Era
dos seqüestros está chegando ao fim
Pedro J. Bondaczuk
O seqüestro do Jumbo da Kuwait Airways, que já dura,
praticamente, três dias consecutivos, está sendo um dos mais dramáticos dos
últimos tempos. Aliás, operações desse tipo sempre são. Quem age dessa maneira
está disposto a tudo. Em geral, ou o ato de pirataria é obra de loucos, ou de
fanáticos, o que vem a dar na mesma.
O Irã perdeu uma preciosa oportunidade de ganhar
alguns pontinhos a mais, em termos de prestígio internacional, ao acabar cedendo
às ameaças dos terroristas e deixa-los decolar do Aeroporto de Mashhad. Já no
Líbano, os extremistas não tiveram a mesma facilidade que outros seqüestradores
gozaram no passado. Tudo por causa da decisão Síria, cujas tropas controlam boa
parte de Beirute, de não aceitarem que esse problema ficasse a seu encargo.
Damasco, de uns tempos para cá, está empenhada em
limpar um pouco a sua imagem, após seu regime ter entrado em confronto com a
Grã-Bretanha no ano passado. O presidente Hafez Assad pretende, a todo o custo,
apagar qualquer impressão de que seu país seja um Estado patrocinador do
terrorismo.
Aliás, essa mesma atitude vem sendo adotada,
ultimamente, pelo Irã e pela Líbia. É comum aos três países que ficaram
marcados pela comunidade internacional com essa incômoda fama e que, por isso,
tiveram enormes prejuízos, não somente de ordem política, mas, sobretudo,
material. Sofreram duras sanções econômicas do Ocidente, que fizeram o seu
efeito. Trouxeram sírios, iranianos e líbios à realidade.
O perigo, no atual seqüestro, é o desespero que
parece estar tomando conta dos seqüestradores. Com toda a certeza, eles achavam
que as coisas iriam correr como no passado. Ou seja, que fariam um punhado de
reféns e que, para salvaguardar a vida desses cativos, o Kuwait iria ceder, de
imediato, à chantagem e libertar os 17 xiitas condenados, eméritos terroristas,
gente perigosa e disposta a tudo, que ele pretendem que sejam soltos.
Deram-se mal, no entanto. Os kuwaitiannos, como
tantos outros governos que um dia cederam à chantagem, compreenderam ser inútil
fazer concessões ao terror. Atitudes fracas sempre acabaram redundando, em
outros tempos, em novos atentados, seqüestros e assassinatos.
As concessões anteriores é que fizeram o sucesso do
terrorismo. Resta saber quem irá resgatar os reféns. Quem conseguir esse feito,
mesmo que haja vítimas na operação de resgate, estará prestando um grande
serviço à aviação civil, desestimulando novos atos deste tipo e tornando, de
vez, os vôos absolutamente seguros e a salvo de surpresas, como essa.
A era dos grandes seqüestros de avião já passou. Só
os infelizes piratas aéreos (provavelmente xiitas libaneses) ainda não sabem
disso. E, pelo visto, irão aprender por métodos muito dolorosos esta
lição..
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do
Correio Popular, em 9 de abril de 1988)
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