre um e dois anos de fabricação)
e os usados (com até quatro anos), além de passagens aéreas e venda de dólares
para turistas que viajavam para o Exterior, completou, ontem, exatos dez anos.
No entanto, pouquíssimas pessoas viram a cor desse dinheiro a que tinham (e
têm) direito. E estão destinadas a nunca ver.
Os
que conseguiram receber, recorreram ao Poder Judiciário. Os demais? Estão a ver
navios. Apenas serão reembolsados caso tenham condições e disposição para
recorrer à Justiça. São R$ 7 bilhões, transformados e corrigidos para a atual
moeda. Importância nada desprezível, como se observa.
É
maior do que a prevista para ser arrecadada pela Contribuição Provisória (que
ganha ares de permanência) sobre Movimentação Financeira, o imposto que
supostamente vai tirar a saúde do buraco. Dessa forma, o "empréstimo"
ficou, na verdade, caracterizado como mero confisco.
O
decreto de Sarney previa a devolução do dinheiro em três anos. O tempo foi
passando, as "experiências" econômicas foram se sucedendo, e
fracassando uma a uma, e nada do mau pagador devolver o que emprestou. Sequer
juros ou correção monetária foram pagos.
No
governo do presidente Itamar Franco bem que se tentou alguma coisa nesse
sentido. O próprio Planalto encaminhou, em 1993, um projeto ao Congresso,
aprovado nas duas casas, regulamentando a devolução. E por que o dinheiro não
foi devolvido? Por recomendação do então ministro Fernando Henrique Cardoso.
Itamar vetou a medida. Tudo voltou à estaca zero.
"E
o que se fez com toda essa bolada?", indaga o paciente credor, até já
conformado com o calote, desde que este tenha servido para uma boa causa.
Virtualmente nada. Possivelmente foi utilizado para custear a perdulária e nem
sempre (ou quase nunca) eficiente máquina do governo.
O
objetivo do presidente da época, José Sarney, era dos mais ambiciosos, pelo
menos no que se referia à retórica. Junto com o empréstimo compulsório, o
decreto instituía o Fundo Nacional de Desenvolvimento, destinado a financiar o
"Plano de Metas da Nova República". E este, por sua vez, seria a
"arrancada para que o Brasil tivesse nível de vida da Europa Mediterrânea".
Passados
dez anos, continuamos patinando na rota do subdesenvolvimento, com a maior
concentração de renda do mundo e com Índice de Desenvolvimento Humano abaixo
dos da Costa Rica, Panamá, Colômbia, Venezuela, etc. O pior é que o projeto do
governo de reforma tributária prevê novos empréstimos compulsórios, quando
necessários. Mas não pagaram sequer o de 1986!
(Artigo publicado na página 3, Opinião,
do Correio Popular, em 23 de julho de 1996)
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