Personagem que suscita
amor e ódio
Pedro
J. Bondaczuk
O escritor Leon Tolstoi
é um dos grandes clássicos não somente da riquíssima literatura russa, mas das
letras mundiais. Qualquer biblioteca que se preze deve ter, em seu acervo, pelo
menos dois dos seus tantos livros, incontestáveis obras-primas de ficção de
todos os tempos. Refiro-me, óbvio, a “Guerra e paz” e, sobretudo, a “Anna
Karenina”. Claro que o ideal é contar com outras de suas obras (se possível,
com todas), mas as duas que citei são absolutamente imprescindíveis. Por isso,
são inúmeras as suas traduções, e suas edições, em diversos idiomas e várias
partes do mundo. Se me perguntarem qual desses dois romances é meu preferido,
não saberei dizer. Gosto demais de ambos, posto que por razões diferentes.
Em qualquer pesquisa
que se faça, sobre personagens femininas inesquecíveis, é um pecado mortal não
se mencionar Anna Karenina, a menos que não se tenha lido o livro ou assistido
a filmes baseados no romance. Quem leu, todavia, não titubeia. O engraçado é
que essa protagonista foge do padrão das heroínas, pelas quais nos apaixonamos
e por quem torcemos para que tenham o clássico “happy end”, ao cabo do enredo.
Há momentos, na leitura, que chegamos a detestá-la e enquadrá-la como vilã.
Afinal, Anna Karenina
trai o marido, o conde (e funcionário público) Alexei Alexandrovich Karenin.
Torna-se amante do oficial de cavalaria Alexei Kirillovisk Vronsky, pelo qual
nutre uma paixão doentia, possessiva, com constantes surtos de ciúme, que
apenas servem para afastá-lo cada vez mais. No início do romance adúltero, os
dois pombinhos chegam, até, a fugir da Rússia, para a Itália, para manterem o
romance proibido sem interferências alheias. Todavia não tarda para o amante
dar sinais de fastio, já que o caso, para ele, não passa de mais uma aventura e
pouco, ou nada, tem a ver com amor. O casal retorna a São Petersburgo, mas os
dois têm tratamento muito diferente por parte da sociedade local. Enquanto o
oficial continua sendo aceito normalmente em todos os círculos sociais e, de
quebra, mantendo vários casos, a mulher é repudiada por todos, até pelas amigas
mais íntimas, que também têm relações extraconjugais, posto que discretas (e,
logicamente, secretas).
Bem, não vou resumir o
enredo, já que não é minha proposta. Personagens femininas envolvidas com
adultério não são sequer novidade em ficção. Só que, normalmente, são
apresentadas por seus criadores como vilãs e não heroínas. Uma das exceções é
Hester Prynne, a protagonista do romance “A letra escarlate” do norte-americano
Natanhiel Hawthorne. Anna Karenina é outra, embora, em certos momentos. a
encaremos mesmo como rematada vilã. Tolstoi apresenta-a como mulher fútil,
amante de festas e de badalações, belíssima e sensual, mas com a cabeça cheia
de fantasias quando se trata de amor, além de ser incapaz de controlar ciúmes.
Há semelhanças e diferenças entre as duas. Ambas mostram-se mães dedicadas e
mulheres recatadas, a despeito do adultério. Todavia, enquanto Hester tem seu
esperado “happy end”, o fim de Anna Karenina é trágico, já que finda por dar
cabo da própria vida. É como alguém (não me lembro quem) disse a seu respeito:
“Conhecer seu percurso é viver numa montanha-russa com essa personagem,
amando-a e odiando-a, tudo ao mesmo tempo”. Méritos, claro, à genialidade de
Tolstoi.
Trata-se de figura tão
marcante e tão complexa, que o cinema apropriou-se dela. Foram rodadas muitas
versões cinematográficas do livro, sendo que as seguintes seis são as mais
famosas: a de 1915), com Betty Nansen no
papel-título; a de 1935, com Greta Garbo e Fredric March; a de 1948, com Vivien
Leigh e Ralph Richardson; a de 1985, com Jacqueline Bisset e Christopher Reeve;
a de1997, com Sophie Marceau e Sean Bean e a mais recente, a de 2012, com Keira
Knightley e Jude Law. Este livro de Leon Tolstoi é um dos melhores que já li.
Valho-me deste resumo, que colhi na enciclopédia eletrônica Wikipédia, para
justificar a razão deste meu entusiasmo até um tanto juvenil: "’Anna
Karenina’ retrata comumente os temas de hipocrisia, inveja, fé, fidelidade,
família, casamento, sociedade, progresso, desejo carnal, paixão, e o contraste
da vida no campo e a vida na cidade. A tradutora Rosemary Edmonds diz que
Tolstói não moraliza explicitamente no texto, mas o deixa fluir naturalmente
desde ‘o panorama russo de viver’ e também afirma que a mensagem chave do livro
é ‘ninguém pode construir sua felicidade sobre a dor de outro’”. Dá para não
gostar de um livro desses?! Só se não se entender nada de Literatura ou não se
ter o mais remoto bom-gosto!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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