Baixas
na Casa Branca
Pedro J. Bondaczuk
A saída do secretário de Defesa Caspar Weinberger da
equipe de governo norte-americana, anunciada extra-oficialmente domingo à
noite, e prevista para se configurar amanhã, caso se confirme, vai desfalcar o
presidente Ronald Reagan de outro elemento-chave de seu ministério, daquele
grupo que ele trouxe, virtualmente fechado, da Califórnia, ao iniciar o seu
primeiro mandato.
Um a um, seus colaboradores mais íntimos, por um
motivo ou outro, foram abandonando a Casa Branca, denotando um esvaziamento da
atual gestão, às vésperas da largada para a corrida presidencial de 1988. Nomes
como os de Alexander Haig (este demitido ainda no primeiro mandato, por causa
da sua desastrosa atuação na Guerra das Malvinas), Donald Regan, Robert
McFarlane, John Poindexter, Larry Speakes e vários outros, sumiram,
subitamente, dos noticiários e deixaram a vida pública, para retornarem a seus
afazeres particulares.
Entre todos estes, um que resistiu (diríamos, até
heroicamente) aos assédios de grupos radicais, foi o secretário de Estado,
George Shultz. Em várias ocasiões circularam rumores acerca da sua
substituição. Numa delas, falou-se na nomeação da ex-embaixadora
norte-americana na ONU, Jeanne Kirkpatrick, para ocupar o seu lugar.
Aliás, comentou-se, na época, que a sua preterição
para o posto foi o que a levou a deixar (ao menos temporariamente) a vida
pública e retornar ao magistério universitário. Quando o escândalo Irã-Contras
começou a pegar fogo, no início do corrente ano, previu-se, também, que o chefe
da diplomacia dos Estados Unidos não resistiria às pressões para que se
demitisse. Resistiu. E, mais do que isso, escapou impávido do falatório,
demonstrando, nas comissões investigadoras do Congresso, que foi dos poucos
colaboradores do presidente a se opor à desastrosa venda de armas para o Irã e
à mais catastrófica ainda transferência dos lucros assim obtidos para os
rebeldes nicaragüenses.
Mas Shultz não faz parte da equipe original de
Reaga. Daquela heróica e vibrante, de princípios de 1981. Um que fez, está
sendo alvo, atualmente, de enorme ataque (sem que possa se defender): é o
falecido diretor da CIA, William Casey, acusado (depois de morto) no livro do
jornalista Bob Woodward (o grande sucesso da atual temporada editorial) de ter
usado o órgão para a prática de vários atos ilegais (inclusive para a prática
de atentados terroristas no Líbano).
Como se sente o presidente diante dessa debandada?
Como alguém traído pelos amigos? Talvez! Certamente não deve ser uma sensação
muito agradável o término de um mandato, onde se foi de um extremo ao outro do
sucesso. Ou seja, do auge da popularidade, batendo o recorde de Franklin Delano
Roosevelt, ao máximo do desprestígio, superado, nesse particular, apenas por
Richard Nixon, após o Watergate. Esses sim seriam os autênticos e espinhosos
“ossos do ofício”.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do
Correio Popular, em 4 de novembro de 1987)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment