Massacre
anunciado
Pedro J. Bondaczuk
O massacre em Eldorado dos Carajás, no Pará,
ocorrido no dia 17 passado, que despertou justa indignação em todo o País e que
deixou pelo menos 19 sem-terra mortos – há quem garanta que tenham sido 23,
embora só 19 corpos tenham sido localizados – poderia e deveria ser evitado.
Dias antes de sua ocorrência, parlamentares e líderes de várias associações
vinham alertando o governo paraense para o clima de tensão existente na área,
em decorrência da invasão da Fazenda Macaxeira. Foi, portanto, no mínimo uma
imprudência criminosa a determinação, seja de quem for, do desbloqueio com o
uso de força da rodovia estadual PA-150 por parte de cerca de 200 policiais
militares, armados até os dentes, como se estivessem partindo para uma guerra.
Claro que o caso acabou sendo explorado
politicamente. Há muita gente lucrando ou pretendendo (ou que vai) lucrar às
custas do sangue derramado. A sociedade, como em outras chacinas, rurais ou
urbanas, das quais o noticiário dos últimos anos esteve farto (Carandiru,
Candelária, Vigário Geral, Corumbiara, etc), cobra punição dos culpados. O
presidente Fernando Henrique Cardoso previu que desta vez os autores não
escapariam das garras da lei. Todavia, os antecedentes não permitem supor que agora
o procedimento será diferente das vezes anteriores. Tudo indica, infelizmente,
que a impunidade vai continuar. Ademais, apenas o julgamento, puro e simples,
dos (ir)responsáveis, não basta. Os matadores de Chico Mendes, por exemplo,
foram julgados e condenados e, no entanto... permanecem livres como
passarinhos.
Além da questão da punição, é indispensável que se
faça uma reforma agrária profunda, consciente e, sobretudo, competente, para
evitar novos episódios sangrentos. Nem é preciso ser pitonisa ou Cassandra de
mau-agouro para se afirmar que, se essa providência não for tomada, não somente
um, mas vários outros massacres vão ocorrer. Levantamento da Comissão Pastoral
da Terra já registrou 32 deles (o da semana passada foi o 33º) no País, entre
1979 e agosto de 1995 (o da Fazenda Santa Elina, em Corumbiara, Rondônia), com
197 mortos. Só no Sul do Pará, verificaram-se 68 mortes.
O que intriga, é o fato desse Estado amazônico ter
uma área que o tornaria o 25º país mais extenso do mundo, caso fosse independente.
E, o que é ainda mais intrigante, conforme revelações feitas no dia da chacina
pelo governador Almir Gabriel (PSDB), somente 14% de sua área estão ocupados. O
restante constitui-se em um enorme vazio. A reforma agrária, portanto, (não
apenas no Pará, mas em todo o País) não é uma questão de existência de
recursos, nem ideológica (como alguns querem colocar) e sequer de legislação.
Falta, na verdade, competência e vontade política.
(Artigo publicado no Correio Popular em 25 de abril
de 1996)
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