Irã recupera parte da
influência
Pedro J. Bondaczuk
O
resultado da guerra do Golfo Pérsico, com a esmagadora derrota iraquiana, mas
com a permanência de Saddam Hussein no poder, no Iraque, fechou um ciclo nessa
região, iniciado com a queda do regime do xá Rheza Pahlevi, no Irã. Ao cabo
desses 12 anos, de fevereiro de 1979 a fevereiro de 1991, repletos de violência
numa zona tão importante quanto essa, tida e havida como a veia jugular do
Ocidente, em termos de abastecimento de petróleo, os iranianos, baixada a
poeira de sua ruidosa e assustadora revolução, recuperaram, pelo menos parte,
de sua antiga projeção.
Hoje,
evidentemente, já não há mais o aiatolá Ruhollah Khomeini, prometendo incendiar
a área e o mundo com o seu radicalismo, que se provou ser mais retórico do que
prático. O Irã, evidentemente, está longe de exercer o papel que lhe coube até
1978, de "gendarme do Golfo Pérsico".
Mas
a postura adotada pelo presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, desde a invasão
iraquiana ao Kuwait, em 2 de agosto de 1990, até o fim da operação
"Tempestade no Deserto", e os acontecimentos supervenientes,
restituíram a Teerã muito do seu peso anterior, na equilíbrio da região.
Há,
agora, o risco da balança pender excessivamente a seu favor, caso os xiitas do
Iraque --- que são maioria nesse país, embora o poder tenha sido sempre dos
sunitas --- logrem sucesso na rebelião que estão esboçando no sul iraquiano,
mais notadamente na cidade de Basra (conhecida secularmente com o nome árabe de
Bassora) e seu líder, Mohammed Al-Hakim, venha a substituir Saddam Hussein.
Caso
este venha a ser o novo quadro político do pós-guerra, estará configurada mais
uma ironia histórica. Durante os oito anos do conflito anterior, registrado no
Golfo Pérsico, o Ocidente empenhou-se pelo enfraquecimento das duas únicas
Repúblicas da área que ameaçavam as seis monarquias regionais.
Ostensivamente
ou nos bastidores, as principais potências ocidentais armaram ambos os lados
para que eles se destruíssem mutuamente. Inclusive os Estados Unidos agiram
assim.
Recorde-se
o rumoroso escândalo "Irã-contras", de fornecimento de armas
norte-americanas ao regime dos aiatolás, quando isto estava proibido por lei do
Congresso. A tática falhou.
Por
mais estranho que pareça, Washington, Londres, Paris e outros governos que têm
interesse nessa zona tão sensível, ficarão agora muito melhor servidos com um
Saddam Hussein enfraquecido governando o Iraque --- que não tem dinheiro sequer
para iniciar sua reconstrução --- do que com a ascensão de Hakim. Esse dirigente
xiita está asilado há tempos em Teerã e comunga dos mesmos objetivos dos
aiatolás iranianos.
Uma
dessas metas é certamente a derrubada das monarquias do Golfo. Ao guerra, ao
invés de reequilibrar a balança regional, desequilibrou-a por completo. Será
preciso muito tato e muita visão de futuro dos diplomatas para que a jugular do
petróleo ocidental não seja envenenada por fanatismos inconseqüentes através da
exportação de revoluções.
(Artigo
publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 5 de março de
1991).
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