Monday, May 30, 2016

Era dos seqüestros está chegando ao fim



Pedro J. Bondaczuk


O seqüestro do Jumbo da Kuwait Airways, que já dura, praticamente, três dias consecutivos, está sendo um dos mais dramáticos dos últimos tempos. Aliás, operações desse tipo sempre são. Quem age dessa maneira está disposto a tudo. Em geral, ou o ato de pirataria é obra de loucos, ou de fanáticos, o que vem a dar na mesma.

O Irã perdeu uma preciosa oportunidade de ganhar alguns pontinhos a mais, em termos de prestígio internacional, ao acabar cedendo às ameaças dos terroristas e deixa-los decolar do Aeroporto de Mashhad. Já no Líbano, os extremistas não tiveram a mesma facilidade que outros seqüestradores gozaram no passado. Tudo por causa da decisão Síria, cujas tropas controlam boa parte de Beirute, de não aceitarem que esse problema ficasse a seu encargo.

Damasco, de uns tempos para cá, está empenhada em limpar um pouco a sua imagem, após seu regime ter entrado em confronto com a Grã-Bretanha no ano passado. O presidente Hafez Assad pretende, a todo o custo, apagar qualquer impressão de que seu país seja um Estado patrocinador do terrorismo.

Aliás, essa mesma atitude vem sendo adotada, ultimamente, pelo Irã e pela Líbia. É comum aos três países que ficaram marcados pela comunidade internacional com essa incômoda fama e que, por isso, tiveram enormes prejuízos, não somente de ordem política, mas, sobretudo, material. Sofreram duras sanções econômicas do Ocidente, que fizeram o seu efeito. Trouxeram sírios, iranianos e líbios à realidade.

O perigo, no atual seqüestro, é o desespero que parece estar tomando conta dos seqüestradores. Com toda a certeza, eles achavam que as coisas iriam correr como no passado. Ou seja, que fariam um punhado de reféns e que, para salvaguardar a vida desses cativos, o Kuwait iria ceder, de imediato, à chantagem e libertar os 17 xiitas condenados, eméritos terroristas, gente perigosa e disposta a tudo, que ele pretendem que sejam soltos.

Deram-se mal, no entanto. Os kuwaitiannos, como tantos outros governos que um dia cederam à chantagem, compreenderam ser inútil fazer concessões ao terror. Atitudes fracas sempre acabaram redundando, em outros tempos, em novos atentados, seqüestros e assassinatos.

As concessões anteriores é que fizeram o sucesso do terrorismo. Resta saber quem irá resgatar os reféns. Quem conseguir esse feito, mesmo que haja vítimas na operação de resgate, estará prestando um grande serviço à aviação civil, desestimulando novos atos deste tipo e tornando, de vez, os vôos absolutamente seguros e a salvo de surpresas, como essa.

A era dos grandes seqüestros de avião já passou. Só os infelizes piratas aéreos (provavelmente xiitas libaneses) ainda não sabem disso. E, pelo visto, irão aprender por métodos muito dolorosos esta lição..  

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 9 de abril de 1988)


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