Prognósticos e apostas
em torno do Nobel de Literatura
Pedro
J. Bondaczuk
As várias listas de
favoritos à conquista do Prêmio Nobel de Literatura, divulgadas, anualmente,
pela imprensa internacional, antes de anúncio oficial do premiado, não passam
de especulações. São meros palpites, ou seja, são o que dizemos, em linguagem popular,
simples “chutes”. Por isso, muito raramente, algum jornal, revista, site ou
blog da internet acertam o nome do premiado. É como prever, com acerto, os
números da mega-sena ou da loteria federal. Baseado no que faço essa afirmação?
Na lógica! Lembro, como informei em texto anterior, que todos os anos, em
setembro, a Academia Sueca envia centenas de cartas a pessoas e instituições
qualificadas para indicarem candidatos ao prêmio do ano seguinte.
Entre os que podem
postular candidaturas estão os membros da própria entidade responsável por
premiar os que seus jurados entendem como o mais qualificado dos indicados, os
integrantes de outras organizações similares, além de professores de literatura
e linguística de universidades, antigos vencedores e presidentes de sociedades
de autores em seus países. Até aí, tudo bem. Ocorre que em maio do ano da
premiação, a Academia Sueca faz rigorosa triagem dos postulantes e reduz seu
número original – geralmente de em torno de duas centenas – para apenas CINCO.
E o nome de cada componente desse seletíssimo quinteto é mantido no mais
estrito sigilo, como se fosse máximo segredo de Estado.
A identidade das quase
duas centenas de indicados até maio do ano da escolha “podem” (embora não
devam) ser conhecida pela imprensa. Os próprios indicadores, até com o objetivo
de pressionar os jurados, volta e meia divulgam quem são. Recentemente, o
secretário da Academia Sueca, Peter Englund, divulgou, em seu blog, comunicado
condenando essa divulgação. Enfatizou que ela contraria as regras da entidade,
que exigem sigilo absoluto em todas as fases do lançamento de candidaturas. A
mim ficou claro que muitos (a totalidade? Talvez!) violam esse regulamento.
Englund enfatizou em sua nota: "Na verdade, temos a possibilidade de
anular a indicação em questão, e não é impossível que ocorra com alguma no
futuro". Entendo que deveria já ter ocorrido no passado, ou então no
presente, porquanto regra é regra.
Qualquer candidato que
a violar, caso seja, afinal, premiado, o estará sendo de maneira irregular,
fraudulenta e, portanto, ilícita. É mister não se esquecer que o Prêmio Nobel
não se restringe, somente, ao prestígio que confere, embora seja
extraordinário. Atribui, também, ao escolhido, alguns milhões de dólares em sua
conta bancária. E quando entra dinheiro na parada... os preteridos têm todos os
motivos, de fato e de direito, para questionar a premiação (caso, óbvio, tenham
cumprido rigidamente todas as regras da Academia Sueca). Apesar dessa violação,
duvido que alguém conheça de antemão pelo menos um dos CINCO selecionados
finais. Daí os supostos “favoritos”, tão apregoados pela imprensa, não serem
favoritos coisíssima nenhuma!
E as apostas sobre quem
ganhará o Nobel de Literatura, que nesta época do ano se multiplicam nas várias
casas especializadas em “jogos de azar”, se baseiam no que? Caso eu queira
apostar, na esperança de ganhar algum dinheirinho extra mesmo que não se trate
de nenhuma fortuna, como saberei se meu preferido é sequer candidato? Se não
for, óbvio, não terei a mínima chance de êxito. Estarei, literalmente, jogando
dinheiro fora. Suponho que a “base” dos
apostadores seja a divulgação (que, reitero, é irregular) das candidaturas
registradas até maio por parte das pessoas e entidades que as patrocinaram. Não
saberão, contudo, quais são os CINCO finalistas, os que realmente permanecem na
disputa. Quem lucra com isso, claro, são as casas de apostas, que não precisam
pagar nada para ninguém, pelo fato de ninguém ter acertado o ganhador (caso
ninguém acerte mesmo, claro).
Como em todo jogo de
azar, no entanto, às vezes, alguém acerta. Se o nome em que apostou for o dos
que classificamos como “zebra”, poderá, até mesmo, ganhar fortuna. Caso
contrário... Quem apostou, por exemplo, na canadense Alice Munro, em 2013, ganhou
alguma coisa, mas não muito. Afinal, a escritora foi a segunda mais apostada.
Quem optou por ela, portanto, ganhou pouco mais do que investiu ou, talvez,
tenha recuperado, apenas, o investimento. Já em 2014, quem depositou suas
esperanças em Patrick Modiano (talvez
algum francês tenha apostado nesse escritor) certamente engordou bastante sua
conta bancária. Nas casas de apostas, ele era a “zebra das zebras”. A imprensa
não divulgou se houve ganhador e, em caso positivo, quem foi. Mas se alguém
acertou, mesmo que nunca tenha lido nenhum reles livro em toda sua vida, jamais
esquecerá o nome desse escritor cuja matéria-prima é a memória e as tentativas
de resgatá-la e/ou de conservá-la. Melhor seria se esse sujeito, além do
dinheiro que ganhou (caso tenha ganhado), “devorasse” com sofreguidão a
magnífica obra do ganhador do Nobel de Literatura de 2014. Mas...
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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