Thursday, May 26, 2016

Irã recupera parte da influência


Pedro J. Bondaczuk


O resultado da guerra do Golfo Pérsico, com a esmagadora derrota iraquiana, mas com a permanência de Saddam Hussein no poder, no Iraque, fechou um ciclo nessa região, iniciado com a queda do regime do xá Rheza Pahlevi, no Irã. Ao cabo desses 12 anos, de fevereiro de 1979 a fevereiro de 1991, repletos de violência numa zona tão importante quanto essa, tida e havida como a veia jugular do Ocidente, em termos de abastecimento de petróleo, os iranianos, baixada a poeira de sua ruidosa e assustadora revolução, recuperaram, pelo menos parte, de sua antiga projeção.

Hoje, evidentemente, já não há mais o aiatolá Ruhollah Khomeini, prometendo incendiar a área e o mundo com o seu radicalismo, que se provou ser mais retórico do que prático. O Irã, evidentemente, está longe de exercer o papel que lhe coube até 1978, de "gendarme do Golfo Pérsico".

Mas a postura adotada pelo presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, desde a invasão iraquiana ao Kuwait, em 2 de agosto de 1990, até o fim da operação "Tempestade no Deserto", e os acontecimentos supervenientes, restituíram a Teerã muito do seu peso anterior, na equilíbrio da região.

Há, agora, o risco da balança pender excessivamente a seu favor, caso os xiitas do Iraque --- que são maioria nesse país, embora o poder tenha sido sempre dos sunitas --- logrem sucesso na rebelião que estão esboçando no sul iraquiano, mais notadamente na cidade de Basra (conhecida secularmente com o nome árabe de Bassora) e seu líder, Mohammed Al-Hakim, venha a substituir Saddam Hussein.

Caso este venha a ser o novo quadro político do pós-guerra, estará configurada mais uma ironia histórica. Durante os oito anos do conflito anterior, registrado no Golfo Pérsico, o Ocidente empenhou-se pelo enfraquecimento das duas únicas Repúblicas da área que ameaçavam as seis monarquias regionais.

Ostensivamente ou nos bastidores, as principais potências ocidentais armaram ambos os lados para que eles se destruíssem mutuamente. Inclusive os Estados Unidos agiram assim.

Recorde-se o rumoroso escândalo "Irã-contras", de fornecimento de armas norte-americanas ao regime dos aiatolás, quando isto estava proibido por lei do Congresso. A tática falhou.

Por mais estranho que pareça, Washington, Londres, Paris e outros governos que têm interesse nessa zona tão sensível, ficarão agora muito melhor servidos com um Saddam Hussein enfraquecido governando o Iraque --- que não tem dinheiro sequer para iniciar sua reconstrução --- do que com a ascensão de Hakim. Esse dirigente xiita está asilado há tempos em Teerã e comunga dos mesmos objetivos dos aiatolás iranianos.

Uma dessas metas é certamente a derrubada das monarquias do Golfo. Ao guerra, ao invés de reequilibrar a balança regional, desequilibrou-a por completo. Será preciso muito tato e muita visão de futuro dos diplomatas para que a jugular do petróleo ocidental não seja envenenada por fanatismos inconseqüentes através da exportação de revoluções.

(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 5 de março de 1991).


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