Federação mais autêntica
Pedro J. Bondaczuk
A
declaração de independência da Lituânia, aprovada, em histórica sessão do
Parlamento dessa República do Báltico (realizada anteontem), por 124 votos a
favor, nenhum contrário e seis abstenções, inaugurou a última fase do processo
de sepultamento das conseqüências da Segunda Guerra Mundial na Europa. O
presidente soviético, Mikhail Gorbachev, quando de sua última reunião de cúpula
com seu colega George Bush (alias, a primeira sustentada com esse governante
norte-americano) ao largo da Ilha de Malta, no Mar Mediterrâneo, no início de
dezembro de 1989, havia proclamado tal ocasião como sendo a data real do
encerramento desse conflito. Esqueceu-se, no entanto, que havia ainda um
assunto pendente: o da anexação da Lituânia, Letônia e Estônia, por parte do
seu país, como conseqüência do pacto Ribbentrop-Molotov, de 1940. Durante esse
encontro, sepultou-se a Guerra Fria.
Há
quem veja na atitude dos lituanos (que certamente será seguida por letões e
estonianos) o início da desagregação do vasto império soviético. Aliás, isto
vem sendo pregado desde os tempos dos czares, mas sempre de forma precipitada.
O que certamente irá acontecer será a perda dos chamados "territórios
periféricos". Talvez a secessão atinja a quatro ou cinco das 15 Repúblicas
atuais, todas de pequenas dimensões e que na verdade (à exceção do Azerbaijão,
rico em petróleo) dão mais despesas do que lucros. Ainda assim, a União
Soviética, mesmo "encolhida", continuará sendo a maior extensão de
terras contínua do Planeta dominada por um único país, com onze fusos horários
e abrigando mais de 100 nacionalidades, com línguas, tradições e costumes
diferentes. É claro que para isso a federação vai ter que mudar. Precisará
adequar-se a uma nova mentalidade.
Consciente
dessa realidade, o presidente Mikhail Gorbachev já propôs ao Parlamento um novo
tipo de relacionamento entre as unidades federacionistas que compõem a URSS.
Algo moderno (como acontece no Ocidente), onde cada República tenha o seu
espaço próprio e voz ativa em âmbito nacional. Em que não ocorra a
centralização atual, onde todas as questões, mesmo as de caráter francamente
regional, são decididas em Moscou, por um grupinho de burocratas, alienados
sobre o que se passa no país. Até que se chegue a isso, !muita água vai
rolar".
Distúrbios,
manifestações e até desafios, como o da Lituânia, vão surgir nos próximos anos.
Por isso, é bom que a maioria russa vá se acostumando a negociar e não mais a
usar o "argumento" da força. Este se torna, a cada dia que passa, um
anacronismo, destinado a povos muito atrasados, nestes tempos em que, como
Reagan assinalou no Japão em meados de 1989, um simples disquete de computador
é capaz de derrubar uma ditadura.
(Artigo
publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 13 de março de
1990)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment