Friday, May 06, 2016

Também em eleições, as aparências enganam


Pedro J. Bondaczuk


A campanha presidencial norte-americana começa a esquentar, quando faltam somente 58 dias para que os eleitores compareçam às urnas (como sempre o fizeram, com uma regularidade jamais igualada na história, a cada quatro anos, desde 1776), para escolher o próximo “inquilino” da Casa Branca.

De um lado estão os democratas, mais agressivos do que nunca, após oito anos de jejum do poder, atacando ponto por ponto da política de defesa e de relacionamento externo da atual administração. O partido já tomou todas as definições que deveria tomar na sua convenção nacional do mês passado, realizada em Atlanta, na Geórgia. Oficializou Michael Dukakis e Lloyd Bentsen, respectivamente, como candidatos a presidente e a vice. E uniu, pela primeira vez em muitas décadas, todas as suas diversas alas em torno de uma única bandeira.

No outro extremo estão os republicanos, confiantes no carisma de Ronald Reagan e no perfil do eleitor norte-americano. A agremiação ainda não definiu o que deveria definir. Oficialmente, por exemplo, George Bush sequer é o candidato do partido. Falta ser homologado pela convenção partidária, que vai acontecer segunda-feira próxima, em Nova Orleans, Estado da Louisiana.

Ninguém sabe, por outro lado, quem será o seu vice, existindo três nomes fortemente cotados: os pré-candidatos presidenciais Bob Dole e Jack Kemp e o governador da Califórnia, George Deukmejian, com maiores probabilidades para o primeiro.

Com tudo isso, todavia, por incrível que possa parecer, o postulante do Partido Republicano tem maiores chances de chegar à Casa Branca. Enquanto Dukakis aponta os erros do atual governo, em discursos vigorosos, como o pronunciado ontem, na Universidade de Nova York, Reagan, que será o “fiel da balança” nas eleições, age. Como fez ontem, liberando a maior ajuda já destinada a qualquer grupo da sociedade norte-americana em todos os tempos, de US$ 3,9 bilhões, para socorrer os agricultores do país, que perderam as suas colheitas em decorrência da seca.

É verdade que a medida foi aprovada pelo Congresso, cuja maioria é democrata. Mas para os beneficiados, o que vai contar é a sanção presidencial. E Bush acaba, por tabela, conquistando mais alguns poderosos e importantes adeptos. Há muita gente impressionada com as pesquisas de opinião, dando vasta vantagem a Dukakis. Mas após a convenção republicana de segunda-feira, esse quadro tende a se inverter.

Esse é um fenômeno comum antes das definições partidárias. Nos dias que antecederam a reunião democrata, era o seu candidato que estava por baixo. O que vai decidir as eleições, portanto, serão as atitudes de Reagan. E a menos que ele faça alguma grande bobagem nos próximos 58 dias, Bush tem tudo para vencer esse pleito.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 12 de agosto de 1988).


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