Sombra do terror paira sobre
Seul
Pedro J. Bondaczuk
Os
estudantes radicais sul-coreanos farão, com toda a certeza, o possível e o
impossível para envergonhar o governo do presidente Roh Tae-Woo perante a
comunidade internacional, que estará de olho, dentro de uma semana, em Seul,
onde vai acontecer a Olimpíada com o maior número de atletas e de países
participantes de todos os tempos. Tentarão, a todo o custo, promover
manifestações nos pontos mais visíveis da cidade, torcendo para que a repressão
policial seja tão severa como tem sido nos últimos tempos.
Foram
vãos os apelos feitos aos universitários para que se abstivessem de dar esse
vexame. Eles estão usando como pretexto o fato dos Jogos Olímpicos não estarem
sendo compartilhados pela Coréia do Norte, o que, pelo próprio regulamento da
competição, não seria permitido.
Mas
o risco maior não reside aí, embora os protestos estudantis não deixem de se
constituir num sério embaraço para o país. O perigo está na eventualidade dos
lamentáveis fatos verificados em Munique , em 1972, voltarem a se repetir, com
a ocorrência de atos terroristas, que podem manchar de sangue um evento
destinado à promoção da paz. Podem empanar o brilho de uma festa da juventude
mundial, que mostra todo seu talento apenas na quebra de recordes esportivos e
na aproximação fraterna entre os povos através dessa salutar prática. Existem
informações de que um comando de 30 homens, do grupo do palestino Abu Nidal, já
estaria em Seul, a postos para cumprir a sua macabra "tarefa".
Encontrar
tais facínoras, no meio de uma cidade do porte da capital sul-coreana, é como
procurar "uma agulha num palheiro". É verdade que o governo da Coréia
do Sul vem montando seu esquema de segurança há tempos. Além disso, conta com a
colaboração dos maiores peritos na luta antiterrorista do mundo, ou seja, com
agentes norte-americanos, franceses, britânicos e israelenses. E todo esse
cuidado não é, em absoluto, exagerado. O leitor já pensou na carnificina que
ocorreria caso uma bomba explodisse no estádio de futebol no dia da decisão de
medalha de ouro, por exemplo? Ou no ginásio onde estivesse sendo decidido o
título de basquete? O perigo é real e de dimensões assustadoras.
Confusões,
portanto, não vão faltar para os sul-coreanos, nos tensos 16 dias em que eles
estarão recebendo cerca de onze mil atletas, de 146 países. A Olimpíada pode
ser a consagração da Coréia do Sul como promotora de grandes eventos, ou uma
tremenda propaganda negativa contra essa nação. Conviria que os estudantes
radicais deixassem um pouco de lado suas questiúnculas ideológicas e dessem uma
trégua às suas já atarefadas autoridades. Mas como falar em racionalidade
quando se lida com fanáticos?
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 9 de setembro de
1988)
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