Sunday, October 18, 2015

Ao invés de ameaça, ajuda


Pedro J. Bondaczuk


O Líbano, esfacelado por 14 anos de uma odiosa guerra civil, cuja solução está mais distante do que nunca, além de ter vivido, ontem, mais um dia de intensa violência, com 30 mortes e ferimentos em pelo menos 130 pessoas, sofreu, para complicar, duas ameaças sérias na mesma ocasião. Uma partiu dos Estados Unidos, revelada pelo líder da bancada republicana no Senado norte-americano, Bob Dole.

O parlamentar afirmou que, se outro refém do seu país for morto pelos extremistas muçulmanos, que têm em seu poder os cativos ocidentais, essa arrasada nação do Oriente Médio será bombardeada. Que ironia! Como se faltassem bombas nestas terras, que já acolheram uma população integrada, próspera e feliz, que servia de exemplo para o mundo!

A outra ameaça foi feita pelo vice-primeiro-ministro israelense, Shimon Peres, tido como um moderado no governo do Estado judeu. Ele afirmou que o seu país não deixaria "pedra sobre pedra" no Sul do Líbano, para impedir a continuação das retaliações do grupo xiita Hezbollah, pelo seqüestro do seu líder espiritual, xeque Abdul Karim Obeid.

A terceira declaração contundente, envolvendo libaneses, foi feita por alguém de lá mesmo. Aliás, foi uma advertência, que já é óbvia. O dirigente da milícia drusa, Walid Jumblat, que perdeu um irmão nessa carnificina que não pára em sua pátria, previu que se a guerra civil não cessar, em breve Beirute vai desaparecer, simplesmente, do mapa.

Aliás, a capital libanesa tem, hoje, pouca coisa que lembre uma cidade. Por toda a parte, se nota a terrível devastação causada por essa nova fase do seu interminável conflito, iniciada em 13 de março passado, aumentando em algumas centenas a trágica estatística de mortos nos derradeiros 14 anos (que já passam dos 130 mil).

Dos 1,5 milhão de habitantes que possuía, hoje restam pouco menos de 200 mil nessa enorme massa de escombros. A prosseguir a violência, porém, em questão de dias, ou no máximo de semanas, não deverá restar mais ninguém ali. Ficarão apenas as ruínas desse que já foi o maior centro financeiro do Oriente Médio, para atestar o que a intolerância e a estupidez humana podem fazer a uma comunidade nacional.

Ao invés dos norte-americanos e israelenses fazerem ameaças, como as de ontem, a uma comunidade tão atormentada, que tal se tivessem um pouquinho de compaixão pelo sofrimento alheio e procurassem ajudar esse povo? Será que as vidas de sete cidadãos dos Estados Unidos e de três soldados judeus valem mais do que as de 2,5 milhões de libaneses?

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 11 de agosto de 1989).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk       

No comments: