As mulheres de Jorge
Amado
Pedro
J. Bondaczuk
O baiano Jorge Amado é
consenso entre críticos literários, pesquisadores e leitores afeitos à leitura
quando o assunto é qualidade e importância para a Literatura brasileira. Está
para sempre num seleto grupo encabeçado por Machado de Assis, cada qual com seu
estilo, sua temática e sua contribuição às letras nacionais, mas todos
imprescindíveis. Antes do surgimento do “fenômeno” editorial chamado Paulo
Coelho, Jorge Amado era o escritor brasileiro mais traduzido, mais vendido e,
por conseqüência, mais lido em âmbito mundial. Ainda hoje sustenta esse status,
mesmo que na segunda colocação, apreciado em todos os continentes onde haja
alguém interessado em boa literatura. É, desde que me conheço por gente, um dos
meus gurus, quando o assunto é ficção.
Uma das tantas virtudes
de Jorge Amado (posto que não a única, claro) é a criação de personagens, tanto
masculinos quanto femininos, autênticos, verossímeis, “vivos”, atemporais,
desses tantos que encontramos amiúde nas ruas, nos bares, nos pontos de ônibus,
nos estádios de futebol, etc.etc.etc., que se fixam em nossa mente e nos
fascinam, por terem muito, quando não tudo, de nós. O escritor baiano
(deduz-se) era dotado de uma capacidade de observação ímpar. É o tipo de
escritor que nenhum professor precisa obrigar seus alunos mais arredios (ou
preguiçosos) a ler seus livros. Basta que leiam o primeiro parágrafo para, de
imediato, se envolverem com seus textos e quererem chegar logo à última página.
Já testemunhei isso e não apenas uma vez. Seus enredos e os protagonistas que
criou envolvem, acumpliciam e fixam a atenção mesmo dos que não são muito
familiarizados à leitura.
Portanto, quando se
fala de personagens femininas inesquecíveis é, no mínimo, heresia omitir as
várias mulheres que ele “criou”. Como esquecer Gabriela, a sensual morena, com
cheiro de cravo e canela, após conhecê-la? É impossível! E dá para esquecer
Tieta do Agreste – expulsa de casa pelo
pai atrasado e turrão e que retorna aos seus pagos “modernizada”, para agitar a
vida e os costumes do arraial natal? Será que alguém esquece Tereza Batista,
“cansada de guerra”? Ou Dona Flor, a dos dois maridos, “tentada” pelo
“espírito” do boêmio Vadinho, por quem continua apaixonada após a morte dele?
Citei estas quatro por serem as mais conhecidas, popularizadas pela televisão e
por vários filmes que inspiraram. Poderia, no entanto, citar mais um punhado de
personagens femininas que Jorge Amado criou e que são e sempre serão
inesquecíveis.
São mulheres do povo,
nossas, brasileiras, dotadas não somente de sensualidade, aspecto que os
estrangeiros mais notam nelas e que lhes despertam mil fantasias, mas também e,
sobretudo, de força e de coragem. São elas que chefiam as casas em pelo menos
60% dos lares do País, criando filhos, sustentando-os com seu trabalho, educando-os,
mas sem nunca perderem o charme, o encanto e a graça. Ah, as personagens
femininas de Jorge Amado! Ah, as mulheres brasileiras, negras como perfeitas
estátuas de ébano, morenas sensuais, indígenas com aroma de natureza, mulatas
estonteantes, loiras, belas, judiadas, sofridas, envelhecidas etc.etc.etc., mas
corajosas, valentes e audazes!!!
Tratar de personagens
femininas inesquecíveis, criadas por este gênio da ficção, em um único e
resumido texto, é diminuir, de certa forma, sua importância. Tratarei, pois, de
forma um pouquinho mais extensa – posto que não como o assunto merece –
notadamente de Gabriela, de Tereza Batista, de Tieta e de Dona Flor, as quatro
mais populares, na sequência desta série de comentários despretensiosos, mas
que me dão incomparável prazer de produzir. Frise-se que elas não são meras
“figurantes” nos enredos em que aparecem. São as condutoras das tramas, o ponto
central em torno das quais giram todas as histórias, são suas heroínas.
Vestem-se como as
mulheres do povo. Falam sua linguagem, não raro de forma crua e desbocada, como
ocorre na vida real. Comportam-se, agem e reagem como as tantas que conhecemos,
como as com que convivemos no cotidiano. São vivas, posto que de ficção. Pensam como qualquer das tantas de nossos
relacionamentos. Gracejam, quando gracejos sejam pertinentes. Brigam, quando
contrariadas. Amam, quando tocadas pelo amor. São mulheres brasileiras!!! São,
sem tirar e nem pôr, personagens femininas absolutamente inesquecíveis!
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