Potencial
desperdiçado
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil, que conta com a quinta maior população do
mundo (perde apenas para China, Índia, EUA e Indonésia, respectivamente),
teria, potencialmente, o terceiro maior mercado consumidor do Planeta, não
tivesse tamanho contingente de excluídos. Teria... Há muito que a sua chamada
População Economicamente Ativa não sai dos 65 milhões de pessoas (ou em torno
disso), o que representa pouco mais de um terço dos habitantes do País.
Proporcionalmente, é irrisório.
Ainda assim, nossa PEA é superior à indiana ou à
indonésia. Mas, dada a deficiente, a perversa, a ridícula distribuição de renda
brasileira (a segunda pior do mundo), deixamos de gozar de uma prosperidade que
nos é acessível, mas que por falta de visão, ou de vontade política, ou de
competência, ou de tudo isso reunido, parece um sonho irrealizável, senão mera
fantasia idealista.
No ano passado, a Fundação Getúlio Vargas divulgou
um estudo, dando conta das nossas mazelas sociais. O chamado "Mapa da
Fome" detecta a existência de um contingente de 49,6 milhões de pessoas
(29,3% da população do País, de 169 milhões de habitantes) que vivem em
absoluto estado de miséria, diríamos de total indigência. Trata-se daqueles que
não podem gastar sequer R$ 80,00 por mês nem mesmo em alimentos! São
brasileiros que passam fome...
Imaginem se este enorme contingente de excluídos,
quase o equivalente à população total da Grã-Bretanha, tivesse acesso ao
consumo mínimo, já não dizemos de bens e serviços supérfluos, mas do essencial!
Que enorme potencial de circulação de riquezas não estaria à disposição da
indústria, do comércio e da agricultura, entre outros, nacionais e
internacionais! E estamos encarando a questão apenas pelo aspecto estritamente
econômico, não pelo social ou pelo humanitário.
Não seria caso dos países do chamado Primeiro Mundo,
de "olho gordo" neste tentador mercado, em uma economia supostamente
globalizada, fazerem alguma coisa (qualquer coisa), até para garantirem sua
própria prosperidade?
Não seria compensador estabelecerem uma espécie de
"Plano Marshall" para o Brasil, que erradicasse a miséria brasileira
e incorporasse esses 49,6 milhões de indigentes às benesses do consumo? E não
seria necessário muito dinheiro para isso. O estudo da FGV destaca que o investimento
para pôr fim à miséria absoluta no País não passa de R$ 1,7 bilhão (cerca de
US$ 850 milhões) mensais!
Em termos nacionais, bastaria que cada brasileiro
contribuísse com míseros R$ 10,00 por mês e que os recursos fossem, realmente,
destinados a esse fim, sem desvios para outras finalidades ou, o que é pior,
para o bolso de cínicos espertalhões. Convenhamos, é muito pouco para resultado
tão compensador.
É uma quantia ridiculamente irrisória para eliminar
tanto sofrimento e humilhação e multiplicar riquezas. No Estado de São Paulo, a
cifra necessária para pôr fim à pobreza absoluta é ainda menor: R$ 4,50 mensais
(o equivalente ao preço de três maços de cigarros de qualidade média).
Por que, então, não se pensa com seriedade nessa
possibilidade? Mistério... Conclui-se que os detentores de capital não são
assim tão espertos como se pensa, já que, claro, consciência social (todos
sabemos) não têm nenhuma...
(Artigo publicado na
página 2, Opinião, do jornal Campinas Hoje, em 6 de maio de 2002)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.
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