Brasileiros e o Nobel
de Literatura
Pedro
J. Bondaczuk
Há escritores
(brasileiros ou não) de obra tão sólida e consensualmente reconhecida que, se
estivessem vivos, ganhar ou não um Prêmio Nobel de Literatura não faria a menor
diferença. Cito, sem pestanejar, o nome mais óbvio, que poderia (e deveria) ter
sido premiado, mas não foi: Machado de Assis. No seu caso, há uma série de
justificativas, que hoje cairiam por terra, mas que no início do século XX
tinham lá certa lógica. Quando o prêmio foi instituído, em 1900, mas só
entregue pela primeira vez no ano seguinte, em 1901, o Bruxo do Cosme Velho
ainda estava vivo. Sua magnífica obra estava pronta, acabada e consolidada,
pois seus principais livros já haviam sido escritos e publicados quase uma década
antes. Havia, pois, como chegarem às mãos do júri da Academia Sueca.
Todavia, se ainda hoje,
a língua portuguesa é obstáculo (pelo menos o alegado) para que escritores do
Brasil e de Portugal sejam mais conhecidos fora de seus respectivos países, na
época era muito maior, praticamente intransponível, ou quase. Machado de Assis
ainda não gozava um milésimo do prestígio internacional de que goza hoje. Se
estivesse vivo, entretanto, duvido que, em algum momento, não viesse a ser
premiado. É verdade que nunca se sabe. Mas... Claro, receberia o prêmio caso
sua candidatura fosse devidamente lançada. Tenho certeza de que, entre 1900 e
1905, um ano antes da sua morte, nunca o foi. No Brasil, infelizmente, é uma
espécie de “pecado mortal” alguém fazer sucesso. Quando faz, logo inventam
fofocas e intrigas e trazem à baila picuinhas de sua vida, geralmente boatos e
insinuações sem fundamento, para desmerecê-lo. Uma lástima!
Li, há algum tempo,
excelente matéria, publicada na edição 199, de abril de 2004, da revista
“Superinteressante” abordando a relação do Nobel de Literatura com o Brasil.
Nela, seu autor, Rodrigo Rezende, cita pelo menos três casos em que brasileiros
“bateram na trave” e quase conquistaram o prêmio. O primeiro foi o de Carlos
Drummond de Andrade. Registre-se que o poeta de Itabira não estava nem aí para
o Nobel. “Quando, em 1967, seu tradutor para o sueco pediu todas as suas
traduções disponíveis, ele não quis colaborar. O pedido havia partido do comitê
do Nobel de Literatura, mas não agradou ao mineiro. Ele dizia, em suas crônicas
no Jornal do Brasil, que o merecedor era o amigo Jorge Amado”. Concordo que
era. Mas Drummond igualmente era merecedor do prêmio. Não teve, pois, a
candidatura sequer formalizada. E, claro, não ganhou. E isso faz alguma diferença?
Já no caso do autor de
“Gabriela, cravo e canela”, era quase certeza de que em algum momento seria
premiado. O genial baiano esteve por bom tempo na relação dos favoritos e foi
bem cotado nas casas de aposta. Todavia... a Academia Sueca demorou demais para
fazer justiça a Jorge Amado. E a morte chegou antes, em 2001. Segundo a matéria
da “Superinteressante”, o momento em que o genial romancista, traduzido para
praticamente todas as línguas do Planeta, “esteve mais próximo do Nobel de
Literatura foi em 1967, logo após o sucesso de Dona Flor e seus Dois Maridos.
Nesse ano, perdeu para Miguel Angel Astúrias”. Com todo respeito ao
guatemalteco, mas sua obra literária não chega nem aos pés da de Jorge Amado,
nem em quantidade e muito menos em qualidade.
A surpresa, para mim,
na matéria de Rodrigo Rezende é o tópico em que ele se refere a Jorge de Lima.
O poeta alagoano “foi um talento reconhecido em 1947 por um olheiro do Nobel.
Impressionado com a obra de Jorge de Lima, Artur Lunkvist convenceu a academia
a dar o Nobel de Literatura a ele no ano de 1958, já que havia uma lista de
autores para ganhar antes”. Infelizmente... O poeta brazuca morreu em 1953. “E
o Nobel só premia vivos”. Esse caso, para mim, é novidade. Poetas por poetas,
há uma infinidade de brasileiros aos quais o Nobel de Literatura cairia justo,
como uma luva. Além de Drummond e de Jorge de Lima, eu citaria, sem pestanejar
(e omitindo, sem exagero, uma centena ou mais de nomes), Manuel Bandeira, Mário
Quintana, Manoel de Barros, João Cabral de Mello Neto, Ferreira Gullar, Cecília
Meirelles, Vinícius de Moraes, Cora Coralina, Adélia Prado, Flora Figueiredo e
vai por aí afora. Ou essa turma fica algo a dever a tantos e tantos e tantos
poetas obscuríssimos, de países exóticos, que ganharam o Nobel de
Literatura?!!!
É certo que para alguns
milhares de escritores (brasileiros ou não), o prêmio da Academia Sueca não
faria, nem faz a menor diferença. Eles estão muitos, muitíssimos furos acima
disso. E essa opinião não é somente minha. Neste domingo (4 de outubro de
2015), por exemplo, li matéria a respeito, na edição eletrônica do jornal
“Opção”, assinada pelo jornalista Euler de França Belém, em que este escreveu,
a certa altura: “Há autores que, de tão consagrados, não precisam mais do Prêmio
Nobel de Literatura. Tal como ocorreu com Liev Tolstói, Henry James, James
Joyce, Guimarães Rosa, Jorge Luis Borges, Carlos Drummond de Andrade, todos
mortos, consagrados mas sem o Nobel, o americano Philip Roth e o tcheco Milan
Kundera não precisam do Nobel. Se um deles for escolhido este ano, a Academia
Sueca merecerá ganhar um prêmio: o de qualidade literária”. E Euler de França
Belém e eu estamos errados? Ora, ora, ora..
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.
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