Monday, May 02, 2016

Beco sem saída


Pedro J. Bondaczuk


O terrorismo, ao lado da corrida armamentista nuclear e da produção e tráfico de drogas, é um dos mais graves problemas que a humanidade precisa equacionar, se não quiser chegar a um beco sem saída e até à própria destruição. Por si só é uma ameaça notável à estabilidade e paz internacionais. Imaginem quando os três flagelos ocorrem juntos, ao mesmo tempo!

Uma ação impensada, num momento de grande crise, cometida por algum dos grupos guerrilheiros mais atuantes, pode, perfeitamente, ter como desfecho um conflito mais amplo, até mesmo total. É forçoso que nunca se perca de vista que foi por causa de um atentado que o mundo viveu a Primeira Guerra Mundial. A Segunda foi apenas uma decorrência natural da solução equivocada encontrada para pôr termo à conflagração anterior. E a Terceira, como será?

A possibilidade de grupos terroristas apossarem-se de armamentos nucleares é muito maior do que a maioria das pessoas pensa. Quando em 1979, numa de nossas costumeiras análises sobre a questão levantamos essa hipótese, fomos chamados de alarmistas por alguns e até ridicularizados por outros, que julgavam tal possibilidade fantasiosa demais para sequer ser levada a sério. Agora, entidades de reconhecido conhecimento na matéria e prestígio internacional vêm de divulgar um estudo, alertando os governos para que se precavenham exatamente contra isso.

Os terroristas podem conseguir suas bombas atômicas de diversas maneiras. Uma delas (provavelmente a mais difícil) é roubando uma. Todavia, embora os esquemas de segurança montados para evitar essa inimaginável ocorrência sejam quase que perfeitos, nunca se pode afirmar que não possam ser superados. Não há planos, organizações e nem sistemas infalíveis. As tragédias acontecem quando menos se espera e quando não existe indício algum de que haja falhas nos esquemas montados para evitar que ocorram. Certamente ainda deve estar bem fresco na memória de todos aquilo que ocorreu na usina eletronuclear de Chernobyl, na União Soviética.

Uma outra forma, até mais simples, para que entidades que se dedicam ao terror como forma de modificar a sociedade obterem suas bombas atômicas é de elas mesmas fabricarem um artefato caseiro. As dificuldades para isso são muito menores do que a maioria imagina. Ainda mais quando esses grupos contam com o apoio (velado, obviamente) de Estados, que lhes concedem condições materiais e respaldo político para que possam atuar com relativa liberdade.

No seu livro "Terrorism: How de West Can Win", o embaixador israelense ante as Nações Unidas, Benjamin Netanyahu, assinala a esse propósito: "Esses regimes podem desenvolver e obter meios de destruição, convencionais, químicos ou nucleares, que as entidades extremistas mais sofisticadas não podem alcançar. E se acreditarem que lhes é factível golpearem impunemente a seus inimigos (por essa razão é que atuam através de meios clandestinos, como o terrorismo), acrescentarão, sem medo, essas armas à ferocidade de seus ataques e alterarão, inclusive, a natureza dos conflitos armados. Não é possível de se excluir que o umbral da guerra nuclear seja cruzado algum dia por erro de cálculo do governante de um país desse tipo. Imaginemos a um Khadafy ou a um Khomeini com armas nucleares!"

E essa hipótese não é tão absurda como muitos procuram dar a entender. Mas não são apenas a Líbia e o Irã os Estados que podem facilitar a algum grupo terrorista a obtenção de bombas atômicas. Nem é preciso, frise-se, que alguém lhes facilite isso. Não seria mais surpresa para ninguém, principalmente para aqueles que se interessam por questões de segurança, se amanhã ou depois circulasse a informação que alguma facção se apossou espetacularmente de um desses artefatos. Principalmente depois que o seleto "Clube Atômico" se ampliou e que pelo menos oito novos membros estão próximos de nele ingressar.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 26 de junho de 1986)


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