Thursday, October 22, 2015

Sombra do terror paira sobre Seul


Pedro J. Bondaczuk


Os estudantes radicais sul-coreanos farão, com toda a certeza, o possível e o impossível para envergonhar o governo do presidente Roh Tae-Woo perante a comunidade internacional, que estará de olho, dentro de uma semana, em Seul, onde vai acontecer a Olimpíada com o maior número de atletas e de países participantes de todos os tempos. Tentarão, a todo o custo, promover manifestações nos pontos mais visíveis da cidade, torcendo para que a repressão policial seja tão severa como tem sido nos últimos tempos.

Foram vãos os apelos feitos aos universitários para que se abstivessem de dar esse vexame. Eles estão usando como pretexto o fato dos Jogos Olímpicos não estarem sendo compartilhados pela Coréia do Norte, o que, pelo próprio regulamento da competição, não seria permitido.

Mas o risco maior não reside aí, embora os protestos estudantis não deixem de se constituir num sério embaraço para o país. O perigo está na eventualidade dos lamentáveis fatos verificados em Munique , em 1972, voltarem a se repetir, com a ocorrência de atos terroristas, que podem manchar de sangue um evento destinado à promoção da paz. Podem empanar o brilho de uma festa da juventude mundial, que mostra todo seu talento apenas na quebra de recordes esportivos e na aproximação fraterna entre os povos através dessa salutar prática. Existem informações de que um comando de 30 homens, do grupo do palestino Abu Nidal, já estaria em Seul, a postos para cumprir a sua macabra "tarefa".

Encontrar tais facínoras, no meio de uma cidade do porte da capital sul-coreana, é como procurar "uma agulha num palheiro". É verdade que o governo da Coréia do Sul vem montando seu esquema de segurança há tempos. Além disso, conta com a colaboração dos maiores peritos na luta antiterrorista do mundo, ou seja, com agentes norte-americanos, franceses, britânicos e israelenses. E todo esse cuidado não é, em absoluto, exagerado. O leitor já pensou na carnificina que ocorreria caso uma bomba explodisse no estádio de futebol no dia da decisão de medalha de ouro, por exemplo? Ou no ginásio onde estivesse sendo decidido o título de basquete? O perigo é real e de dimensões assustadoras.

Confusões, portanto, não vão faltar para os sul-coreanos, nos tensos 16 dias em que eles estarão recebendo cerca de onze mil atletas, de 146 países. A Olimpíada pode ser a consagração da Coréia do Sul como promotora de grandes eventos, ou uma tremenda propaganda negativa contra essa nação. Conviria que os estudantes radicais deixassem um pouco de lado suas questiúnculas ideológicas e dessem uma trégua às suas já atarefadas autoridades. Mas como falar em racionalidade quando se lida com fanáticos?

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 9 de setembro de 1988)


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