Também em eleições, as aparências enganam
Pedro J.
Bondaczuk
A campanha presidencial norte-americana começa a
esquentar, quando faltam somente 58 dias para que os eleitores compareçam às
urnas (como sempre o fizeram, com uma regularidade jamais igualada na história,
a cada quatro anos, desde 1776), para escolher o próximo “inquilino” da Casa
Branca.
De um lado estão os democratas,
mais agressivos do que nunca, após oito anos de jejum do poder, atacando ponto
por ponto da política de defesa e de relacionamento externo da atual
administração. O partido já tomou todas as definições que deveria tomar na sua
convenção nacional do mês passado, realizada em Atlanta, na Geórgia.
Oficializou Michael Dukakis e Lloyd Bentsen, respectivamente, como candidatos a
presidente e a vice. E uniu, pela primeira vez em muitas décadas, todas as suas
diversas alas em torno de uma única bandeira.
No outro extremo estão os
republicanos, confiantes no carisma de Ronald Reagan e no perfil do eleitor
norte-americano. A agremiação ainda não definiu o que deveria definir.
Oficialmente, por exemplo, George Bush sequer é o candidato do partido. Falta
ser homologado pela convenção partidária, que vai acontecer segunda-feira
próxima, em Nova Orleans, Estado da Louisiana.
Ninguém sabe, por outro lado,
quem será o seu vice, existindo três nomes fortemente cotados: os
pré-candidatos presidenciais Bob Dole e Jack Kemp e o governador da Califórnia,
George Deukmejian, com maiores probabilidades para o primeiro.
Com tudo isso, todavia, por
incrível que possa parecer, o postulante do Partido Republicano tem maiores
chances de chegar à Casa Branca. Enquanto Dukakis aponta os erros do atual
governo, em discursos vigorosos, como o pronunciado ontem, na Universidade de
Nova York, Reagan, que será o “fiel da balança” nas eleições, age. Como fez
ontem, liberando a maior ajuda já destinada a qualquer grupo da sociedade
norte-americana em todos os tempos, de US$ 3,9 bilhões, para socorrer os
agricultores do país, que perderam as suas colheitas em decorrência da seca.
É verdade que a medida foi
aprovada pelo Congresso, cuja maioria é democrata. Mas para os beneficiados, o
que vai contar é a sanção presidencial. E Bush acaba, por tabela, conquistando
mais alguns poderosos e importantes adeptos. Há muita gente impressionada com
as pesquisas de opinião, dando vasta vantagem a Dukakis. Mas após a convenção
republicana de segunda-feira, esse quadro tende a se inverter.
Esse é um fenômeno comum antes
das definições partidárias. Nos dias que antecederam a reunião democrata, era o
seu candidato que estava por baixo. O que vai decidir as eleições, portanto,
serão as atitudes de Reagan. E a menos que ele faça alguma grande bobagem nos
próximos 58 dias, Bush tem tudo para vencer esse pleito.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 12
de agosto de 1988).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment