Monday, October 19, 2015

Campinas é parlamentarista

Pedro J. Bondaczuk

O resultado do plebiscito em Campinas, com a vitória do parlamentarismo, pode ter surpreendido as pessoas de outras partes do País, mas não quem habita aqui e conhece o grau de instrução e de informação dos campineiros.

Embora a votação na cidade tenha sido feita num clima de apatia, como ocorreu no resto do Brasil, a população compareceu em grande número às urnas e não se deixou levar pelas pesquisas, que apontavam, antecipadamente, esmagadora vitória dos que defendiam a manutenção do presidencialismo.

Foi o confronto entre os que esperam que as mudanças caiam do céu e os que se dispõem a mudar, com seu próprio esforço, o que pode e deve ser mudado. No resto do País, prevaleceu a primeira tese. Em Campinas a vitória coube àqueles que estão dispostos a encarar os desafios de outras alternativas, em vista do flagrante fracasso do atual sistema.

Ao contrário do que ocorreu na maioria das cidades brasileiras, que se limitaram a acompanhar as pífias campanhas publicitárias das três frentes pelo rádio e televisão, aqui escolas, entidades civis e culturais promoveram palestras, seminários e debates, em busca de esclarecimento sobre o significado do que estava para ser escolhido.

O campineiro buscou inteirar-se do que estava em jogo e optou, em sua maioria conscientemente, por um dos regimes e um dos sistemas de governo. Isso não ocorreu, apenas, com quem votou no parlamentarismo, mas também com os monarquistas e presidencialistas.

Coincidência ou não, a tese mudancista prevaleceu nas localidades tidas e havidas como detentoras dos mais altos padrões de vida, em termos econômicos, sociais e culturais, não apenas do Estado de São Paulo, mas até do Brasil. Foram os casos de Ribeirão Preto, conhecida como a “Califórnia Brasileira”, de Piracicaba, de Rio Preto, de Rio Claro e de Americana, para apenas citar algumas.

A democracia, embora seja o melhor dos sistemas de convivência política já inventados pelo homem, paradoxalmente, em determinados casos, impõe uma espécie de ditadura: a da maioria (em geral desinformada e despreparada, daí ser denominada de “massa”) sobre a minoria mais esclarecida. Basta que demagogos, utilizando as mais modernas técnicas de retórica, conquistem as multidões amorfas, para que sua vontade seja imposta a todos.

A despeito da vitória presidencialista no plebiscito, não se concebe que isto que está aí, rotulado de regime e de sistema de governo, permaneça imutável. São necessárias reformas políticas, e bastante profundas, para que a representatividade fique nítida, clara, cristalina e, sobretudo, autêntica. Para tanto, se faz indispensável alguma forma de voto distrital. A constituição e funcionamento dos partidos é outro assunto que não pode ser deixado de lado.

A existência de 40 agremiações políticas, a maioria das quais não passa de meros nomes e simples siglas de aluguel para abrigar postulantes à carreira parlamentar, quase nunca preparados para ela, é um absurdo, que chega a raiar o surrealismo.

A falta de regras que exijam a fidelidade partidária torna o jogo político mera farsa burlesca, mera pantomima circense. E, sobretudo, já que a população optou pelo presidencialismo, que tal os iluminados, que impuseram essa tese às massas, darem condições de governabilidade ao presidente (o atual e os próximos) para que o Brasil não continue com o atual vazio de poder?!

(Artigo publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em maio de 1993).


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