Campinas é parlamentarista
Pedro J. Bondaczuk
O resultado do plebiscito em
Campinas, com a vitória do parlamentarismo, pode ter surpreendido as pessoas de
outras partes do País, mas não quem habita aqui e conhece o grau de instrução e
de informação dos campineiros.
Embora a votação na cidade tenha
sido feita num clima de apatia, como ocorreu no resto do Brasil, a população
compareceu em grande número às urnas e não se deixou levar pelas pesquisas, que
apontavam, antecipadamente, esmagadora vitória dos que defendiam a manutenção
do presidencialismo.
Foi o confronto entre os que
esperam que as mudanças caiam do céu e os que se dispõem a mudar, com seu
próprio esforço, o que pode e deve ser mudado. No resto do País, prevaleceu a
primeira tese. Em Campinas a vitória coube àqueles que estão dispostos a
encarar os desafios de outras alternativas, em vista do flagrante fracasso do
atual sistema.
Ao contrário do que ocorreu na
maioria das cidades brasileiras, que se limitaram a acompanhar as pífias
campanhas publicitárias das três frentes pelo rádio e televisão, aqui escolas,
entidades civis e culturais promoveram palestras, seminários e debates, em
busca de esclarecimento sobre o significado do que estava para ser escolhido.
O campineiro buscou inteirar-se
do que estava em jogo e optou, em sua maioria conscientemente, por um dos
regimes e um dos sistemas de governo. Isso não ocorreu, apenas, com quem votou
no parlamentarismo, mas também com os monarquistas e presidencialistas.
Coincidência ou não, a tese
mudancista prevaleceu nas localidades tidas e havidas como detentoras dos mais
altos padrões de vida, em termos econômicos, sociais e culturais, não apenas do
Estado de São Paulo, mas até do Brasil. Foram os casos de Ribeirão Preto,
conhecida como a “Califórnia Brasileira”, de Piracicaba, de Rio Preto, de Rio
Claro e de Americana, para apenas citar algumas.
A democracia, embora seja o
melhor dos sistemas de convivência política já inventados pelo homem,
paradoxalmente, em determinados casos, impõe uma espécie de ditadura: a da
maioria (em geral desinformada e despreparada, daí ser denominada de “massa”)
sobre a minoria mais esclarecida. Basta que demagogos, utilizando as mais
modernas técnicas de retórica, conquistem as multidões amorfas, para que sua
vontade seja imposta a todos.
A despeito da vitória
presidencialista no plebiscito, não se concebe que isto que está aí, rotulado
de regime e de sistema de governo, permaneça imutável. São necessárias reformas
políticas, e bastante profundas, para que a representatividade fique nítida,
clara, cristalina e, sobretudo, autêntica. Para tanto, se faz indispensável
alguma forma de voto distrital. A constituição e funcionamento dos partidos é
outro assunto que não pode ser deixado de lado.
A existência de 40 agremiações
políticas, a maioria das quais não passa de meros nomes e simples siglas de
aluguel para abrigar postulantes à carreira parlamentar, quase nunca preparados
para ela, é um absurdo, que chega a raiar o surrealismo.
A falta de regras que exijam a
fidelidade partidária torna o jogo político mera farsa burlesca, mera pantomima
circense. E, sobretudo, já que a população optou pelo presidencialismo, que tal
os iluminados, que impuseram essa tese às massas, darem condições de
governabilidade ao presidente (o atual e os próximos) para que o Brasil não
continue com o atual vazio de poder?!
(Artigo publicado na página 2,
Opinião, da Folha do Taquaral, em maio de 1993).
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