Ao
invés de ameaça, ajuda
Pedro J. Bondaczuk
O
Líbano, esfacelado por 14 anos de uma odiosa guerra civil, cuja solução está
mais distante do que nunca, além de ter vivido, ontem, mais um dia de intensa
violência, com 30 mortes e ferimentos em pelo menos 130 pessoas, sofreu, para
complicar, duas ameaças sérias na mesma ocasião. Uma partiu dos Estados Unidos,
revelada pelo líder da bancada republicana no Senado norte-americano, Bob Dole.
O
parlamentar afirmou que, se outro refém do seu país for morto pelos extremistas
muçulmanos, que têm em seu poder os cativos ocidentais, essa arrasada nação do
Oriente Médio será bombardeada. Que ironia! Como se faltassem bombas nestas
terras, que já acolheram uma população integrada, próspera e feliz, que servia
de exemplo para o mundo!
A
outra ameaça foi feita pelo vice-primeiro-ministro israelense, Shimon Peres,
tido como um moderado no governo do Estado judeu. Ele afirmou que o seu país
não deixaria "pedra sobre pedra" no Sul do Líbano, para impedir a
continuação das retaliações do grupo xiita Hezbollah, pelo seqüestro do seu
líder espiritual, xeque Abdul Karim Obeid.
A
terceira declaração contundente, envolvendo libaneses, foi feita por alguém de
lá mesmo. Aliás, foi uma advertência, que já é óbvia. O dirigente da milícia
drusa, Walid Jumblat, que perdeu um irmão nessa carnificina que não pára em sua
pátria, previu que se a guerra civil não cessar, em breve Beirute vai
desaparecer, simplesmente, do mapa.
Aliás,
a capital libanesa tem, hoje, pouca coisa que lembre uma cidade. Por toda a
parte, se nota a terrível devastação causada por essa nova fase do seu
interminável conflito, iniciada em 13 de março passado, aumentando em algumas
centenas a trágica estatística de mortos nos derradeiros 14 anos (que já passam
dos 130 mil).
Dos
1,5 milhão de habitantes que possuía, hoje restam pouco menos de 200 mil nessa
enorme massa de escombros. A prosseguir a violência, porém, em questão de dias,
ou no máximo de semanas, não deverá restar mais ninguém ali. Ficarão apenas as
ruínas desse que já foi o maior centro financeiro do Oriente Médio, para
atestar o que a intolerância e a estupidez humana podem fazer a uma comunidade
nacional.
Ao
invés dos norte-americanos e israelenses fazerem ameaças, como as de ontem, a
uma comunidade tão atormentada, que tal se tivessem um pouquinho de compaixão
pelo sofrimento alheio e procurassem ajudar esse povo? Será que as vidas de
sete cidadãos dos Estados Unidos e de três soldados judeus valem mais do que as
de 2,5 milhões de libaneses?
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 11 de agosto de
1989).
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