Sunday, October 25, 2015

Risco generalizado



Pedro J. Bondaczuk


A corrida armamentista, na cabeça de muitas pessoas, não passa de um assunto qualquer, como tantos outros, que apenas preenchem os noticiários diários. Alguns afirmam que estão preocupados com temas mais próximos e imediatos, como a inflação, o desemprego, a violência urbana e o empobrecimento geral.

Até aí, tudo bem. Estas são questões não somente mais ligadas a cada um de nós, cujos efeitos sentimos, diariamente, em nossa própria carne. Entretanto, enquanto isso, recursos preciosos, que poderiam nos livrar facilmente desses problemas supra-mencionados, estão sendo canalizados para fabricar armamentos, cujo poder de destruição a maioria nem atina. É sobre isso que queremos raciocinar, hoje, com o leitor.

No livro “Campos de Batalhas Nucleares”, de autoria de William Arkun e Richard Fieldhouse, lançado, ontem, nos Estados Unidos, consta uma revelação que as cinco potências nucleares dispõem, juntas, de mais de 50 mil ogivas atômicas. E o que isso significa? Raciocinemos juntos.

Em primeiro lugar, esclarecemos que “ogiva” é a própria bomba nuclear, que pode ser transportada por um míssil (foguete), bombardeiro convencional ou pode estar orbitando em torno da Terra, como se fosse um satélite comum.

Os cinco países que dispõem de arsenais dessa espécie, portanto, contam com mais de 50 mil bombas. Isso perfaz a média de uma para cada cidade existente em todo o mundo. Visto este aspecto, passemos à potência destrutiva total.

O artefato que destruiu Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, era de 20 quilotons de TNT. Ou seja, um poder de explosão equivalente a 20 mil toneladas de trinitrotolueno (ou de dinamite). Para se ter uma idéia mais precisa do estrago que isso pode causar, basta dizer que o carro-bomba do último atentado ocorrido dias atrás em Beirute, tinha uma potência de 300 quilos.

Somente isso já foi suficiente para arrasar um quarteirão inteiro da cidade, destruir prédios de apartamentos e matar pelo menos 60 pessoas. A bomba de Hiroshima equivalia a 67 mil desses carros-bombas. Acontece que aquele possante agente de destruição é hoje mera espoleta das modernas ogivas.

Nenhuma bomba que se preze tem menos de um megaton (um milhão de toneladas de TNT). As cinqüenta mil existentes, portanto, na suposição de que cada uma delas possua um só megaton, irão perfazer dois e meio milhões de bombas iguais à que destruiu Hiroshima.

Entretanto, essa potência pode, facilmente, ser multiplicada por várias dezenas. Na década de 60, antes dos acordos limitando as explosões na atmosfera, diversas ogivas de 50 megatons foram testadas. Os soviéticos explodiram, até mesmo, uma em Nova Zemlya, próximo ao Pólo Norte, com o dobro disso.

Descontando uma pela outra, cada uma dessas ogivas teria, pelo menos, 20 megatons. Ou seja, 20 milhões de toneladas de TNT. Os países detentores de armas nucleares dispõem, portanto, otimisticamente, de um poder de destruição equivalente ao de 50 milhões de bombas do porte da que destruiu Hiroshima em 1945.

Recorde-se que aquele artefato, quando detonou, produziu uma aura luminosa equivalente a mil sóis. E que no ponto de impacto, a temperatura ascendeu a 300 mil graus centígrados. O cogumelo que se formou alcançou uma altura de 15 quilômetros, de poeira e de fumaça.

O que aconteceria se, digamos, apensas dez dessas 50 mil ogivas estocadas explodissem simultaneamente, com a potência de 20 mil megatons cada uma? E essa não é uma possibilidade remota ou improvável, conforme os defensores dessa corrida surrealista para o nada afirmam.

Há, porventura, algo mais importante nesta vida do que a própria preservação desta? A corrida armamentista é, ou não é, um tema que deva nos preocupar a todos?

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 14 de junho de 1985).


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