Friday, October 02, 2015

Prognósticos e apostas em torno do Nobel de Literatura

Pedro J. Bondaczuk

As várias listas de favoritos à conquista do Prêmio Nobel de Literatura, divulgadas, anualmente, pela imprensa internacional, antes de anúncio oficial do premiado, não passam de especulações. São meros palpites, ou seja, são o que dizemos, em linguagem popular, simples “chutes”. Por isso, muito raramente, algum jornal, revista, site ou blog da internet acertam o nome do premiado. É como prever, com acerto, os números da mega-sena ou da loteria federal. Baseado no que faço essa afirmação? Na lógica! Lembro, como informei em texto anterior, que todos os anos, em setembro, a Academia Sueca envia centenas de cartas a pessoas e instituições qualificadas para indicarem candidatos ao prêmio do ano seguinte.

Entre os que podem postular candidaturas estão os membros da própria entidade responsável por premiar os que seus jurados entendem como o mais qualificado dos indicados, os integrantes de outras organizações similares, além de professores de literatura e linguística de universidades, antigos vencedores e presidentes de sociedades de autores em seus países. Até aí, tudo bem. Ocorre que em maio do ano da premiação, a Academia Sueca faz rigorosa triagem dos postulantes e reduz seu número original – geralmente de em torno de duas centenas – para apenas CINCO. E o nome de cada componente desse seletíssimo quinteto é mantido no mais estrito sigilo, como se fosse máximo segredo de Estado.

A identidade das quase duas centenas de indicados até maio do ano da escolha “podem” (embora não devam) ser conhecida pela imprensa. Os próprios indicadores, até com o objetivo de pressionar os jurados, volta e meia divulgam quem são. Recentemente, o secretário da Academia Sueca, Peter Englund, divulgou, em seu blog, comunicado condenando essa divulgação. Enfatizou que ela contraria as regras da entidade, que exigem sigilo absoluto em todas as fases do lançamento de candidaturas. A mim ficou claro que muitos (a totalidade? Talvez!) violam esse regulamento. Englund enfatizou em sua nota: "Na verdade, temos a possibilidade de anular a indicação em questão, e não é impossível que ocorra com alguma no futuro". Entendo que deveria já ter ocorrido no passado, ou então no presente, porquanto regra é regra.

Qualquer candidato que a violar, caso seja, afinal, premiado, o estará sendo de maneira irregular, fraudulenta e, portanto, ilícita. É mister não se esquecer que o Prêmio Nobel não se restringe, somente, ao prestígio que confere, embora seja extraordinário. Atribui, também, ao escolhido, alguns milhões de dólares em sua conta bancária. E quando entra dinheiro na parada... os preteridos têm todos os motivos, de fato e de direito, para questionar a premiação (caso, óbvio, tenham cumprido rigidamente todas as regras da Academia Sueca). Apesar dessa violação, duvido que alguém conheça de antemão pelo menos um dos CINCO selecionados finais. Daí os supostos “favoritos”, tão apregoados pela imprensa, não serem favoritos coisíssima nenhuma!

E as apostas sobre quem ganhará o Nobel de Literatura, que nesta época do ano se multiplicam nas várias casas especializadas em “jogos de azar”, se baseiam no que? Caso eu queira apostar, na esperança de ganhar algum dinheirinho extra mesmo que não se trate de nenhuma fortuna, como saberei se meu preferido é sequer candidato? Se não for, óbvio, não terei a mínima chance de êxito. Estarei, literalmente, jogando dinheiro fora.   Suponho que a “base” dos apostadores seja a divulgação (que, reitero, é irregular) das candidaturas registradas até maio por parte das pessoas e entidades que as patrocinaram. Não saberão, contudo, quais são os CINCO finalistas, os que realmente permanecem na disputa. Quem lucra com isso, claro, são as casas de apostas, que não precisam pagar nada para ninguém, pelo fato de ninguém ter acertado o ganhador (caso ninguém acerte mesmo, claro).            

Como em todo jogo de azar, no entanto, às vezes, alguém acerta. Se o nome em que apostou for o dos que classificamos como “zebra”, poderá, até mesmo, ganhar fortuna. Caso contrário... Quem apostou, por exemplo, na canadense Alice Munro, em 2013, ganhou alguma coisa, mas não muito. Afinal, a escritora foi a segunda mais apostada. Quem optou por ela, portanto, ganhou pouco mais do que investiu ou, talvez, tenha recuperado, apenas, o investimento. Já em 2014, quem depositou suas esperanças em  Patrick Modiano (talvez algum francês tenha apostado nesse escritor) certamente engordou bastante sua conta bancária. Nas casas de apostas, ele era a “zebra das zebras”. A imprensa não divulgou se houve ganhador e, em caso positivo, quem foi. Mas se alguém acertou, mesmo que nunca tenha lido nenhum reles livro em toda sua vida, jamais esquecerá o nome desse escritor cuja matéria-prima é a memória e as tentativas de resgatá-la e/ou de conservá-la. Melhor seria se esse sujeito, além do dinheiro que ganhou (caso tenha ganhado), “devorasse” com sofreguidão a magnífica obra do ganhador do Nobel de Literatura de 2014. Mas...


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