Informações da guerra não são confiáveis
Pedro J.
Bondaczuk
Os historiadores do futuro, se tiverem que escrever sobre
o início da Guerra do Golfo Pérsico baseados apenas nas informações divulgadas
de quarta-feira para cá, terão dificuldades enormes para conciliar os fatos e
dar uma conformação lógica ao seu texto.
Foram ditas e escritas tantas
bobagens a respeito da batalha aérea nos céus de Bagdá, a maior da história
pelo volume de aeronaves empregadas, que dificilmente o pesquisador irá
utilizar as fontes convencionais para realizar o seu trabalho.
Há determinadas notícias acerca
da luta que são de tamanha inverossimilhança, que sequer é necessário que
alguém tivesse estado presente no cenário do acontecimento para intuir que ele
não pode ter ocorrido conforme foi narrado.
Por exemplo, não se concebe que
numa ofensiva envolvendo cerca de 1.300 caças e bombardeiros, contra um país de
18,3 milhões de habitantes e com 1,1 milhão de homens em armas, uma, somente
uma única e solitária aeronave tenha sido abatida pelas baterias anti-aéreas
iraquianas.
É até possível que as pessoas,
por distração ou desinformação, o que é mais provável, tenham aceitado esta
versão, sem se deter para refletir. Será, porém, que o historiador do futuro
irá registrar este fato, sem procurar verificar a sua exatidão, de tão insólito
que ele é? Informação é algo muito sério para ser tratada descuidadamente.
Quanto mais exata ela for, maiores condições a opinião pública terá para
fiscalizar os excessos dos desequilibrados e dos irresponsáveis que
eventualmente assumam os nossos destinos.
Respeita-se a necessidade de
sigilo em algumas questões, por razões estratégicas. Nestes casos, porém, é
preferível o silêncio do que o exagero que, por ser inverdade, tende a provocar
o descrédito. A guerra é um fenômeno que, embora desgraçadamente comum na
história da humanidade, às vezes se torna inevitável, como é o caso da legítima
defesa de um povo diante da iminência de sua destruição.
Mas não é uma diversão, um show,
um mero jogo. Albert Schweitzer, Prêmio Nobel da Paz de 1952, assinalou que
“quem quer que se regozije com a vitória (numa guerra) pode regozijar-se também
com o assassínio”.
Nenhuma circunstância é capaz de
tornar o ato de tirar vidas moral. A notícia inverossímil tende a abrir espaço
para boatos, que por sua vez fermentam inquietações sociais e podem provocar
explosões populares de pânico. E isto representa muito maior risco para as
pessoas e as comunidades do que o fornecimento correto de baixas registradas no
decorrer de um determinado confronto.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 19
de janeiro de 1991).
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