Beco sem saída
Pedro J. Bondaczuk
O
terrorismo, ao lado da corrida armamentista nuclear e da produção e tráfico de
drogas, é um dos mais graves problemas que a humanidade precisa equacionar, se
não quiser chegar a um beco sem saída e até à própria destruição. Por si só é
uma ameaça notável à estabilidade e paz internacionais. Imaginem quando os três
flagelos ocorrem juntos, ao mesmo tempo!
Uma
ação impensada, num momento de grande crise, cometida por algum dos grupos
guerrilheiros mais atuantes, pode, perfeitamente, ter como desfecho um conflito
mais amplo, até mesmo total. É forçoso que nunca se perca de vista que foi por
causa de um atentado que o mundo viveu a Primeira Guerra Mundial. A Segunda foi
apenas uma decorrência natural da solução equivocada encontrada para pôr termo
à conflagração anterior. E a Terceira, como será?
A
possibilidade de grupos terroristas apossarem-se de armamentos nucleares é
muito maior do que a maioria das pessoas pensa. Quando em 1979, numa de nossas
costumeiras análises sobre a questão levantamos essa hipótese, fomos chamados
de alarmistas por alguns e até ridicularizados por outros, que julgavam tal
possibilidade fantasiosa demais para sequer ser levada a sério. Agora,
entidades de reconhecido conhecimento na matéria e prestígio internacional vêm
de divulgar um estudo, alertando os governos para que se precavenham exatamente
contra isso.
Os
terroristas podem conseguir suas bombas atômicas de diversas maneiras. Uma
delas (provavelmente a mais difícil) é roubando uma. Todavia, embora os
esquemas de segurança montados para evitar essa inimaginável ocorrência sejam
quase que perfeitos, nunca se pode afirmar que não possam ser superados. Não há
planos, organizações e nem sistemas infalíveis. As tragédias acontecem quando
menos se espera e quando não existe indício algum de que haja falhas nos
esquemas montados para evitar que ocorram. Certamente ainda deve estar bem
fresco na memória de todos aquilo que ocorreu na usina eletronuclear de
Chernobyl, na União Soviética.
Uma
outra forma, até mais simples, para que entidades que se dedicam ao terror como
forma de modificar a sociedade obterem suas bombas atômicas é de elas mesmas
fabricarem um artefato caseiro. As dificuldades para isso são muito menores do
que a maioria imagina. Ainda mais quando esses grupos contam com o apoio
(velado, obviamente) de Estados, que lhes concedem condições materiais e
respaldo político para que possam atuar com relativa liberdade.
No
seu livro "Terrorism: How de West Can Win", o embaixador israelense ante
as Nações Unidas, Benjamin Netanyahu, assinala a esse propósito: "Esses
regimes podem desenvolver e obter meios de destruição, convencionais, químicos
ou nucleares, que as entidades extremistas mais sofisticadas não podem
alcançar. E se acreditarem que lhes é factível golpearem impunemente a seus
inimigos (por essa razão é que atuam através de meios clandestinos, como o
terrorismo), acrescentarão, sem medo, essas armas à ferocidade de seus ataques
e alterarão, inclusive, a natureza dos conflitos armados. Não é possível de se
excluir que o umbral da guerra nuclear seja cruzado algum dia por erro de
cálculo do governante de um país desse tipo. Imaginemos a um Khadafy ou a um
Khomeini com armas nucleares!"
E
essa hipótese não é tão absurda como muitos procuram dar a entender. Mas não
são apenas a Líbia e o Irã os Estados que podem facilitar a algum grupo
terrorista a obtenção de bombas atômicas. Nem é preciso, frise-se, que alguém
lhes facilite isso. Não seria mais surpresa para ninguém, principalmente para
aqueles que se interessam por questões de segurança, se amanhã ou depois
circulasse a informação que alguma facção se apossou espetacularmente de um
desses artefatos. Principalmente depois que o seleto "Clube Atômico"
se ampliou e que pelo menos oito novos membros estão próximos de nele
ingressar.
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 26 de junho de
1986)
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