Monday, October 12, 2015

As mulheres de Jorge Amado

Pedro J. Bondaczuk

O baiano Jorge Amado é consenso entre críticos literários, pesquisadores e leitores afeitos à leitura quando o assunto é qualidade e importância para a Literatura brasileira. Está para sempre num seleto grupo encabeçado por Machado de Assis, cada qual com seu estilo, sua temática e sua contribuição às letras nacionais, mas todos imprescindíveis. Antes do surgimento do “fenômeno” editorial chamado Paulo Coelho, Jorge Amado era o escritor brasileiro mais traduzido, mais vendido e, por conseqüência, mais lido em âmbito mundial. Ainda hoje sustenta esse status, mesmo que na segunda colocação, apreciado em todos os continentes onde haja alguém interessado em boa literatura. É, desde que me conheço por gente, um dos meus gurus, quando o assunto é ficção.

Uma das tantas virtudes de Jorge Amado (posto que não a única, claro) é a criação de personagens, tanto masculinos quanto femininos, autênticos, verossímeis, “vivos”, atemporais, desses tantos que encontramos amiúde nas ruas, nos bares, nos pontos de ônibus, nos estádios de futebol, etc.etc.etc., que se fixam em nossa mente e nos fascinam, por terem muito, quando não tudo, de nós. O escritor baiano (deduz-se) era dotado de uma capacidade de observação ímpar. É o tipo de escritor que nenhum professor precisa obrigar seus alunos mais arredios (ou preguiçosos) a ler seus livros. Basta que leiam o primeiro parágrafo para, de imediato, se envolverem com seus textos e quererem chegar logo à última página. Já testemunhei isso e não apenas uma vez. Seus enredos e os protagonistas que criou envolvem, acumpliciam e fixam a atenção mesmo dos que não são muito familiarizados à leitura.

Portanto, quando se fala de personagens femininas inesquecíveis é, no mínimo, heresia omitir as várias mulheres que ele “criou”. Como esquecer Gabriela, a sensual morena, com cheiro de cravo e canela, após conhecê-la? É impossível! E dá para esquecer Tieta do Agreste –  expulsa de casa pelo pai atrasado e turrão e que retorna aos seus pagos “modernizada”, para agitar a vida e os costumes do arraial natal? Será que alguém esquece Tereza Batista, “cansada de guerra”? Ou Dona Flor, a dos dois maridos, “tentada” pelo “espírito” do boêmio Vadinho, por quem continua apaixonada após a morte dele? Citei estas quatro por serem as mais conhecidas, popularizadas pela televisão e por vários filmes que inspiraram. Poderia, no entanto, citar mais um punhado de personagens femininas que Jorge Amado criou e que são e sempre serão inesquecíveis.

São mulheres do povo, nossas, brasileiras, dotadas não somente de sensualidade, aspecto que os estrangeiros mais notam nelas e que lhes despertam mil fantasias, mas também e, sobretudo, de força e de coragem. São elas que chefiam as casas em pelo menos 60% dos lares do País, criando filhos, sustentando-os com seu trabalho, educando-os, mas sem nunca perderem o charme, o encanto e a graça. Ah, as personagens femininas de Jorge Amado! Ah, as mulheres brasileiras, negras como perfeitas estátuas de ébano, morenas sensuais, indígenas com aroma de natureza, mulatas estonteantes, loiras, belas, judiadas, sofridas, envelhecidas etc.etc.etc., mas corajosas, valentes e audazes!!!

Tratar de personagens femininas inesquecíveis, criadas por este gênio da ficção, em um único e resumido texto, é diminuir, de certa forma, sua importância. Tratarei, pois, de forma um pouquinho mais extensa – posto que não como o assunto merece – notadamente de Gabriela, de Tereza Batista, de Tieta e de Dona Flor, as quatro mais populares, na sequência desta série de comentários despretensiosos, mas que me dão incomparável prazer de produzir. Frise-se que elas não são meras “figurantes” nos enredos em que aparecem. São as condutoras das tramas, o ponto central em torno das quais giram todas as histórias, são suas heroínas.

Vestem-se como as mulheres do povo. Falam sua linguagem, não raro de forma crua e desbocada, como ocorre na vida real. Comportam-se, agem e reagem como as tantas que conhecemos, como as com que convivemos no cotidiano. São vivas, posto que de ficção.   Pensam como qualquer das tantas de nossos relacionamentos. Gracejam, quando gracejos sejam pertinentes. Brigam, quando contrariadas. Amam, quando tocadas pelo amor. São mulheres brasileiras!!! São, sem tirar e nem pôr, personagens femininas absolutamente inesquecíveis!


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