Risco generalizado
Pedro J.
Bondaczuk
A corrida armamentista, na cabeça de muitas pessoas, não
passa de um assunto qualquer, como tantos outros, que apenas preenchem os
noticiários diários. Alguns afirmam que estão preocupados com temas mais
próximos e imediatos, como a inflação, o desemprego, a violência urbana e o
empobrecimento geral.
Até aí, tudo bem. Estas são
questões não somente mais ligadas a cada um de nós, cujos efeitos sentimos,
diariamente, em nossa própria carne. Entretanto, enquanto isso, recursos
preciosos, que poderiam nos livrar facilmente desses problemas
supra-mencionados, estão sendo canalizados para fabricar armamentos, cujo poder
de destruição a maioria nem atina. É sobre isso que queremos raciocinar, hoje,
com o leitor.
No livro “Campos de Batalhas
Nucleares”, de autoria de William Arkun e Richard Fieldhouse, lançado, ontem,
nos Estados Unidos, consta uma revelação que as cinco potências nucleares
dispõem, juntas, de mais de 50 mil ogivas atômicas. E o que isso significa?
Raciocinemos juntos.
Em primeiro lugar, esclarecemos
que “ogiva” é a própria bomba nuclear, que pode ser transportada por um míssil
(foguete), bombardeiro convencional ou pode estar orbitando em torno da Terra,
como se fosse um satélite comum.
Os cinco países que dispõem de
arsenais dessa espécie, portanto, contam com mais de 50 mil bombas. Isso perfaz
a média de uma para cada cidade existente em todo o mundo. Visto este aspecto,
passemos à potência destrutiva total.
O artefato que destruiu
Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, era de 20 quilotons de TNT. Ou seja, um
poder de explosão equivalente a 20 mil toneladas de trinitrotolueno (ou de
dinamite). Para se ter uma idéia mais precisa do estrago que isso pode causar,
basta dizer que o carro-bomba do último atentado ocorrido dias atrás em
Beirute, tinha uma potência de 300 quilos.
Somente isso já foi suficiente
para arrasar um quarteirão inteiro da cidade, destruir prédios de apartamentos
e matar pelo menos 60 pessoas. A bomba de Hiroshima equivalia a 67 mil desses
carros-bombas. Acontece que aquele possante agente de destruição é hoje mera
espoleta das modernas ogivas.
Nenhuma bomba que se preze tem
menos de um megaton (um milhão de toneladas de TNT). As cinqüenta mil
existentes, portanto, na suposição de que cada uma delas possua um só megaton,
irão perfazer dois e meio milhões de bombas iguais à que destruiu Hiroshima.
Entretanto, essa potência pode,
facilmente, ser multiplicada por várias dezenas. Na década de 60, antes dos
acordos limitando as explosões na atmosfera, diversas ogivas de 50 megatons
foram testadas. Os soviéticos explodiram, até mesmo, uma em Nova Zemlya,
próximo ao Pólo Norte, com o dobro disso.
Descontando uma pela outra, cada
uma dessas ogivas teria, pelo menos, 20 megatons. Ou seja, 20 milhões de toneladas
de TNT. Os países detentores de armas nucleares dispõem, portanto,
otimisticamente, de um poder de destruição equivalente ao de 50 milhões de
bombas do porte da que destruiu Hiroshima em 1945.
Recorde-se que aquele artefato,
quando detonou, produziu uma aura luminosa equivalente a mil sóis. E que no
ponto de impacto, a temperatura ascendeu a 300 mil graus centígrados. O
cogumelo que se formou alcançou uma altura de 15 quilômetros, de poeira e de
fumaça.
O que aconteceria se, digamos,
apensas dez dessas 50 mil ogivas estocadas explodissem simultaneamente, com a
potência de 20 mil megatons cada uma? E essa não é uma possibilidade remota ou
improvável, conforme os defensores dessa corrida surrealista para o nada
afirmam.
Há, porventura, algo mais
importante nesta vida do que a própria preservação desta? A corrida
armamentista é, ou não é, um tema que deva nos preocupar a todos?
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 14
de junho de 1985).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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